Vencedor de sete Grandes Voltas é agora comentador do Eurosport, acha que Almeida é candidato a também ganhar uma, entusiasma-se a ver correr Morgado e gosta de passar férias em Portugal
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“Agora estou do teu lado, mas sinto-me cómodo”, atirou o sorridente Alberto Contador à reportagem de O JOGO, que recebeu no pequeno estúdio móvel do Eurosport onde faz os comentários de O Gran Camiño. Aos 42 anos, o espanhol de Pinto mantém um físico de ciclista e usa os conhecimentos de quem ganhou duas vezes o Tour (2007 e 2009), duas o Giro (2008 e 2015) e três a Vuelta (2008, 2012 e 2014) para se destacar nas novas funções – é ao mesmo tempo um dos proprietários da equipa Polti –, explicando que tenta “sobretudo colocar-me na situações dos corredores, para tentar transmitir aos telespectadores o que eles pensam em cada momento”. “Passei muitos anos a lidar com jornalistas e isso facilitou-me a mudança”, acrescentou.
O ciclismo espanhol, embora tenha dez homens no top-100 mundial, continua em busca de um novo Contador, enquanto o português criou novos ídolos. “São gerações. Felizmente para vocês, o Almeida tem um protagonismo enorme em todas as corridas que faz, até na Volta a França, embora aí esteja limitado por estar na UAE. O ciclismo português sempre teve muito nível. Aliás, recebe muitos corredores espanhóis. É um país que ama este desporto e só vos desejo que tenham mais Almeidas”, diz, passando ao largo dos problemas de doping que afetaram o pelotão luso. “Haver suspeitas também depende do que fazem os meios de comunicação”, resumiu.
Mais entusiasmado na análise aos grandes valores, Contador sorriu ao falar de novo em Almeida. “Pode ganhar uma Grande Volta, por que não? Há corredores como Pogacar e Vingegaard que nos dias de hoje estão a nível superior, mas o Almeida é muito completo, tanto em montanha como em contrarrelógio. E tem uma boa ponta de velocidade, importante para lutar por bonificações. Creio que continua a crescer e ainda não o vimos no máximo nível. Portanto, pode vencer um Giro ou uma Vuelta se lhe derem a oportunidade”, analisou.
“E o Morgado? Que revelação, que talento tremendo!”. Contador entusiasmou-se ainda mais com o recente vencedor da Clássica da Figueira. “Começou a época fortíssimo, levantando logo os braços. É bonito vermos isto. Jovens que explodem da forma como o faz o vosso Morgado”, contou a O JOGO, conhecendo ainda a evolução de Afonso Eulálio, este ano na Bahrain-Victorious. “Conheço. Não o tenho seguido em detalhe, mas deu um passo importante. Está numa das melhores equipas do mundo, veremos como vai crescer”, sintetizou, lembrando que a sua atenção a Portugal vai além do ciclismo.
“Passo muitas vezes férias em Portugal, seja em Lisboa, Porto ou Algarve”, revela, sendo parte da predileção simples de explicar. “Lembro-me bem da Volta ao Algarve, era muito especial para mim. Era o meu início de temporada e ia depois para Paris-Nice ou Tirreno-Adriático. Fiquei com grandes recordações, sentia bem o carinho dos adeptos portugueses”, confessou. Contador correu cinco vezes a Algarvia, vencendo em 2009 e 2010 e ficando quatro vezes no pódio. O último em 2016, um ano antes de terminar a carreira.