A Rússia foi banida de Olímpicos e Mundiais pelos próximos quatro anos
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O escândalo de doping da Rússia saltou para a ribalta em dezembro de 2014, num documentário da televisão alemã ARD intitulado "Dossier secreto de doping: como a Rússia fabrica os seus campeões".
Em 2015, agência Mundial Antidopagem (AMA), que esta segunda feira determinou que os russos estão banidos, por quatro anos, de todas as competições de caráter mundial, como Jogos Olímpicos e Campeonatos do Mundo, iniciou uma investigação.
O trabalho destapou um complexo esquema de manipulação de resultados, com ramificações que chegam às autoridades estatais e estas foram algumas das conclusões de um relatório de 2015, feito por uma comissão independente da AMA liderada pelo advogado Richard McLaren:
- O esquema começou em 2011 sob o nome de "Método de desaparecimento de positivos";
- Mais de 1400 testes e amostras foram destruídos pelo laboratório de Moscovo, depois de terem sido notificados pela AMA para preservarem as referidas amostras. Vários médicos e staff do laboratório colaboraram no esquema;
- Elementos da agência russa antidopagem, além de ter aceitado subornos, intimidaram agentes responsáveis pelo controlo, bem como as suas famílias e alertavam os atletas antes da realização dos testes;
- Membros do Serviço Federal de Segurança - agência russa de serviços de informação e inteligência - eram presença nos laboratórios, como parte de uma interferência e intimidação direta por parte do Estado russo.
- Vários atletas russos suspeitos de doping podiam ter sido suspensos dos Jogos Olímpicos de 2012, se não fosse a "coletiva e inexplicável política de desleixo" por parte da IAAF (Federação Internacional de Atletismo).
Um novo relatório, publicado um ano depois, deu conta que os russos, através de Grigor Rodchenko, diretor do laboratório de Moscovo, desenvolveram um "cocktail de esteroides" otimizado para passar indetetável nas análises e que devia ser absorvido na boca com ajuda de bebidas alcoólicas.
Por outro lado, a investigação concluiu que o ministro dos desportos da Rússia entre 2008 e 2016, Vitaly Mutko, dirigia o esquema de manipulação de amostras de urina. Era este político quem decidia o que fazer com cada atleta: guardar a amostra positiva e deixá-lo competir dopado, ou pôr o atleta em "quarentena" antes de remetê-lo para o processo normal de controlo.
Para os Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi (Rússia) em 2014, por exemplo, o esquema de adulteração de amostras funcionava assim, de acordo com o relatório:
1 - Antes da competição, os atletas forneciam amostras de urina sem que as substâncias dopantes estivessem no sistema;
2 - As autoridades russas armazenavam-nas em câmaras congeladoras;
3 - Os atletas eram injetados com substâncias dopantes;
4 - Durante a competição, os atletas forneciam novamente amostras de urina, sob a vigilância dos controladores antidoping;
5 - Essas amostras eram roubadas durante a noite por um buraco entre as paredes e levadas por um agente dos serviços secretos, disfarçado de canalizador;
6 - As amostras eram manipuladas para que não se percebesse a alteração. Pelo menos a olho nu. No entanto, análises com o microscópio detetaram marcas e vestígios nos frascos;
7 - Os frascos, agora com amostras de urina limpa de drogas, eram de novo colocadas no laboratório para serem analisadas na manhã seguinte.
Notícia editada às 14h43: referência de que o caso escândalo rebentou com o documentário da cadeia de televisão alemã.