Ricardo Scheidecker, diretor-técnico da Deceuninck-QuickStep, líder do ranking mundial, defende que, apesar da incerteza relativamente ao calendário, o mais importante, neste momento, é conter a propagação da Covid-19.
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O cancelamento de três clássicas do ciclismo causou uma tristeza "completamente residual" ao português Ricardo Scheidecker perante o panorama dramático originado pela pandemia da Covid-19, apesar de significar que a Deceuninck-QuickStep falha alguns dos principais objetivos.
"Vejo o cancelamento das clássicas com tristeza, como é óbvio. A nível desportivo, eram dos principais objetivos, mas esta tristeza é completamente residual dado o panorama dramático em que o mundo se encontra nesta altura", declarou à agência Lusa o diretor técnico da equipa líder do ranking mundial.
A equipa belga, conhecida pela sua espetacularidade e ciclismo de ataque, era uma das principais favoritas à conquista das clássicas Paris Roubaix (12 de abril), Fléche Wallonne (22 de abril) e Liège-Bastogne-Liège (26 de abril), hoje retiradas do calendário velocipédico. Ricardo Scheidecker confessa estar mais preocupado com as consequências que o surto do novo coronavírus pode trazer "a médio e, provavelmente, longo prazo, a nível sanitário e, consequentemente, a nível económico".
"Ninguém tem noção daquilo que vai acontecer com aquilo que se percebe que são possíveis paragens longas de indústria e da capacidade de produção de empresas e serviços. O desporto profissional é uma pequenina parte do motor da economia, porque produzimos shows para as pessoas. Mas isto vai, possivelmente, ter enormes consequências para todas as modalidades desportivas profissionais. Quais são, não sabemos, e isso é que me preocupa muito mais nesta altura", sustentou.
A retirada do calendário destas três provas emblemáticas era, "infelizmente, inevitável", defende, depois de outras "grandes corridas" terem sido canceladas durante o mês de março. O diretor técnico da Deceuninck-QuickStep desja que estas possam ser reagendadas: "Espero que as grandes corridas sejam adiadas e não canceladas, é essa a nossa esperança. Como é que isso se resolve? Não sei. Nesta altura, não sei. Vamos ter de ter paciência. Nesta altura, o mais importante é a saúde das pessoas. É aguardar o que se vai passar nestas próximas semanas para saber se as medidas tomadas pelos países europeus vão ter um impacto positivo na situação dramática que estamos a viver hoje".
O português, que se encontra neste momento em Itália com a família, de origem italiana, está em quarentena voluntária por ter estado no Paris-Nice até sábado. Quanto aos ciclistas da Deceuninck-QuickStep, estão em stand by: "Não há objetivos, não se sabe quando teremos objetivos. Estamos completamente no escuro, é inútil programar, o que é preciso é acompanhar os desenvolvimentos da pandemia em geral e, mais especificamente, como a União Ciclista Internacional vai gerir as opções que se poderão criar, quando, esperemos, as coisas voltarem a uma certa normalidade. A partir do momento em que tivermos sinais nesse sentido, estamos prontos para começar a reprogramar tudo. Esta é uma off season forçada no meio da época", concluiu.
Também Nelson Oliveira (Movistar) reconheceu à Lusa que a retirada das clássicas da primavera do calendário - mantêm-se a Volta a Flandres (5 de abril) e a Amstel Gold Race (19 de abril) - foi a opção certa dos organizadores, que vão solicitar à UCI novas datas. "Parece-me bastante bem dado o que se está a passar, neste momento, na Europa e em todo o Mundo", analisou. Perante a pandemia da Covid-19 "o ciclismo passa para segundo plano", defendeu.
O ciclista português, que deveria alinhar no Giro, para já adiado, assumiu ainda que as alterações e a incerteza no calendário velocipédico afetam o planeamento de toda a temporada: "Claro que isto afeta a preparação. Nem sabemos se é aconselhável sair à rua. Convém ficarmos em casa. Vamos indo dia a dia, na esperança que haja algum progresso".