A viver em Portugal, Keletela quer representar "83 milhões de refugiados" em Tóquio'2020
Dorian Keletela, de 22 anos, é um dos desportistas apoiados pelo Comité Olímpico de Portugal (COP) e um dos 29 atletas da equipa de refugiados em Tóquio'2020, tendo hoje cumprido a estreia com a vitória na terceira série da ronda preliminar, estabelecendo o recorde pessoal em 10,33 segundos.
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O congolês Dorian Keletela, há cinco anos acolhido em Portugal, quer representar os 83 milhões de refugiados no mundo nas semifinais dos 100 metros dos Jogos Olímpicos Tóquio'2020.
Dorian Keletela, de 22 anos, é um dos desportistas apoiados pelo Comité Olímpico de Portugal (COP) e um dos 29 atletas da equipa de refugiados em Tóquio'2020, tendo hoje cumprido a estreia com a vitória na terceira série da ronda preliminar, estabelecendo o recorde pessoal em 10,33 segundos.
"Hoje foi importante passar aos quartos de final, porque eu tenho o objetivo de chegar às semifinais. Estou feliz por ter a possibilidade de fazer isso, agora é descansar e voltar hoje à noite para competir", afirmou o congolês, que veio sozinho para Portugal, aos 17 anos, depois de ter ficado órfão e ter ficado a viver com uma tia, alvo de perseguição política no Congo.
O resultado hoje alcançado, o quarto melhor nas três séries preliminares, vai permitir ao velocista do Sporting disputar a primeira eliminatória, tentando ser um dos três primeiros ou um dos três mais rápidos entre os restantes. O congolês vai disputar a segunda série, às 19:53 locais (11:53 em Lisboa), na qual se apresenta com o pior registo de 2021 e pior recorde pessoal.
No entanto, isso não demove a confiança de Dorian Keletela: "Penso que à tarde é possível correr em 10,15, vamos mostrar isso".
Esta convicção decorre dos últimos quatro meses de treino, com o medalhado de prata em Atenas'2004 no hectómetro, o português Francis Obikwelu.
"Eu comecei a treinar com o Francis [Obikwelu] em março, foi complicado, mudou tudo, mas estou em forma e vou mostrar o trabalho que foi feito nos últimos quatro meses. Para mim, o Francis é uma pessoa muito importante, quase um pai, ele ajuda-me muito, dá-me muitos conselhos. Foi um atleta fantástico e é uma pessoa fantástica", elogiou o velocista.
Keletela assumiu estar a cumprir um sonho de criança, tendo também a responsabilidade de representar todos os refugiados do mundo.
"A experiência está a ser boa. Muita gente pensa que os refugiados são pessoas más, mas são pessoas normais, como qualquer uma, mas que tiveram de fugir do seu país para procurar segurança noutro. Estar nos Jogos Olímpicos é o sonho de menino que estou a concretizar. Representar a seleção dos refugiados é diferente de um país. Tendo 83 milhões de refugiados no mundo, acho que representamos todos os que passam dificuldade na vida. É um orgulho muito grande", salientou.
Há cinco anos em Portugal, alimentou a esperança olímpica graças ao diretor técnico de atletismo do Sporting, Carlos Silva, prometendo permanecer num país "muito bom" e onde se sente bem, e que até gostaria de representar: "Agora estou como refugiado, mas não posso dizer que não. Gostava de representar Portugal".
Além de Dorian Keletela, também o pugilista afegão Farid Walizadeh integra o programa de Solidariedade Olímpica do COP "Viver o desporto, abraçar o futuro".