Nascido no mesmo dia de Ronaldo (5 de fevereiro de 1985), é o primeiro a saber os seus limites: demora mais a recuperar de um jogo, mas compensa a perda a nível atlético com a experiência.
Corpo do artigo
Ser o mais velho do plantel e da Liga Betclic não impediu o extremo Betinho de fazer 47 jogos e com médias excelentes!
Foi uma época de lesões no Benfica. Qual lhe calhou?
—Por acaso não tive nenhum problema. Tirando o primeiro jogo contra o Imortal, devido a um toque, fiz todos. Cuido muito bem do meu corpo e a equipa técnica faz muito bem a gestão na equipa, porque somos veteranos. Com 40 anos, fisicamente não estou ao mesmo nível dos outros. Preciso de cuidados especiais.
Pode explicar quais?
—Tudo começa por dormir bem em casa e ter uma boa alimentação. Sou um dos primeiros a chegar ao pavilhão, para ativar o meu corpo. Não sou capaz de chegar e começar a afundar. Preciso, pelo menos, de meia hora a 40 minutos antes do treino.
Surpreendeu-o ter médias de 11,3 pontos e 3,9 ressaltos aos 40 anos?
—Conheço o meu corpo, sei do que sou capaz. A experiência faz-me saber como estar em campo. Fisicamente já não sou o que era antes, a saltar, afundar e ressaltar. Uso mais a inteligência tática ou a minha experiência para levar a melhor. Não foi uma surpresa.
Mas a idade dá sinais? Tem mais dores?
—Sim, claro. A maior diferença é no tempo de recuperação. Antigamente já estava pronto para treinar a seguir. Hoje em dia é acabar o jogo, tratar do corpo, com banhos de gelo e massagens. Preciso dois ou três dias para estar apto outra vez.
O estilo de jogo mudou devido à idade, com mais tiro exterior?
—O tiro exterior era algo que tinha há muito tempo, desde miúdo. Chegando a esta idade, comecei a focar mais nesse aspeto, porque já não tenho o mesmo atleticismo. Tive de afinar ainda mais para ajudar a equipa.
Nasceu no mesmo dia de Cristiano Ronaldo, que também se cuida bem...
—O Ronaldo é uma referência para toda a gente. Para mim então... Temos a mesma idade. Quando cheguei a Itália, houve uma referência a isso num jornal italiano, em que punham a minha foto ao lado do Ronaldo. Chamaram-me o Cristiano do basquetebol. Mas ele é o melhor do mundo, não tem nada a ver. Tenho-o como referência e tento cuidar ao máximo do meu corpo, como ele faz.
“Família sempre em primeiro lugar”
Betinho é casado com Sofia Ramalho Gomes. Têm dois filhos, Adriana (14 anos) e Miguel (oito). A antiga internacional portuguesa acompanhou o marido em todas as fases da carreira, incluindo os cinco anos na Liga ACB e no campeonato italiano.
Jogou ao mais alto nível em Espanha e Itália. Podia ter ficado mais tempo?
—Quando cheguei ao Benfica, tinha um contrato de três anos e cheguei a renovar por mais dois, mas apareceu uma proposta para ir para a Liga ACB, que era o meu sonho. Depois fui para Itália, porque queria jogar a EuroCup. Chegou uma altura em que eu e a Sofia tivemos de repensar a nossa vida. Já tínhamos dois filhos. Estávamos há muitos anos longe e decidimos voltar. Se não fosse esse aspeto, poderia continuar, mas a família vem sempre em primeiro lugar.
A família é o seu porto seguro?
—Digo sempre: para um jogador ter uma carreira de sucesso, é preciso ter estabilidade. E a Sofia deu-ma, esteve sempre comigo.
Filhos na formação encarnada
Adriana e Miguel Gomes estão a seguir as pisadas dos pais e jogam na formação do Benfica. “Tendo-me a mim como pai e a Sofia como mãe, acho que têm jeito, vem nos genes”, diz Betinho, orgulhoso. A primogénita começou pela ginástica, mas “era muito duro”. “Desistiu e quis experimentar o basquetebol, para nossa alegria”, completa.
No AfroBasket em agosto
Em 2023, Betinho teve autorização da FIBA para jogar por Cabo Verde, após 15 épocas ao serviço de Portugal, alinhando no Mundial. Este verão está a postos para o AfroBasket (12 a 24 de agosto, em Angola), juntando-se aos “Tubarões azuis” a 2 de julho, em Paris. “Quero motivar os miúdos, para sonharem representar de Cabo Verde”, justifica.
Projeto AMINGA está a crescer
O projeto social AMINGA, que Betinho e Sofia Ramalho Gomes têm com as irmãs do jogador há cinco anos, é outra via de ajudar Cabo Verde, estando marcado mais um campus na ilha de São Vicente, de 19 a 27 do próximo mês. “Temos feito um bom trabalho até agora e é para continuar”, assegura.
Ainda se sente parte da Seleção
Com 76 internacionalizações por Portugal e membro da geração de ouro do EuroBasket’2007 (nono lugar), Betinho vai seguir o regresso luso às fases finais, a partir de 27 de agosto. “Com o Neemias [Queta] presente, acredito que podem fazer algo bom. Sem pressão. Sinto-me como se fizesse parte da Seleção, claro que vou estar a apoiar”, garante.