Sete das 18 equipas World Tour são financiadas por bilionários e alguns até dispensam a divulgação das próprias empresas. A "moda" começou com a Tinkoff, mas os atuais patrões são mais discretos.
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Dariusz Milek, Igor Makarov e Zdenek Bakala pouco dizem a quem acompanha o desporto e, caso estejam hoje pelo Algarve, praticamente ninguém os conhecerá, mas têm duas importantes características em comum: são bilionários e pagam três das principais equipas da competição portuguesa mais importante do calendário internacional. Milek é polaco e tem uma cadeia de sapatarias chamada CCC, patrocinando a equipa liderada no Algarve por Amaro Antunes (e tendo no campeão olímpico Greg Van Avermaet a maior estrela), Makarov é um bilionário russo com múltiplos interesses e criador da equipa a que chamou Katusha - tendo José Azevedo como manager e Rúben Guerreiro e José Gonçalves como corredores - e Bakala é um checo que já esteve na lista da Forbes como um dos homens mais ricos do mundo e tem como passatempo gerir a Deceuninck-Quick Step, a equipa mais vitoriosa da atualidade.
0,5% - Dariusz Milek, polaco dono da CCC, diz que apenas gasta no ciclismo 0,5% dos lucros da sua rede de sapatarias e que graças a isso tem visibilidade a nível mundial
A atração dos bilionários pelo ciclismo, sendo muito semelhante à de Roman Abramovich e outros pelo futebol - embora mais barata... -, não é de agora e ainda recentemente teve um nome muito famoso, Oleg Tinkov. O banqueiro russo que até 2016 pagou a Tinkoff, equipa onde se destacava Alberto Contador, fez-se notado pelas polémicas e exuberância - levou corredores às provas no seu jato privado e pediu para as equipas parte do "bolo" das transmissões televisivas, mas acabou por sair entre insultos à sua estrela espanhola.
A atual geração de financiadores está no polo oposto. São geralmente discretos e, esta a real novidade, em número nunca antes visto.
Além de CCC, Katusha-Alpecin e Deceuninck, também a Mitchelton-Scott é paga pelo australiano Gerry Ryan, que começou por vender autocaravanas e agora tem uma empresa de vinhos que lhe permite manter uma equipa no World Tour; a Bahrain-Merida é sobretudo o "Príncipe Nasser", ou mais propriamente Nasser bin Hamad Al Khalifa, o xeque de 31 anos com formação britânica que procura dar uma melhor imagem do seu país através do ciclismo; a UAE Emirates, equipa de Rui Costa, nasceu graças a Matar Suhail al Yabhouni al Dhaheri, homem de negócios e espécie de ministro do desporto do seu país que salvou a antiga equipa Lampre; e até a EF Education First, primeira escola de línguas a dar o nome a uma equipa profissional de topo, é na realidade um investimento de Edward Hult, filho do bilionário Bertil Hult.
A moda dos milionários no ciclismo - e já são sete em 18 equipas World Tour - tem um ponto comum a todos, a paixão pela modalidade, sabendo a maioria tratar-se do desporto que mais rapidamente promove um produto. Também poupam nos impostos? Ninguém faz perguntas dessas no futebol...