A melhor lançadora do peso mundial de 2020 em pista é uma promessa portuguesa de sucesso no próximo ano olímpico. Veio dos Camarões para Leiria, tendo escolhido Portugal, pelo Sporting e por ser devota de Nossa Senhora de Fátima
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É em Leiria que esta poderosa lançadora de 29 anos decidiu prosseguir a carreira, depois de ter sido duas vezes campeã de África e uma vez finalista olímpica pelo país natal, os Camarões. Portugal sempre a atraiu e a grande qualidade da equipa de atletismo feminino leonina também pesou para encaixotar as malas e viajar até cá. Apesar de o clube estar muito bem servido de pesistas, Auriol interessava e foi contratada. Chegou a Portugal em 2017 e fixou-se em Leiria, porque descobrira um clube com excelentes condições, a Juventude Vidigalense, e um técnico com créditos, Paulo Reis, responsável pelo setor na federação e o homem que descobriu e fez duas atletas olímpicas, a martelista Vânia Silva e a discóbola Irina Rodrigues. O facto da Cidade do Lis estar próxima de Fátima também foi um argumento de peso, por Auriol ser uma católica devota de Nossa Senhora.
Na crista de onda, depois de ter lançado o peso a mais de 19 metros pela primeira vez, é a altura de medir o pulso à melhor especialista mundial do ano.
Como se sentiu com a naturalização, que lhe permite representar Portugal a partir de julho?
- Estou muito feliz com a minha naturalização. Principalmente, por poder representar a bandeira portuguesa, pela qual tenho lutado diariamente.
Veio a naturalização, mas pouco depois surgiu a anulação do Campeonato da Europa. Foi uma desilusão?
- Senti-me triste com a anulação do Europeu, pois seria a primeira prova em que poderia representar Portugal, mas trata-se de uma questão de saúde pública.
No currículo tem dois títulos de campeã de África. Seria interessante ganhar outro título continental, agora na Europa?
- Claro que sim, ser campeã da Europa é um dos meus grandes objetivos. Também é por isso que eu luto e para o qual trabalho diariamente. Estou focada em atingir os meus objetivos.
Sente-se satisfeita por ter decidido seguir a carreira em Portugal? Não equacionou outras opções?
- Tinha uma proposta para ir para França e uma para Portugal por parte do Sporting. Escolhi Portugal por ser um país que gosto bastante, já conhecia Fátima. E claro que o facto de ser o Sporting teve peso na minha escolha. Foi aí que entrei em contacto com o Paulo Reis, que é o meu treinador.
O que conhecia de Portugal antes de passar a viver no nosso país?
- Antes de vir para cá, só conhecia Fátima.
E qual foi o motivo que a levou a viver em Leiria?
- Escolhi viver em Leiria para poder treinar com o Paulo Reis, o meu treinador.
O que mais gosta e menos gosta em Portugal?
- O que mais gosto em Portugal é a simpatia da população. Já o que menos gosto é quando há muito sol.
Susana Costa e Ana Lopes são as maiores amigas por cá
Auriol Dongmo tem um filho e uma carreira desportiva exigente. Daí que não lhe resta tempo para fazer amizades. "A pessoa que tenho mais próxima é a Ana Lopes [ama do filho], mas é difícil fazer amizades, pois estou sempre em casa. Quando não estou, estou no Centro Nacional de Lançamentos a treinar. Tenho de referir a ajuda que o Sporting me deu, que foi importante na minha integração e adaptação, principalmente quando estive grávida", explicou. Mas há uma atleta que não pode deixar de referir: "Conhecia a Susana Costa do triplo salto. É uma atleta com muito valor e acima de tudo muito simpática".
Sonho com a medalha olímpica
Longe vão os tempos em que Auriol descobriu o atletismo. "Surgiu através da escola. Foi um professor que me incentivou para experimentar", recorda. Duas décadas depois é uma lançadora com bons argumentos - "Para chegar ao nível onde cheguei necessito de todas essas valências: força, técnica e velocidade", diz -, que lhe permitem querer cada vez mais. A curto prazo tem uma barreira fixada nos 20 metros: " Se penso nos 20 metros? Sim. Neste momento estou focada no meu trabalho e em dar o melhor e, por isso mesmo, é um dos meus objetivos". A médio prazo, há 2021, com europeu e mundial de pista coberta e o regresso aos Jogos Olímpicos. Aí reside o sonho máximo: "Sem dúvida que sonho com uma medalha. É o sonho de qualquer atleta e particularmente meu. Trabalho todos os dias para que tal coisa possa vir a acontecer".
Saudades da comida do país
A atleta sente saudades do país natal. "Continuo ligada aos Camarões. A minha família está toda lá, apenas eu e o meu filho estamos em Portugal". Família que segue os resultados de Auriol, que nem tem que dar as boas novas: "Não preciso, sempre que faço uma competição os resultados chegam lá através das redes sociais e os meus familiares estão sempre a par de tudo". Em contacto permanente, a falta das rotinas com os mais próximos acaba por não pesar tanto, mas há algo que não consegue ser mitigado: "Do que tenho mais saudades de lá? Sem dúvida da comida...".