Desportistas e nadadores salvadores: o relato de quem vigia praias na pandemia
Jogadora de futebol do Fofó e o praticante de taekwondo, vice-campeão europeu universitário, detalham situações a O JOGO
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Joana Martins e Renato Pereira são dois desportistas que nesta altura do ano assumem o papel de nadadores salvadores. Num cenário de pandemia, o acesso às praias tem sido condicionado e O JOGO procurou saber o que tem mudado.
Joana Martins, médio do Futebol Benfica, tem estado no terreno, enquanto Renato, vice-campeão europeu universitário de taekwondo, aguarda pela abertura oficial da época balnear a Norte, agendada para 27 de junho. Por norma, presente na praia de Carcavelos e no Tamariz, Joana, que cumpre a terceira época balnear, sente que pouco mudou.
"Noto que as coisas continuam como se nada se passasse, não se vê ninguém com máscara na praia", refere Joana, que está a terminar a licenciatura em Ciências do Desporto. Os banhistas têm questionado os motivos da existência de corredores de circulação nos areais, mas nesse altura, há sempre o cuidado de manter o distanciamento social, segundo conta.
"Da minha parte, tenho sempre a preocupação de colocar máscara ao falar com alguém", garante a jogadora de 20 anos, que sempre gostou muito de nadar e acabou por se tornar nadadora salvadora, ainda sem sobressaltos de maior durante a sua atividade.
Já com contrato renovado com o Fofó para a próxima época, Joana consegue conjugar as funções na praia com a paixão pelo futebol, pois não só é jogadora, como também dá treinos na Academia de futebol feminino de Oeiras. Numa época que terminou de forma precoce, Joana alternou entre equipa B e formação principal e destaca a competência da treinadora Madalena Gala, 27 anos. "Gosta bastante do que faz e tenta sempre saber mais e explicar tudo bem. É muito preocupada connosco", refere.
Máscara, bata e luvas
Renato Pereira viu-se longe do local onde treinava taekwondo devido à pandemia. Expectante, conta os dias para o início do terceiro ano como nadador salvador, missão que tio e avô também cumpriram. Fascinado por poder ajudar quem estiver em apuros, Renato, que deverá andar pela praia do Paredão, explica que a sua associação vai oferecer máscara, bata e luvas.
"Se efetuarmos algum salvamento, quem retira a pessoa da água, é o outro nadador salvador que tem de estar pronto para receber a vítima com bata, óculos e máscara, devidamente equipado", explica, acrescentando que a respiração boca a boca não é, naturalmente, recomendada.
"Tínhamos a 'pocket mask', caso a vítima vomitasse água, por exemplo. A máscara só permite passagem de ar num sentido. Este ano, se tivermos um ventilador, ir dando duas ventilações, caso contrário, fazer só compressões até à chegada do INEM", sublinha, crente num "verão tranquilo".
Uma situação aflitiva na memória
Pese o pouco tempo de trabalho como nadador salvador, Renato já passou por um grande susto no ano passado. "Numa zona não vigiada, os banhistas alertaram-me e fui buscar uma rapariga. Veio uma onda, levou o irmão, mãe e irmã decidiram entrar na água e no meio da confusão ficou lá a miúda. O mar estava muito perigoso, fui cuspido três vezes e quando cheguei ela estava sem forças, a ir ao fundo. Depois, com dois surfistas tirámo-la da água. Ela ficou bem", conta.
Do assalto ao taekwondo
Renato Pereira está a terminar o mestrado em Atividade Física e Saúde e depois dessa etapa quer dedicar-se a cem por cento ao taekwondo, que iniciou com 12 anos após uma tentativa de assalto... "Comentei com a minha mãe e ela disse que teria de ir para um desporto que me permitisse defender. De um lado tinha um ginásio com karaté e outro com taekwondo e percebi o que queria quando comecei a praticar", explica o atleta da ATCV - Associação de Taekwondo Costa Verde, em Gaia.
A covid-19 cancelou todas as provas que tinha previsto participar até ao final do ano, mas durante o confinamento, Renato treinou sempre. No ginásio, nesta altura, as sessões ainda não permitem contacto, mas na cave da sua casa, tem mantido a rotina de treinos bidiários com outros três companheiros.