150 mil euros e um skater como arquiteto: as aulas da nova modalidade olímpica
As aulas da nova modalidade olímpica voltaram ao Skate Park de Ramalde, após mais de três meses de suspensão, devido à pandemia. Tem novas regras, mas a mesma procura.
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Em novembro de 2019, nasceu o Skate Park de Ramalde, obra projetada pelo arquiteto e skater Francisco Lopes ("França"), na qual a autarquia do Porto investiu 150 mil euros.
Um mês depois a empresa municipal Ágora iniciou as aulas gratuitas para maiores de seis anos, que reúnem duas dezenas de praticantes, todos os sábados de manhã, às ordens dos professores Nuno Gaia e Pedro Costa. O sucesso foi imediato, mas a pandemia suspendeu tudo... até ontem, véspera do Dia Mundial do Skate, modalidade com estreia olímpica em Tóquio.
"Está tudo preparado, com regras diferentes: medição da temperatura à entrada, obrigatoriedade da inscrição [em desporto@agoraporto.pt], um número mais limitado de participantes, o gel desinfetante, mas tudo em segurança", disse a vereadora do Desporto da Câmara do Porto, Catarina Araújo, acrescentando: "As pessoas estavam com muita vontade de retomar a prática desportiva. Ficaram muito confortáveis com as normas e as indicações de segurança. Não há aqui mais praticantes porque não pode haver, tivemos de limitar o número de inscritos." Pela primeira vez, os skaters da Invicta, afirma a responsável, "podem praticar a modalidade em total segurança, com outro conforto e outras condições."
Apto para receber também utilizadores de inline e BMX freestyle, o Skate Park pode acolher 75 skaters em simultâneo, sendo as aulas reservadas a 20 praticantes, 12 nesta fase pós-quarentena. "Este é um projeto social mesmo bom, os miúdos não têm de pagar nada e vêm todos ter uma experiência. Gostam, gostam, não gostam podem ir embora, mas voltam todos, é a melhor coisa que podiam ter feito", comentou um dos professores, Pedro Cruz, reforçando: "De projetos que tenham feito ultimamente, este é o que tem mais sucesso, tem sempre gente. Há muitos miúdos a quererem vir, ligam-nos e há alguns a infiltrarem-se [risos]. É altamente, obrigado Porto." Para Nuno Gaia, "isto é ótimo para um miúdo que queira começar a aprender a andar de skate; os pais podem deixá-lo aqui e sabem que está à vontade."
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Os dois especialistas, skaters e amigos há mais de 20 anos, amantes de manobras em sítios icónicos do Porto, como a Casa da Música, a Cordoaria ou a Praça dos Leões, lembram que "há muita gente, que só por ver vídeos, pensa que isto é relativamente fácil, mas é preciso querer mesmo, insistir, cair, levantar e cair outra vez e há muitos miúdos que acabam por desistir; se calhar sete em dez." Para a dupla, o projeto Ágora "é mais do que o um projeto", como "o skate é mais do que um desporto" e para o explicar, recorrem a uma metáfora simples: "O skate vai ajudar na auto-confiança para a vida, em que tem de se enfrentar outros desafios; estás habituado no skate a cair, levantas-te e tentas outra vez. Na vida estás à procura de um emprego, não consegues, tentas outra vez."
Os dois amigos são de um tempo em que "não havia escolas de skate", viveram o boom dos anos 90 e agora, já quarentões, sentem a nova "febre", impulsionada pelo estatuto olímpico. É à loja (Skate Shop) de Nuno Gaia que a maioria se dirige; foi assim que chegaram às aulas no CLIP (Oporto International School) e na Ágora. "A nova geração está farta do desporto convencional", afirmam os professores que têm alunos "dos seis aos 62 anos" e que se mostram orgulhosos do novo espaço feito por "alguém da comunidade": "Estar aqui num skate park feito por um skater faz toda a diferença e é a maneira certa. Por exemplo, em Belmonte há uma rampa de quatro metros que ninguém entende. Os americanos que cá vêm, olham para aquilo e perguntam se foi feito por aliens."