O documento do COI que abre a porta ao adiamento de Tóquio'2020: conheça os cenários
Comunicado sugere que já se trabalha no reagendamento, em primeira instância, e depois deixa para daqui a um mês uma comunicação final após negociar com partes envolvidas, como o país organizador, e após resolver como lidar com contratos, locais de provas, marcações de hotelaria e investimentos avultados
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A Imprensa espanhola deu conta do adiamento dos Jogos Olímpicos previstos para este verão em Tóquio (Japão), a inglesa foi mais cautelosa e escreveu que o Comité Olímpico Internacional está a considerar essa possibilidade e que comunicará uma decisão final - com eventuais novas datas por reagendamento ou mesmo o anúncio de um formato mais reduzido do evento - dentro de quatro semanas e entretanto o COI já emitiu um comunicado, dúbio e inconclusivo, com excertos a darem a entender que a decisão já está tomada por força maior (pandemia do coronavírus e salvaguarda da saúde de todos os envolvidos num certame de grande magnitude) e outros a deixarem confirmações para daqui a um mês. Os Jogos Paralímpicos são englobados na decisão.
Parece evidente, perante o comunicado do COI, que o organismo não se quer comprometer para já, até porque há demasiada coisa envolvida, tal como os locais para as provas que poderão deixar de estar disponíveis, os milhões de marcações de hotelaria, os contratos com os patrocinadores, a questão dos seguros, o investimento do país (o Japão investiu cerca de 35 mil milhões de euros no evento e o orçamento para a organização é de cerca de 12 mil milhões) corresponder em termos de infraestruturas e pessoal de apoio...
Esta manhã, recorde-se, a agência Reuters deu conta, citando uma fonte próxima da organização, que "foi pedida uma simulação para o caso de haver um adiamento".
Os Jogos Olímpicos de Tóquio'2020 deveriam realizar-se entre 24 de julho e 9 de agosto, mas tudo indica que o período de um mês servirá mesmo para melhor acertar os detalhes do adiamento e ultrapassar questões legais e logísticas, com uma forte pressão internacional de federações, técnicos e atletas para que tal suceda, derivado da dificuldade em controlar um pouco por todo o mundo a pandemia do coronavírus e sob "ameaça" de que possam ausentar-se inúmeros atletas - e países."Para salvaguardar a saúde de todos os envolvidos e contribuir para a contenção da covid-19, o Conselho Executivo do Comité Olímpico Internacional (COI) anuncia que procederá ao planeamento de cenários. Esses cenários estão relacionados com a modificação dos planos operacionais existentes para os Jogos terem início a 24 de julho de 2020, e também para alterações na data de início dos Jogos. Este passo permitirá uma melhor avaliação da rápido evolução da situação de saúde pública em todo o mundo e no Japão. Servirá de base para a melhor tomada de decisão no superior interesse dos atletas e de todos os demais envolvidos", lê-se no início do comunicado do COI, que prossegue: "Por um lado, há melhorias significativas no Japão, onde as pessoas recebem calorosamente a chama olímpica. Isso poderia fortalecer a confiança do COI nos anfitriões japoneses para que, com certas restrições de segurança, se possam organizar os Jogos Olímpicos no país, respeitando o princípio de salvaguardar a saúde de todos os envolvidos. Por outro lado, há um aumento dramático de casos e novos surtos de covid-19 em diferentes países de diferentes continentes. Isto levou o CE à conclusão de que o COI precisa dar mais um passo e planear cenários alternativos. Vários locais críticos necessários para os Jogos poderão deixar de estar disponíveis. Há milhões de noites reservadas em hotéis e o calendário desportivo internacional para pelo menos 33 modalidades olímpicas teria de ser adaptado. Estes são apenas alguns dos muitos, muitos outros desafios."
Após abordar a necessidade de negociar com parceiros e partes contratadas para a realização dos Jogos Olímpicos, o texto informa então, finalmente, do prazo de quatro semanas para a decisão final, que, contudo, parece evidente nas entrelinhas: "O COI, em total coordenação e parceria com o Comité Organizador de Tóquio'2020, as autoridades japonesas e locais de Tóquio, iniciará discussões detalhadas para concluir a sua avaliação do rápido desenvolvimento da situação da saúde mundial e o seu impacto nos Jogos Olímpicos, incluindo o cenário de adiamento. O COI está confiante de que finalizará as discussões nas próximas quatro semanas e aprecia muito a solidariedade e a parceria dos comités olímpicos nacionais e das federações internacionais no apoio aos atletas e na adaptação do planejamento dos Jogos. O COI enfatizou que o cancelamento dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 não resolveria nenhum dos problemas nem ajudaria ninguém. Portanto, o cancelamento não está em agenda."
No final do documento, o presidente do COI, Thomas Bach, deixou palavras aos atletas explicando a abordagem tomada. "As vidas humanas têm precedência sobre tudo, incluindo a realização dos Jogos. O COI quer fazer parte da solução. Portanto, os nosso princípio prioritário é proteger a saúde de todos os envolvidos e contribuir para conter o vírus. Desejo, e todos estamos a trabalhar para isso, que a esperança que tantos atletas, comités nacionais e federações dos cinco continentes têm expressado seja cumprida: que no fundo deste túnel escuro que todos estamos a atravessar juntos, sem saber por quanto tempo, surja a chama olímpica como uma luz", disse Bach.