Gustavo Veloso: "Estou a terminar uma carreira e ainda não acabei de pagar a casa"
ENTREVISTA PARTE II - Fez 12 dos 20 anos de carreira em Portugal, foi seis vezes ao pódio da Volta e liderou a W52-FC Porto cinco épocas. Faz hoje a sua última etapa, no Grande Prémio JN, e despediu-se em entrevista a O JOGO
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Gustavo Veloso não sabe o que vai fazer. Parte rico em experiências, não em dinheiro, que tem a casa por pagar
Que vai fazer agora?
-Sei lá! Para já vou desfrutar de um tempo com a família e depois pensar nisso. Gostava de continuar ligado à modalidade, mas há muitas formas de o fazer. Pode ser numa estrutura profissional ou numa escola de ciclismo, como treinador. Não vou ter pressa.
De que mais gostou no ciclismo?
-A oportunidade de conhecer pessoas. Cumprir o sonho de correr Volta a Portugal, a Espanha e a Itália, de estar ao lado dos meus ídolos de criança, das viagens que fiz com o ciclismo. Tudo isso é riqueza.
"F... Isso não! Saio menos pobre do que entrei. Estou a terminar uma carreira e ainda não acabei de pagar uma casa. O meu palmarés, em tempos mais antigos, valeria muito dinheiro"
Também sai rico em dinheiro?
-F... Isso não! Saio menos pobre do que entrei. Estou a terminar uma carreira e ainda não acabei de pagar uma casa. O meu palmarés, em tempos mais antigos, valeria muito dinheiro. Mas apanhei épocas com ordenados sempre a descer. Melhorou um bocadinho quando entraram FC Porto e Sporting, mas só um bocadinho. Dá para viver, talvez viver bem, mas nenhum ciclista do pelotão português vai embora rico.
Foram 12 épocas em Portugal, marcadas por uma paixão pela Volta a Portugal. Gustavo Veloso já se sente cidadão de dois países e dá um conselho a todos os atletas que estão em equipas portuguesas
"Falar português é uma questão de respeito"
Podemos dizer que é o mais português dos ciclistas espanhóis?
-O Alejandro Marque anda por cá há tantos ou mais anos do que eu. Estou confortável neste país e já nem sei se falo português ou galego. Sinto-me tão português como espanhol.
Tentou sempre falar português, mas nunca perdeu o sotaque...
-Tenho uma dificuldade: o galego é muito parecido e misturamos os idiomas. Há palavras que são iguais, mas soam de forma diferente. Só conseguiria um português perfeito se vivesse mesmo cá. É como com os brasileiros.
Aconselharia os atletas espanhóis que vêm para Portugal sobre a importância de falar a língua?
-Ser ou não atleta pouco importa: devemos falar português por uma questão de respeito. Se estou a trabalhar numa equipa portuguesa devo fazê-lo. A melhor forma de integração é pelo idioma. Eu sou o que vem de fora, tenho de me adaptar. Quando vamos a Inglaterra, falamos inglês.
Como surgiu a paixão pela Volta a Portugal?
-Fiz-me profissional em 2001, pelo Boavista. Era jovem, estive lá três anos e só em 2003 consegui correr a Volta a Portugal e fiquei impressionado. Com tudo. A organização, a corrida em si, a velocidade, ver tantos adeptos na estrada, ter aquele entusiasmo na Senhora da Graça... Por onde passa a Volta, é uma festa. Isso cria a paixão. Nunca imaginava, naquela altura, que iria um dia discutir a Volta, mas evoluí como atleta. Fiz uma carreira em Espanha, melhorei as minhas prestações e voltei em 2006 para ganhar uma etapa e vestir a camisola amarela. Quando regressei, mais tarde, já tinha Voltas a Espanha e Itália. Como fiquei sem equipa e queria continuar a correr, decidi regressar para discutir a Volta. Na altura a decisão era: se correr bem, continuo; caso contrário, faço um ano ou dois e termino a carreira. Foi até hoje...