Fundador da federação, o Esmoriz tem quase meio século de história e é uma das grandes escolas do país. Cem por cento amador, resiste à crise com engenho e paixão
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Um dos históricos do voleibol nacional é ainda um dos que mais praticantes movimentam. Com sete escalões de formação - dos mickeys aos juniores, o Esmoriz, que acolhe masculinos e femininos, diz ser "o clube português com mais atletas". Nos seus 45 anos de história, o clube fundador da Federação Portuguesa de Voleibol orgulha-se de ter formado jogadores de excelência, recorda com saudade os dois únicos títulos de seniores e é graças ao amor à camisola que tem resistido à crise.
No Esmoriz, "não há folgas", garante quem dirige. Jorge Marques tem o clube aberto "de domingo a domingo, 12 meses no ano". Presidente há dois anos, depois de na juventude ter feito parte da direção, recorda com brio como tudo começou, na década de 60: "Na altura o voleibol era novidade, mas um grupo de entusiastas começou a jogar atrás das balizas do campo do Sporting Clube de Esmoriz e rapidamente aquilo assumiu proporções que os levaram a organizar-se e a mudar-se para a eira do padrinho Manuel: assim era conhecido o espaço de uma quinta onde se realizaram os primeiros jogos do Esmoriz Ginásio Clube." Foi assim que em 1967 se fundou o clube que sete anos mais tarde transformaria um armazém, onde se tomava banho de água fria num casebre improvisado, em pavilhão. Hoje, o Esmoriz conta 47 títulos nacionais: dois deles (1983 e 1984) da equipa principal. "Somos caso único no desporto nacional e nem toda a gente sabe disso", refere Jorge Marques, frisando: "Nos finais dos anos 80 fomos considerados a Universidade do voleibol".O segredo é simples e revelado pelo presidente: "O Esmoriz sobreviveu a várias crises. Passou por momentos difíceis, fruto de erros do passado com reflexos na vida interna do clube, que vão continuar porque estamos a pagar compromissos com credores e a regularização vai demorar largos anos. Mas, embora o futuro me preocupe, sei que aqui o pleaneamento é feito com pés e cabeça. Mas somos amadores. A prioridade é formar pessoas, que é disso que o país precisa mais do que nunca. Aqui sentimos que não somos tão pequenos quanto isso e que, apesar de amadores, conseguimos fazer coisas bonitas."
Se o passado trouxe o Esmoriz até aqui - referência na formação ao lado de outros como Castêlo da Maia, Leixões ou Académica de S. Mamede -, o futuro dependerá da arte de fazer (bem) contas. Para manter a estrutura, o Esmoriz precisa de 100 mil euros. Vive de financiamento autárquico, no âmbito do contrato-programa para o associativismo desportivo, e de patrocínios. Se para 2011/12 o clube recebeu 75 mil euros da Câmara de Ovar, para a próxima época ainda não há verba atribuída. Isto enquanto a crise faz baixar as receitas de sponsorização. "Estamos a navegar à vista", revela Jorge Marques, avançando: "Todos os anos, no planeamento, equacionamos se temos ou não seniores e, se temos, tem de ser de acordo com a realidade do clube e do país.
Até aqui, em muitos clubes viveu-se de um profissionalismo encapotado, mas esse tempo acabou. Vamos voltar ao tempo do desporto amador puro.