Perante caso W52-FC Porto, FPC recorda convénio de autorregulação para Volta a Portugal
A nota chega numa altura em que, por práticas dopantes, estão suspensos preventivamente oito ciclistas da equipa W52-FC Porto.
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A Federação Portuguesa de Ciclismo (FPC) lembrou a assinatura de um convénio de autorregulação entre a Volta a Portugal, 10 equipas portuguesas e a Associação Portuguesa de Ciclistas Profissionais, em torno da "exclusão de prevaricadores" da corrida.
Num comunicado que visa reafirmar "o compromisso com os princípios da ética, do espírito e da verdade desportiva", a FPC lembra que esse convénio, motivado pela FPC, foi "por todos assinado livremente e de boa-fé", assentando "na criação de um mecanismo de autorregulação e exclusão de prevaricadores da Volta a Portugal".
"Como fator de dissuasão de práticas que subvertem a verdade desportiva, apostando numa consciencialização de todos os agentes envolvidos e numa tão desejada, mas sempre inalcançada, reforma de mentalidades", acrescentam.
A nota chega numa altura em que, por alegadas práticas dopantes, estão suspensos preventivamente oito ciclistas da equipa W52-FC Porto, que tem dominado a prova rainha do calendário velocipédico nacional e está, ainda assim, inscrita para alinhar à partida, em 04 de agosto.
"É compreensível que, em tempos como os que se vivem, se multipliquem opiniões no espaço público. No entanto, a FPC, consciente da sua responsabilidade única, não mandatou nem mandatará qualquer personalidade ou entidade para intervir em representação da Federação ou do ciclismo", nota aquela instituição.
Assumindo "a responsabilidade de encarar a realidade com a necessária prudência", a FPC "acredita no mérito e importância do convénio", e que "todos estarão à altura do compromisso que assumiram quanto à proteção e valorização do ciclismo profissional em Portugal".
Apesar da "prudência", "não abdica esta Federação de manifestar os seus princípios, entre os quais sobressai a defesa de um ciclismo e de um desporto limpos de qualquer tentativa de adulteração da verdade desportiva".
No Convénio, a que a Lusa teve acesso, é detalhada num dos capítulos a possibilidade de "impedimento de participação por motivo relacionado com doping", que elenca também a possibilidade de a Podium, que organiza a Volta, poder anular a inscrição, ou não convidar, qualquer equipa por infração dos pressupostos.
Entre eles estão a existência de notificação por um resultado positivo em amostra B (ou em amostra A se o ciclista prescindir da contra-análise) de um ciclista de uma das equipas, ou a instauração de um processo disciplinar por motivos relacionados com a luta antidopagem.
Entre uma série de outros pressupostos médicos que possam configurar "episódios potencialmente excludentes" da prova, além da contratação de profissionais que sejam arguidos em processos de antidopagem, com uma absolvição a anular quaisquer ações.
No documento assinado em novembro de 2021, que reforça não se substituir aos regulamentos e legislação em vigor, é dada à Podium a possibilidade, e a decisão, de não convidar ou anular a inscrição de qualquer equipa com "dois ou mais episódios potencialmente excludentes" entre 1 de julho do ano anterior e 30 de junho do ano corrente, ou três ou mais começando no segundo ano precedente à edição a que se reporta.
Em 15 de julho, oito ciclistas e dois elementos do staff da W52-FC Porto foram suspensos preventivamente pela Autoridade Antidopagem de Portugal (ADoP) no âmbito da operação Prova Limpa.
No dia seguinte, a identidade de seis desses ciclistas foi conhecida quando os mesmos foram impedidos de alinhar na terceira etapa do Grande Prémio Douro Internacional, que acabou por ser conquistado por José Neves, o único representante da equipa que continuou em prova.
Foram afastados Ricardo Vilela e José Gonçalves, além de quatro antigos vencedores da Volta a Portugal: João Rodrigues (2019), Rui Vinhas (2016), Ricardo Mestre (2011) e Joni Brandão, que "herdou" a vitória na edição de 2018 depois da desclassificação, por doping, do também "dragão" Raúl Alarcón.
Na sexta-feira, a organização da Volta a Portugal confirmou a presença da W52-FC Porto na 83.ª edição da prova, que decorre entre 4 e 15 de agosto, entre Lisboa e Gaia, com o diretor, Joaquim Gomes, a argumentar que a equipa não está suspensa e que poderia participar com outros corredores contratados na "janela de novas inscrições", que abre em 01 de agosto.
Além dos ciclistas que alinhavam no GP Douro Internacional, a W52-FC Porto conta ainda nas suas fileiras com Amaro Antunes, três vezes vencedor e bicampeão em título da Volta (2021, 2020 e 2017), Jorge Magalhães, Samuel Caldeira e Daniel Mestre, estes últimos também suspensos.
No final de abril, 10 corredores da W52-FC Porto foram constituídos arguidos e o diretor desportivo da equipa, Nuno Ribeiro, foi mesmo detido, assim como o seu adjunto, José Rodrigues, no decurso da operação "Prova Limpa", a cargo Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) do Porto.
A estrutura W52, ligada ao FC Porto há seis épocas, venceu as últimas nove edições da Volta a Portugal, mas os triunfos do seu corredor espanhol Raúl Alarcón, em 2017 e 2018, foram-lhe retirados também por "uso de métodos e/ou substâncias proibidas".
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