Aldeia Olímpica está pronta e preparação lusa dentro do previsto: "2016 ensinou-nos algumas coisas"
O chefe da Missão portuguesa assegurou que a Aldeia Olímpica dos Jogos Paris'2024 está pronta para receber os atletas e que a preparação lusa para o evento também está a decorrer dentro do previsto.
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Em entrevista a agência Lusa, na véspera de faltarem 200 dias para a cerimónia de abertura, Marco Alves lembrou que visitou a Aldeia Olímpica em novembro de 2023 e que “o edifício onde ficará alojado Portugal está concluído”, faltando apenas “alguns arranjos exteriores”, o que deu “alguma tranquilidade”.
“Se me permite recuar um pouco no tempo, 2016 ensinou-nos algumas coisas. Os Jogos do Rio foram paradigmáticos naquilo que é a preparação da Aldeia para todos os Comités Olímpicos Nacionais, não só para o de Portugal. Fomos surpreendidos com várias deficiências da Aldeia à chegada ao Rio de Janeiro e [...], efetivamente, isso ensinou-nos algumas lições que tentámos em Tóquio corrigir. Os planos agora de preparação da chegada à Aldeia são efetivamente diferentes daqueles que teriam sido até ao Rio”, recordou.
Marco Alves, que volta a ser o chefe de Missão tal como em Tóquio'2020, acredita, que mesmo a Aldeia não sendo um hotel, vão “conseguir dar o conforto necessário para que os atletas possam descansar, treinar e competir naturalmente”.
A última visita oficial aconteceu mesmo em novembro e já ficaram, dentro da Aldeia, após uma única visita de duas horas, definidos os espaços para serviços médicos, atletas, treinadores, além de um espaço dedicado ao escritório e uma área reservada para a produção de alguns conteúdos.
“Temos que, muitas vezes, naquilo que diz respeito à Aldeia Olímpica, decidi-lo em duas horas. Naturalmente, não decidi-lo, mas verificar quais são as possibilidades neste curto espaço. Portanto, em termos de visitas oficiais, nós não temos previstas com o comité organizador mais nenhuma visita, porque, efetivamente, o que pode ser tratado in loco já foi tratado. [...] Hoje em dia, já acontece tudo de uma forma digital, portanto, temos também esta facilidade e a quantidade de visitas que já fizemos a Paris também já nos permite ter o conhecimento daquilo que precisamos para preparar a melhor participação”, disse.
Do ponto de vista logístico, o responsável admite que há “uma dificuldade acrescida”, porque Portugal vai ter atletas a participar em várias cidades – vela em Marselha, tiro com armas de caça em Châteauroux e em surf em Teahupo’o, no Taiti –, algo que vai ter de ser tido em consideração na construção da Missão lusa.
“Agora, temos de montar a nossa operação, daquilo que teremos que levar para lá, teremos de cuidar do transporte dos equipamentos médicos, dos barcos, dos cavalos, de todas estas necessidades logísticas que uma competição desta natureza exige, e estamos agora nesta fase de planeamento e execução, em simultâneo, para garantir o melhor apoio aos atletas de Portugal durante os Jogos Olímpicos Paris2024”, referiu.
Transportes continuam a ser grande preocupação
Os transportes continuam a ser a grande preocupação para os Jogos Olímpicos Paris'2024, a 200 dias do arranque do evento, com o chefe da Missão portuguesa, Marco Alves, a acreditar que todas as infraestruturas vão estar concluídas.
Em entrevista à agência Lusa, Marco Alves, que repete o cargo de chefe de Missão que já tinha tido em Tóquio'2020, acredita que o tema dos transportes será “um dos principais desafios desta edição dos Jogos”, numa cidade que já é “bastante movimentada” habitualmente.
“Nem sempre as artérias que vão servir estas instalações são muito largas, portanto, mesmo a criação que normalmente acontece sempre em contexto aos olímpicos das Olympic Lanes [faixas de trânsito específicas para transportes oficiais], em alguns locais, é efetivamente difícil”, assumiu.
A ideia de os atletas usarem os transportes públicos, defendida pelo comité organizador, é descartada por Marco Alves, que assegura que vão utilizar os controlados pelo comité organizador.
“Vamos imaginar que acontece algum problema de trânsito, algum acidente e que, efetivamente, o transporte que levará os atletas para a competição, por algum infortúnio, chega atrasado, a competição tem de se ajustar a essa situação. Enquanto se for cada um por si, a responsabilidade recai em cada um deles, portanto, não é de toda essa a estratégia que vamos adotar”, afiançou.
Contudo, Marco Alves acredita para as restantes pessoas que estiverem envolvidas nos Jogos os transportes públicos, “mesmo assumindo muitas vezes essa falta de pontualidade, algumas estações de metro fechadas em alguns percursos”, é a melhor solução, em especial o metro.
Sobre as questões de segurança, o responsável do Comité Olímpico de Portugal (COP) lembra que Paris “é uma cidade que está muito habituada à contestação” e que, em todas as visitas oficiais desde 2019, houve sempre alguns protestos ou greves.
“As forças de segurança também estão habituadas a estes cenários, portanto há muitos planos de contingência que estão a ser colocados no papel, para que efetivamente, com o chamariz dos Jogos, mesmo podendo haver algumas greves, alguns protestos, estejam capazes de resolver e de todo limitar o impacto das mesmas na organização dos Jogos. É efetivamente uma cidade que tem até esta característica, e nós, sendo um país pacífico como somos, não estamos habituados a estas manifestações tão veementes e, muitas vezes até, infelizmente, com recurso a alguma violência, e temos naturalmente alguma preocupação sobre isso”, afirmou.
Para Marco Alves, “do ponto de vista das instalações desportivas, as coisas também estão garantidas”, até porque “uma grande percentagem dos espaços vai ser simplesmente adaptada às respetivas competições”, tendo sido apenas construído o Parque Aquático e a Arena de La Chapelle.
“Mas recorre muito a espaços icónicos da cidade, basta ver a distribuição de competições que acontece desde Les Invalides até à Praça da Concórdia, [...] em edifícios icónicos da cidade, como o Grand Palais, o sopé da Torre Eiffel. Há um recurso a muitas instalações que já existem na cidade, o que, do ponto de vista da preparação das mesmas, dá outra segurança”, assegurou.
Os Jogos Olímpicos Paris'2024 decorrem de 26 de julho a 11 de agosto.
Marco Alves espera cerimónia icónica e no rio Sena
O chefe da Missão portuguesa aos Jogos Olímpicos Paris'2024 acredita que a cerimónia de abertura vai mesmo acontecer no rio Sena, esperando um momento icónico e que vai alterar o paradigma da celebração.
Em entrevista à agência Lusa, na véspera de se assinalarem 200 dias para o arranque de Paris'2024, Marco Alves revela que “todas as informações, quer sejam oficiais, quer sejam mais informais, é que efetivamente a cerimónia de abertura será concretizada no Rio de Sena”, apesar de “muita resistência de alguns países”, sobretudo por razões de segurança.
“Desse ponto de vista [segurança], há efetivamente, alguns países que decidiram que se vão fazer representar com uma delegação mínima na cerimónia de abertura”, admitiu.
Apesar de ser um sonho de qualquer qualificado participar na cerimónia de abertura, esta traz sempre algum cansaço extra aos atletas, pois é um dia “muito pesado naquilo que é a preparação da competição” e “são muitas horas antes que eles têm estar disponíveis para se poderem mobilizar para o local da cerimónia”.
“Há aqui muitas questões também mais relacionadas até com o descanso e com a recuperação, que são naturalmente avaliadas. Nós próprios temos esta conversa com os treinadores já durante os Jogos para avaliar, efetivamente, esta participação, porque é um dia, muitas vezes, demasiado longo tendo em conta aquilo que vai acontecer poucos dias depois”, referiu.
Contudo, para Marco Alves, apesar de todas as questões de segurança colocadas, por ser em espaço aberto e não num estádio, como aconteceu até esta edição, esta “não deixa de ser uma cerimónia icónica”.
“A concretizar-se – eu acho que vai acontecer –, vai ser uma cerimónia diferente de todas as outras, acho que vai mudar o paradigma da cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos. Deixar o estádio, permitir a envolvência com a cidade, permitir que, efetivamente, mais pessoas vivam aquilo que é o início da celebração dos Jogos Olímpicos. Eu acho que, desse ponto de vista, o projeto tem muito mérito”, concluiu.