ENTREVISTA (parte 1) - Norberto Alves, treinador da Oliveirense, passou em revista a época em que venceu Supertaça, Taça Hugo dos Santos e Liga. Faltou a Taça, perdida para o FC Porto, para fazer a dobradinha em ano de bi.
Corpo do artigo
A Oliveirense é bicampeã nacional. Na final do play-off, em casa, venceu o primeiro jogo e perdeu o segundo, ganhando depois duas vezes na Luz.
Na Oliveirense, Norberto Alves ganhou duas Ligas, uma Supertaça e uma Taça Hugo dos Santos.
Esta final foi mais difícil do que a do primeiro título?
- Sim. Por um lado, o Benfica tinha jogadores muito bons e, com a entrada de Carlos Lisboa, a equipa rendeu mais; por outro lado, perdemos jogadores importantes. Agora que ficou 3-1, pareceu fácil, mas não foi. A chave foi o terceiro jogo: estávamos a perder por sete/oito pontos e a equipa mostrou o que a caracteriza, que é uma força mental tremenda e uma coesão enorme.
O que aconteceu no segundo jogo e o que disse aos jogadores?
- Aconteceu que o Benfica teve 42 lances livres e nós 23. Já tínhamos vencido na Luz e sabíamos que era possível. Temos uma grande cumplicidade e sabíamos que o terceiro jogo ia ser determinante. Foi importante termos o núcleo duro da época passada e um espírito coletivo tremendo.
No quarto jogo, em que momento sentiu que ia ser campeão?
- Tínhamos de entrar bem e não os deixar ganhar confiança. Depois do intervalo, eles reagiram, mas sabíamos que se colocássemos intensidade defensiva, não iriam resistir a um segundo momento. Somos uma equipa baixa e o nosso modelo não pode ser assente em meio campo, mas em muita defesa e muita transição. Aumentando a defesa, senti que éramos campeões.
A questão mental foi a mais relevante?
- Sim, é a base de tudo. E foi importante nunca deixarmos fugir o Benfica completamente. Surpreendemos o adversário com uma defesa que deu um resultado fantástico no prolongamento, porque em três minutos virámos o jogo.
11026801
Festejar na Luz, como foi?
- O que mais me sensibilizou foi, a uma segunda-feira, os bilhetes esgotarem. Tivemos um apoio impressionante e o que me emocionou foi mesmo as pessoas estarem lá.
E o abraço a Carlos Lisboa?
- O Carlos entendeu que a nossa equipa foi a melhor. Ele está de parabéns porque, entrando tarde, mudou muita coisa para melhor.
No Libolo, foi campeão angolano e africano. Foi ainda campeão feminino no Olivais Coimbra.
Festeja pouco. As vitórias duram-lhe pouco?
- Sim. A três minutos do fim estávamos a ganhar por 20 pontos e acho que já tinha passado. Comemorei com os adeptos, mas tinha passado.
O campeonato também foi mais difícil?
- Sim. E este ano tivemos mais gente nos pavilhões. A Oliveirense sacudiu o basquetebol e a modalidade precisa disto. A Bloomberg publicou um estudo em que, em 18 mercados do mundo, esta modalidade surge atrás do futebol. Precisamos de a promover. Às vezes criticam as equipas portuguesas por não conseguirem competir internacionalmente, mas saibam que uma equipa de andebol ou hóquei, se tiver dois milhões de orçamento, pode ser campeã da Europa; as melhores equipas da Euroliga têm 50 milhões.
Contratou a meio da época porquê?
- Porque tínhamos um plantel limitado e se tivéssemos uma lesão, a época acabava. O Eddy Norelia estava a ser despedido da II divisão francesa e era acessível... Curiosamente, ele chega e, pouco depois, o Thomas [Thaey] lesionou-se e parou dois meses, e também o Coleman, que ficou um mês sem jogar. Apontaram-nos o dedo, mas se tivesse o dinheiro dos outros, não tinha mais um, tinha mais dois jogadores. Não se queixem, usem o que têm.
Fala muito do orçamento. Vai poder reforçar-se?
- Para ganhar, é preciso tempo, talento e dinheiro. Para a Oliveirense poder competir com Benfica, FC Porto e Sporting, terá de subir o orçamento, que foi esta época de 350 mil euros, para pelo menos 40 por cento do desses clubes, que está acima de um milhão, sendo que a massa salarial é mais ou menos 70 por cento desses números. Tenha eu o orçamento que tiver, vou tentar ganhar na mesma.
Para ganhar tudo, faltou a Taça. O que falhou na final?
- Sem tirar mérito ao adversário [FC Porto], entrámos no último período a ganhar e o jogo passou de normal para um jogo em que o adversário o levou para uma situação física, em que quem arbitrou devia ter estado mais atento. A final da Taça foi muito difícil. Éramos a melhor equipa. Não senti que fosse justo e foi importante, porque não nos desunimos.
Criou uma ligação especial à Oliveirense?
- Faltava um clique para ganhar. Era uma cidade com alguma frustração de ir a finais e não vencer. Isso está ultrapassado. Gosto muito do clube e da maneira como as pessoas vivem a equipa.
A t-shirt que antecipou o bi
e o assédio do Sporting ao plantel
O bi começou na história de uma t-shirt que Norberto Alves mandou fazer após o primeiro título. "Dizia: 2018/19, bicampeões." Foi aí que prometeu ficar, contagiando toda uma equipa. "Disse aos jogadores que ia ficar e que íamos ser campeões. Começava na camisola. Ficámos todos, menos dois."
Agora, mesmo recusando ofertas financeiramente mais atrativas e à beira de perder jogadores, quer continuar: "O Sporting, por exemplo, falou com jogadores nossos. Disseram que iam buscar quem queriam e estão a fazer isso. Teremos de ir buscar alguém, mas financeiramente não somos iguais aos outros. Vai ser difícil segurar os melhores jogadores."