Filipa Martins, o encontro com Nadal e a foto com Serena: "Pareceu um bocado arrogante"
ENTREVISTA >> Filipa Martins não gosta de programar nada a "longo prazo", mas quer ir a mais uma edição dos Jogos, tendo, pelo meio, outras metas. Para lá de 2024, quer preservar o corpo
Corpo do artigo
Tem passado os dias na faculdade, a recuperar aulas perdidas, mas a ginástica continua a ser a prioridade da atleta portuense.
Pode dizer se pretende ir aos Jogos de Paris"2024?
-Sim, posso. É um objetivo um bocadinho a longo prazo, nunca penso muito lá à frente, não sabemos o dia de amanhã. Agora é pensar dia a dia, recuperar deste ano, focar um pouco mais na faculdade [Ciências do Desporto, na FADEUP], que é aquilo que eu tenho tentado fazer, a ver se acabo de uma vez. Eu queria ter acabado no ano passado, mas como os Jogos foram adiados, adiei também mais um ano a faculdade e, como no próximo ano as competições começam mais tarde, apenas no fim de junho, isso será bom para fazer o segundo semestre.
Então quais são próximos objetivos?
-O campeonato da Europa, os Jogos do Mediterrâneo e o campeonato do Mundo. Depois é pensar no apuramento para os Jogos e a seguir pensar neles apenas depois do apuramento.
Desculpe insistir: mas os Jogos de Paris são então uma meta da Filipa?
-Sim, sim! A verdade é que Paris está na minha cabeça e só tenho de esperar três anos e não quatro. Por que não tentar? Depois dos Jogos do Rio também disse que ia desistir e, afinal, continuei. Se não tivesse continuado, não teria feito este ano que fiz.
Foi a um campeonatos do Mundo em relação ao qual a participação chegou estar em dúvida, mas agora, apesar de ainda faltarem três anos, reconhece que quer ir aos Jogos Olímpicos de Paris"2024
Bom, depois de Paris ainda vai pensar em Los Angeles"2028...
-(risos). Não! Aí não! Já terei 32 anos e será melhor não exagerar. Ainda quero ter corpo para viver o resto da vida.
A ginástica de alto nível faz doer muito o corpo, não é?
-São mazelas que quase todos os desportistas de alto rendimento devem ter, devem sentir dor, devem sofrer. Como tudo na vida, se não sofrermos um bocado, não conseguimos atingir aquilo que queremos. Em tudo é preciso trabalho, dedicação, esforço e, como na ginástica estamos habituados desde criança, às vezes até parece que nem sentimos.
Foi operada ao pé direito quatro vezes. O que aconteceu?
-A primeira foi em 2011, numa altura em que fazia muitas entorses e estava quase a romper o ligamento externo, a segunda foi uma fratura de stress antes dos Jogos do Rio, fui para lá assim e decidimos só operar a seguir, depois algo correu mal e passado uma semana rompi uma artéria e, em 2018, voltei a ser operada para fazer limpeza e ver como é que estava.
São as tais mazelas de que fala...
-Sim... Claro que nunca ficou um pé normal depois disso, tenho sempre limitações de movimento e dor.
No simples caminhar?
-Agora já não, mas foram anos e anos de fisioterapia e reposicionamento. O meu dia precisava de mais 24 horas para conseguir fazer tudo.
E atrapalha na competição ainda hoje?
-Também já não. Claro que em dias de mais carga o pé incha um pouco e sinto mais dores, mas consigo fazer tudo sem aquela dor insuportável de ter tomar coisas todos os dias para treinar e competir.
"Depois dos Jogos do Rio também disse que ia desistir e, afinal, continuei. Se não tivesse continuado, não teria feito este ano que fiz"
"Nadal veio ter comigo e agradeceu"
Para os Jogos do Rio viajou no cockpit com Rafael Nadal. O rei do desporto espanhol sabia que ia ao lado da rainha da ginástica portuguesa?
-Não, porque na altura ainda não era (gargalhada). Só estava a começar a ser... Mas foi engraçado porque eu sempre o vi como ídolo, pela carreira, por tudo o que conquistou e, nos Jogos, fui ver um encontro dele e no final fui dar-lhe os parabéns. Ele estava a ignorar quase toda a gente, mas veio ter comigo e agradeceu.
São outras coisas boas do desporto, não é?
-Sim, mas também há más. Nos mesmos Jogos fui tirar uma foto com a Serena Williams e ela pareceu um bocado arrogante, mas se calhar estava farta de tirar fotos.