José António Silva, selecionador nacional feminino, falou a O JOGO sobre a histórica qualificação para o Campeonato da Europa, que vai jogar-se entre novembro e dezembro
Corpo do artigo
“Tive uma magnífica prenda de anos antecipada”, admite a O JOGO José António Silva, selecionador nacional de andebol feminino que, domingo, faz 59 anos, referindo-se ao tema que nos levou a esta entrevista, o apuramento para o Europeu, a jogar ainda este ano, entre 28 de novembro e 15 de dezembro, na Áustria, Hungria e Suíça.
“Tenho sempre objetivos elevados. Na altura em que entrei [maio de 2021] sabia que no ranking não estávamos muito bem, tanto que tivemos que disputar um pré-apuramento para o Euro’22. Agora, neste sorteio, estivemos a um passo de pote 2, o que é uma melhoria significativa, mas também beneficiámos do facto da prova passar a ter mais equipas”, reconhece o técnico natural de Águas Santas.
“Ainda estamos longe das equipas de primeiro plano e a forma como o medimos é no encurtar de distâncias. Nos dois jogos com a Chéquia, oitava do últimoMundial, tivemos condições para vencer”, recorda. Por falar nessas distâncias, quais serão elas? “Separa-nos a componente física, que se nota, fundamentalmente, na quantidade e intensidade dos contactos. Isso foi notório contra os Países Baixos, em que encontrámos soluções, mas nos contactos e duelos individuais ficámos claramente a perder. Temos de investir nisso e na evolução técnica individual. Fazemos as coisas muito direitinhas sem oposição, mas, quando as queremos fazer com contacto, temos bastantes dificuldades. Depois é a experiência internacional, os Países Baixos e Chéquia têm presenças sistemáticas nestas competições e nós não”, responde.
Garantindo que “tinha este Europeu como objetivo”, José António Silva justifica: “Acredito muito no trabalho e nas pessoas, sabia que podíamos alcançar esta qualificação. As minhas jogadoras são extraordinárias, comprometidas e, mesmo não jogando ao mais alto nível, acreditam muito no que estamos a fazer. São de uma generosidade tremenda”.
Este apuramento do feminino para uma grande competição dá-se 16 anos depois - a última, e única, tinha sido em 2008, na Macedónia, com 16.º e último lugar. De alguma forma pode comparar-se com os masculinos, que chegaram ao Europeu de 2020 após 14, em 2006, na Suíça, com uma 15.ª e penúltima posição. Mas José António vê uma diferença. “As condições de partida são muito distintas. Nos masculinos, houve a felicidade ter muita gente a competir ao mais alto nível, nós temos apenas a Luciana Rebelo, de 18 anos, que está numa equipa de Liga dos Campeões [Esbjerg, da Dinamarca], mas não tem tempo de jogo suficiente para que algo se possa traduzir em campo”, lembra. Seja como for, regista a evolução. “Não consigo comparar apenas pelos resultados, seria falacioso, mas, desde os primeiros treinos até agora consolidámos modelos, estamos com maior solidez e agressividade e a interpretação das ideias está melhor, o que nos coloca em campo com mais eficácia”, termina.
“Atletas muito felizes”
Se José António Silva chega a Portugal com um “sentimento ambíguo, feliz pelas atletas, mas desapontado com o resultado com a Chéquia”, já as jogadores estavam radiantes. “Senti-as muito felizes, as mais experientes porque, ao fim destes anos todos, realizam um sonho que tinham, e as mais jovens porque já estão integradas no melhor lote de atletas em Portugal”, conta.