Bernardo Atilano luta pelos jogos de Paris após fase difícil: "Fartei-me de chorar"
Aos 26 anos, passou parte de 2022 dentro do top-100 mundial, um feito inédito, e mostrou-se na final de um torneio internacional no Brasil, e às meias-finais noutros dois, como na Guatemala, tendo marcado presença no Campeonato do Mundo
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Bernardo Atilano, 102.º do ranking mundial de badminton, colocou-se este ano no "pelotão" para a corrida para os Jogos Olímpicos Paris'2024, após "duvidar das capacidades" no pós-Tóquio'2020, falhado por um punhado de lugares.
Aos 26 anos, passou parte de 2022 dentro do top-100 mundial, um feito inédito, e mostrou-se na final de um torneio internacional no Brasil, e às meias-finais noutros dois, como na Guatemala, tendo marcado presença no Campeonato do Mundo.
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"Até agora, tem sido uma época muito boa. Consegui a minha primeira final de seniores singulares, uma meia-final no Irão, e todas elas a ganhar a bons jogadores. Este ano tem sido muito positivo para mim, porque aquela paragem e aquelas dúvidas todas trouxeram-me maior maturidade no "court"", conta, em entrevista à Lusa.
À margem dos Nacionais de badminton, que este domingo terminam no Centro de Alto Rendimento das Caldas da Rainha, onde procura chegar ao "hexa", recorda as dificuldades que enfrentou antes, ao falhar os Jogos Olímpicos Tóquio'2020 "por uns quatro ou cinco lugares".
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"Foi uma altura um bocado de retrospeção, perceber o que tinha corrido mal, ainda por cima estando tão perto do objetivo. De muita dúvida, porque duvidei das minhas capacidades. Foi também o primeiro objetivo real a que me propus, e além de um objetivo, é um sonho, e que falhei", reflete.
Sair desse estado mental "foi difícil", e passou mesmo semanas longe das raquetes e volantes, depois dos Internacionais de Portugal em que percebeu que não lograria a qualificação, mas o foco na licenciatura em Ciências do Desporto na Faculdade de Motricidade Humana, entretanto concluída, levou-o a fechar um outro objetivo antes de voltar, quando "chegaram as saudades".
Pelo caminho ficou um ano "muito complicado" na Áustria - em que sofreu "um choque cultural" e em que pensou em desistir muitas vezes - e dois no Algarve, que o deixou de parte, da família à namorada, para perseguir o sonho.
"Fartei-me de chorar, chorar, chorar. Os meus pais nem sabiam o que dizer. Foram algumas semanas difíceis, e nesses dias [quando soube que não ia Tóquio'2020] também descobri que estava há três meses com uma lesão", revela.
O apoio de treinador, colegas de equipa e do clube levou-o a voltar, a "retirar coisas positivas para crescimento pessoal", e, para Paris'2024 e já com os rankings descongelados, "atirar-se" à defesa dos pontos antigos.
Em maio, começa a qualificação e aí quer estar o mais acima possível na hierarquia, para "conseguir ser cabeça de série em torneios da América Latina" e, na Europa, entrar logo no quadro principal.
"Fizemos uma conta, quando estava em 93.º do mundo. Aí, estaria cinco lugares dentro dos Jogos. O meu objetivo tem de ser entre 90.º e 100.º. Ou mais baixo, claro", analisa.
Tem já planeada a participação numa série de provas até lá, o regresso ao Campeonato do Mundo, no verão, e os Jogos Europeus, depois de Minsk'2019, desta feita na Polónia, no qual se disputa o campeonato da Europa da modalidade.
Ainda este ano, será quarto cabeça de série num torneio Internacional Series em El Salvador, disputa um Challenge, "um nível acima", no Canadá, e em dezembro conta estar na qualificação do Europeu por equipas com Portugal, que terá "a fava", com Suécia e Irlanda.
De amizades com a ginasta Filipa Martins, o judoca Jorge Fonseca ou o canoísta Fernando Pimenta, entre outros atletas de elite, cresce uma crença de que "no desporto de alta competição é possível fazer tudo", precisando, isso sim, de "mais organização, resiliência, capacidade de trabalho".
Essa "motivação intrínseca" alimenta-o a caminho de Paris2024 e começou no Colégio Amor de Deus, em Cascais, onde fez toda a escolaridade até ao ensino superior e onde começou na modalidade, deixando "outra" raquete, a do ténis que já praticava, para trás quando teve de escolher.
Recipiente de uma bolsa de Solidariedade Olímpica por parte do Comité Olímpico Internacional (COI), e face ao "corte nas modalidades", alerta, socorre-se aqui de um apoio "muito importante" não só para mais treinos e competições como para o lado logístico e burocrático, entre outros benefícios.
Nestes Nacionais, estreou-se numa função diferente, "desdobrando-se" pelos vários "courts" ao longo da sessão de sábado, com indicações a esta atleta, um reforço a aquele outro, uma vez que recebeu recentemente a cédula de treinador.
A perda do treinador de um grupo de 10 atletas que treinam juntos, dos sub-19 até Atilano, o mais experiente, por Pedro Gomes, seu treinador de há "oito ou nove anos", se mudar para o Luxemburgo, também precipitou estas funções.
"O pessoal que treina comigo vê-me como um exemplo de como encarar a modalidade. Conseguir passar essa experiência é muito proveitoso para mim, gosto imenso", explica, à frente de um grupo que ficou "mais unido" também após esta mudança.
Essas novas funções também lhe permitem olhar para o badminton nacional "com bons olhos", vendo "qualidade, talento", mas uma falta de aposta de base, na formação, em estágios, para que mais atletas de qualidade possam defrontar-se, desde cedo, para se melhorarem uns aos outros, até porque na Áustria viu "fazerem estágios de sub-11".
De resto, e olhando para a estada em solo austríaco, reflete sobre o lado "muito solitário" que participar no circuito da modalidade ao mais alto nível acarreta, passando "muito tempo sozinho", quase sempre sem treinadores e só "por vezes com outro atleta".