"Estar a 14 mil quilómetros da minha cidade e ouvir o meu nome em Portugal é muito bonito"
ENTREVISTA - Mauricio Moreira não é apenas um grande ciclista. É, acima de tudo, um senhor na forma como aborda a competição. O vencedor do 11.º Grande Prémio O JOGO/Leilosoc explicou porque agradece sempre tanto aos colegas, revelou o espanto com o carinho dos portugueses e falou das suas "cautelas" até ao último dia.
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"Ser grato e humilde é mais importante do que, neste caso, ser bom ciclista. O tempo passa, o corpo desgasta-se, daqui a uns anos já não poderei ganhar corridas e o ciclista de topo já não vai existir, mas existirá sempre a pessoa e todos os amigos que fez durante este tempo", afirmou Mauricio Moreira, vencedor do 11.º Grande Prémio O JOGO/Leilosoc, num comentário que o define.
Tratado como "Mauri" pelos amigos, o uruguaio de 27 anos é um campeão modesto e que sabe reconhecer a quem o ajuda. "Tenho de dar os parabéns aos meus companheiros e agradecer-lhes, porque fazem um trabalho incrível", acentuou em Paredes, depois de confirmar a conquista da maior corrida da nova fase da época. "Ganhar é difícil, mas o trabalho que eles fazem é ainda mais complicado. Bastante mais. Dou-lhes muito valor. Se não fossem pessoas como eles, dispostas a trabalhar sempre a 100%, não haveria vitórias", justificou o ciclista mais titulado do atual pelotão nacional.
"Sinto que as pessoas me apoiam muito, ouço o meu nome na estrada", diz. "Isso é uma alegria enorme para mim. Estar a 14 mil quilómetros da minha cidade e ouvir o meu nome em Portugal é muito bonito. A melhor forma que tenho de agradecer às pessoas essa força que me dão é conseguir triunfos", continuou o vencedor da Volta a Portugal do ano passado e já com o pleno das competições da Global Media Group - Grande Prémio Douro Internacional, Grande Prémio JN e, agora, "O JOGO" -, lamentando não ter a possibilidade de conhecer os que o incentivam na estrada. "Muitas vezes só escuto. Não consigo ver a pessoa, porque vou concentrado na corrida, mas ouço e fico muito feliz. Na verdade, é algo que me deixa emocionado durante uma prova".
"Sei que sou um ciclista cauteloso. Como já disse, nunca dou nada por concretizado antes da hora, embora, graças a Deus, nunca me tenha acontecido nada, nunca perdi uma corrida em que tudo apontava para que fosse eu a ganhar", admitiu, para recuar uns anos em busca das razões para as suas precauções: "Creio que isso se deve a pelo menos uma diferença grande entre o ciclismo do meu país e o daqui, em que a última etapa de uma grande volta é por vezes de consagração. Lá não é assim. É totalmente ao contrário, lá há ataques até ao fim, a luta vai até aos últimos metros. Julgo que é por isso que tenho estas cautelas e, acima de tudo, muito respeito pelos adversários".
E, embora no Grande Prémio O JOGO/Leilosoc o último dia tenho sido tranquilo para o camisola amarela, garante que vai continuar a ter "sempre cuidado".
"Na Volta o meu objetivo é coletivo"
Já com um currículo assinalável, Mauricio Moreira está preparado para mais. "As expectativas são sempre as mesmas, que é ter regularidade, cumprir os objetivos e vencer sempre que a oportunidade surgir", afirmou o natural de Salto, no Uruguai.
"O grande objetivo da época é a Volta a Portugal, seja para mim, seja para o Fred [Frederico Figueiredo] ou para qualquer outro ciclista da nossa estrutura", disse, num discurso muito virado para a união do grupo, algo que ficou bem demonstrado na tirada final do Grande Prémio O JOGO. "O meu objetivo não será pessoal, será coletivo e o importante é que a Volta continue na posse da Glassdrive", disse, sobre a maior corrida.
No dia seguinte "só" pedalou 60 quilómetros
Como é o dia seguinte do vencedor? "O meu foi bastante normal. Levantei-me, levei a namorada ao trabalho, que entra às 9h00, voltei para casa, tomei um café e fui treinar", respondeu Mauricio Moreira. "Fiz 60 km, passou um pouco das duas horas, foi calminho", contou. "Quando fui buscar a minha namorada ao trabalho, comprei o jornal O JOGO, que, devo dizer, está muito bonito", completou.
"Sinto-me mais confiante"
Uma não muito elevada auto-estima faz parte da personalidade de Mauricio Moreira, embora tenha evoluído, garantiu. "Posso dizer que sim, que me sinto mais confiante, mas não sou muito de o demonstrar, não é da minha forma de ser, não sou de andar por aí a berrar aos quatro ventos. Mas no meu interior sinto-me mais confiante, é verdade", referiu Mauricio Moreira. "Esta confiança acrescida vem desde a vitória na Volta a Portugal e foi reforçada pelo triunfo no "JN". Essas duas vitórias deram-me um acréscimo de motivação. Esta no Grande Prémio O JOGO também", assegurou, explicando: "Além de já ter passado um tempo desde a época passada, dá confiança ter parado, recomeçar praticamente do zero e voltar a ganhar", assinalando a importância de "saber que estou a fazer as coisas bem".
"Quando vi tanta chuva e frio..."
Mauricio Moreira fez pela primeira vez uma pré-temporada em Portugal. E a coisa complicou-se. "Foi uma pré-época um bocadinho especial para mim, porque quando morava em Espanha vivia no Sul e não tinha inverno; no ano passado fui para o meu país e estavam 40 graus; este ano, quando comecei a sair com tanta chuva e tanto frio, achei que tinha um problema", relatou o homem de Salto. "Foi bastante complicado, passei uma fase difícil e tenho de agradecer o apoio da minha namorada", frisou.