Sem criticar o antecessor, o treinador de basquetebol do Benfica explica que a defesa e a partilha no ataque são as novas marcas identitárias. Quer ficar muitos anos, mas assume que os títulos são fulcrais
Corpo do artigo
Arturo Álvarez, treinador revelação da LEB Ouro (segundo escalão em Espanha), prestou a O JOGO a primeira entrevista a um desportivo em Portugal como líder do basquetebol do Benfica. Recebeu-nos no escritório da Luz e explicou como mantém os encarnados invictos.
Como surgiu a hipótese de treinar o Benfica?
No período de verão, mal acabou a época em Espanha, ficas atento ao telemóvel. Vim a uma entrevista. Adorei o projeto do Benfica. Estabeleceram a meta de ganhar os títulos em Portugal, apresentando-me os meios à disposição. Gostei e foi rápida a decisão.
"Vi todos os jogos da meia-final do play-off do campeonato com o FC Porto. Foi muito equilibrado. O Benfica poderia ter resolvido nos últimos segundos. Um cesto muda o destino de um clube"
Via jogos da equipa?
Não te consegues distanciar quando já cá estiveste a treinar [esteve no Barreirense]. Vi todos os jogos da meia-final do play-off do campeonato com o FC Porto. Foi muito equilibrado. O Benfica poderia ter resolvido nos últimos segundos. Um cesto muda o destino de um clube.
O que quis mudar?
Estabeleci um caminho. Os campeonatos podem ser ganhos, tendo a defesa como primeiro objetivo. Queremos uma equipa mais solidária que partilhe a bola no ataque. Já conseguimos um jogo com 38 assistências. É muito difícil de encontrar. Todos os atletas contam para mim ao ataque.
Isso faltou no ano passado?
Se for ao top 10 dos marcadores do campeonato, não encontra nenhum jogador do Benfica. Não sei se no acontecia... Não me interessa que um jogador marque pontos e a equipa perca. Benfica não conhece a derrota até agora [toca na madeira] e os jogadores, exceção do Cláudio Fonseca nos desarmes, não lideram nenhuma classificação individual. Todos trabalham para todos. E isso é uma filosofia diferente de outros treinadores, sem falar concretamente do anterior técnico do Benfica.
Qual é o seu estilo de liderança?
Sou exigente a cada minuto de trabalho. O esforço é inegociável. Não me incomoda que se falhe um lançamento, mas o atleta tem de dar o máximo. Fora de campo, tento ser próximo dos jogadores. Lá dentro, temos de estabelecer a distância entre jogador e treinador.
Acha que um contrato de um ano permite mostrar a valia de um treinador?
Assinei por um ano, foco-me em cada época e não penso em nada além de ganhar o que me propus vencer.
O Benfica exigiu-lhe essa duração?
Foi aceite pelas duas partes. Um treinador chega e demonstra, fica. Não o faz, sai.
"Primeiro, adoro a pressão de ser campeão. Oxalá possa estar muitos anos em muitos clubes onde exista essa pressão"
Sente que ser campeão é fulcral para continuar?
Primeiro, adoro a pressão de ser campeão. Oxalá possa estar muitos anos em muitos clubes onde exista essa pressão. Muitos treinadores desejariam estar na minha posição. Ganhar torna mais fácil ficares num clube mais anos e, neste momento, o meu matrimónio é com o Benfica.
Ganhar a Taça Hugo dos Santos permitirá embalar?
Queremos assaltar os três títulos e acredito que pode ajudar a chegar aos outros dois. A final da liga é objetivo e o mais importante da época.
"Micah Downs é jogador de alto nível europeu"
Micah Downs tem sido a sensação da Liga. Até onde pode ir?
É um jogador de alto nível, não de Portugal, mas da Europa. Foi o melhor rookie na liga espanhola. Uma casualidade de mercado fez com que pudesse estar disponível para esta mudança grande no plantel. É esforçado e é um luxo para Portugal tê-lo.
"Ele já nos disse que adora Lisboa, mas não escondo: os melhores jogadores merecem os melhores clubes"
Acha que é possível Downs ficar na próxima época?
Tem contrato até final da temporada. Todo o scouting prepara o recrutamento. Ele já nos disse que adora Lisboa, mas não escondo: os melhores jogadores merecem os melhores clubes.
Rey e Suárez podem ser "reforços" importantes?
Rey foi poste secundário de Marc Gasol e será decisivo na área do garrafão em Portugal. Teve uma rotura e é lesão incómoda. Está a chegar ao ritmo
dos portugueses. Suárez já foi decisivo contra o FC Porto, com quatro triplos em quatro tentativas. Abre muito bem o jogo. Em fevereiro vamos ver esta dupla de espanhóis em grande.
O Snider não correspondeu? E Cantero é solução?
Snider sentiu a pressão de ser o base do Ben ca, de comandar uma equipa destas. Nunca tinha saído dos Estados Unidos e está habituado a um basquetebol diferente. Saiu por mútuo acordo. Joguei contra Cantero em 2010, na Colômbia [treinava o Paraguai e defrontou a Argentina], e é um computador no campo. Tem uma boa mão para três pontos. Complementa o Miguel Maria, que está a fazer a melhor época no Ben ca e foi chamado à Seleção. São a melhor dupla de bases que o Ben ca podia ter. Luís Filipe Vieira disse querer 25% do plantel composto pela formação. Encontrei um nível de êxito: já acabámos um jogo com quatro deles [Rafael Lisboa, Fatuda, Gonçalo Delgado e Diogo Carvalho].
"Vejo mais forte o Benfica. A história diz que a Oliveirense é campeã e que o FC Porto tem um prestígio importantíssimo"
"Arbitragem não decidiu jogo algum"
Derrotou Oliveirense e FC Porto. Quem está mais forte?
Vejo mais forte o Benfica. A história diz que a Oliveirense é campeã e que o FC Porto tem um prestígio importantíssimo, mas não se pode esquecer os outros. A Oliveirense manteve o plantel e está mais sólida. O FC Porto sofreu alguns ajustes, mas vai focarse na liga e crescerá muito. Em março, vamos estar no mesmo patamar para discutir títulos.
O que pensa de Moncho López, seu compatriota?
Gostava de estar aqui tantos anos [dez] como ele. Seria sinónimo de que estariam a correr bem as coisas. Foi selecionador de Portugal, Espanha e Angola e é respeitado por todos. É um cavalheiro.
Houve críticas quanto à arbitragem. Como compara com Espanha?
Há imensos árbitros internacionais e a evolução na arbitragem portuguesa foi das surpresas mais agradáveis. Assisto a todos os jogos e não vi nenhum que tenha sido ganho ou perdido pela arbitragem.