Sprinter Fabio Jakobsen não perde o ânimo, estando preparado para uma dura batalha para ver resolvidos os problemas graves que sofreu na queda da Volta à Polónia
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Fabio Jakobsen, sprinter da Deceuninck-Quick Step, teve a vida em risco após uma queda num sprint na Volta a Polónia, de agosto, e conta como terá um ano pela frente para poder sonhar em voltar ao ciclismo. "Sofri uma contusão cerebral, fraturas no crânio, no nariz e fiquei sem paladar... Dez dentes perdidos e parte da mandíbula superior e inferior desaparecida. Cortes na cara e na orelha. Um dedo partido. Contusão no ombro, pulmão... Um nervo do cordão vocal afetado. Nádegas bastante arranhadas...", afirma o holandês, ainda brincando com a infelicidade na primeira grande entrevista desde o acidente, no caso ao jornal "AD": "O primeiro impacto foi na minha cara, mas depois atingi aquele homem com o meu rabo. E isso foi a minha sorte... tenho um grande rabo!"
"Dez dentes perdidos e parte da mandíbula superior e inferior desaparecida. Cortes na cara e na orelha. Um dedo partido. Contusão no ombro, pulmão... Um nervo do cordão vocal afetado"
De seguida, lembrou o pânico no hospital: "Pensei que estava a morrer. Estava a lutar, derrotado, sentia pânico. Foram os dias mais largos da minha vida. Nunca tinha sofrido tanto. Prefiro fazer três Grande Voltas de seguida do que passar um dia nos cuidados intensivos. Estava lá deitado como um zombie, como se fosse de outro planeta. Mas ao mesmo tempo conseguia pensar nas coisas. Ouvi e vi o que se estava a passar à minha volta. No quarto ao lado estava outro paciente. Do nada soa um alarme durante muito tempo. Depois calou-se e uns minutos depois começo a ouvir um daqueles carrinhos a ser empurrado no corredor. Daqueles que levam os corpos para a morgue... Percebi logo: isto é grave. As pessoas morrem aqui".
"Do nada soa um alarme durante muito tempo. Depois calou-se e uns minutos depois começo a ouvir um daqueles carrinhos a ser empurrado no corredor. Daqueles que levam os corpos para a morgue... Percebi logo: isto é grave. As pessoas morrem aqui"
"Sabe, fui visitado por um padre por duas vezes. Perguntaram-me se ele se podia sentar na cama e eu apenas acenei. Não sou religioso, mas pensei 'mesmo que não funcione, mal não fará'. Teria agido da mesma forma se tivessem enviado outra pessoa. Estava desesperado, só queria ficar vivo. Não faço ideia do que ele me disse. Estava a ler algo num livro em italiano. Talvez tenha rezado pela minha sobrevivência, mas tanto quanto sei estava a arranjar um lugar para mim no paraíso", continuou, abordando um processo longo: "Ainda tenho um lábio com a marca do embate e o meu nariz parece que saí de uma luta com o Mike Tyson. Mas o maior dano é cá dentro. No próximo mês de fevereiro vou sempre operado de novo e ter implantes para reconstruir os meus dentes. É um processo que vai demorar, talvez no próximo outono volte a ter dentes".
A namorada Delore comentou a dor: "Estava a fazer outras coisas quando o meu pai começar a gritar da cozinha a dizer que o Fabio ia na frente e que ia ganhar. Então fui logo ver. Vi-o a sprintar, a desviar-se e do nada vejo-o do outro lado das barreiras. Foi tudo tão rápido. Na repetição vi que ele tinha atingido um homem e embatido na barreira da meta, o capacete a voar... Soube logo que era grave. Liguei ao médico da equipa, mas ele não me conseguia dizer nada, exceto que o Fabio estava inconsciente. No Twitter só lia histórias horríveis. Na mesma noite toca o telefone, era o médico da equipa. Deixei tocar por uns segundos, com medo de atender. Estava com medo de ter más notícias, de que o Fabio tinha morrido".