"É preferível o prejuízo financeiro que tomar decisões que ponham em risco a saúde das pessoas"
José Manuel Constantino, presidente do Comité Olímpico de Portugal, defende o adiamentos dos Jogos Olímpicos de Tóquio
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No dia em que o COI admitiu adiar os Jogos Olímpicos de Tóquio, que estavam agendados para o verão (24 de julho/9 de agosto), José Manuel Constantino, presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP), disse a O JOGO concordar com o reagendamento do grande evento, ainda que tenha sublinhado que esta é uma opinião pessoal e não institucional, já que, sublinha, não está "mandatado".
"Sou pelo adiamento, mas não tenho elementos que me permitam falar em datas, mas agora determinante é parar isto e deixar de exercer a pressão que tem sido feita sobre os atletas, apelando a que treinem no pressuposto de que os Jogos vão realizar-se, colocando em risco a sua saúde e, particularmente, a dos atletas de países afetados pela pandemia, criando ainda situações de desigualdade. Não há condições para se realizarem os Jogos Olímpicos, porque não há condições para os preparar. Quanto a uma data, o COI avaliará melhor o momento. Presumo que o COI queira anunciar o adiamento juntamente com uma data. Mas até lá vai decorrer um mês e, embora este comunicado do COI esteja a preparar terreno, retirando a tensão criada por posições anteriores, quanto mais depressa for tomada e anunciada melhor", referiu o dirigente.
"Mesmo imaginando que em julho estivesse tudo com saúde no mundo, o que não há garantia, até lá uma série de atletas não têm condições para se preparar e isso coloca-os numa situação de enorme desigualdade e, ao serem pressionados, ficam numa condição de enorme grau de risco, por isso a atitude mais sensata e mais razoável é parar isto. Contudo, o COI tem contratos e existe uma parametrização jurídica. Não se pode chegar à mesa e dizer que não se faz, porque há penalizações elevadas e há imensas negociações e parceiros com quem é necessário conversar e com quem é necessário consensualizar uma decisão.", adiantou.
Numa altura em que o governo japonês vinha insistindo na ideia de manter os Jogos na data prevista, por oposição aos clamor internacional, que apelava ao adiamento, José Manuel Constantino considerou: "É preferível perder os Jogos, do que perder pessoas. O valor supremo deverá ser salvaguardar a saúde e vida das pessoas. Não há dinheiro que pague uma vida. É preferível o prejuízo financeiros e salvar vidas, do que, em nome de interesses financeiros, tomar decisões que ponham em risco a saúde das pessoas."
"A economia das organizações desportivas será afetada"
Já diversas federações contactaram o COP, manifestando preocupações com o impacto financeiro pós- pandemia do coronavírus. "Há preocupações no sentido da perda de receitas. Eventos que eram geradores de receita e que não vão realizar-se. Ou seja, a economia das organizações desportivas será afetada e é necessário encontrar soluções. A secretaria de Estado já tornou público um conjunto de preocupações do Governo relativamente aos apoios do ponto de vista fiscal, laboral, entre outros", explicou Constantino, adiantando: "Há investimentos feitos que se podem perder, mas que se perderiam totalmente se não houvesse Jogos, o que está fora de questão. O adiamento implica o reescalonamento do quadro de apoios a atletas, treinadores e federações. Este quadro terá de se definir em função do novo processo de apuramento. Quem está apurado está, quem não está terá provas de apuramento. Temos de acrescentar à despesa nova despesa, porque os Jogos não vão realizar-se na data prevista. É razoável e é o que vai acontecer."
Apoios públicos: "É evidente que o país tem outras prioridades, só espero que o desporto não fique de fora"
Para o presidente do COP, os apoios públicos serão determinantes: "O desporto não está fora disto. Se todos os setores sociais estão a sofrer, é evidente que o desporto também vai sofrer. O que esperamos é que os apoios sociais, que são dados a outros setores, sejam dados ao desporto e que o desporto não fique fora do programa de recuperação. Esperamos que a situação penalizadora possa ser menor com ajudas públicas, em linha com o que acontece com outros setores da sociedade portuguesa. Não quero que o desporto fique à frente, mas que não fique fora. É evidente que o país tem outras prioridades, seria insensato que não se levasse em conta essas prioridades, só espero que o desporto não fique de fora."