Os critérios de acesso à Liga Europa 1 (LE1) e 2 (LE2), anunciados pela UEFA no domingo, estão a provocar algum descontentamento à escala continental, nomeadamente na Bélgica, Ucrânia, Turquia, Holanda, Áustria, Dinamarca, Grécia e Suíça, que, tal como Portugal, perdem duas vagas na futura segunda competição, isto é, a atual Liga Europa.
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Na imprensa internacional, somam-se as análises ao impacto que terá a implementação da nova competição, a partir de 2021/22, junto das equipas das chamadas ligas médias, com consequências económicas e financeiras imprevisíveis, já que dois terços desses emblemas serão relegados para a "terceira divisão" europeia.
Conforme O JOGO ontem noticiou, caso Portugal não suba do sétimo lugar no ranking da UEFA perderá a atual vaga direta que tem na Liga Europa, assim como verá as outras duas vagas serem recolocadas na Liga Europa 2, ao que acrescerá a necessidade de os apurados terem de passar por fases eliminatórias antes da fase de grupos.
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Estabelecendo um paralelo entre o atual panorama e as classificações médias no campeonato português, pode acontecer que dois dos seus quatro mais habitais "clientes" das eurotaças - FC Porto, Benfica, Braga e Sporting - terão de se bater nas pré-qualificações da Liga Europa 2 no início de 21/22.
É precisamente o mesmo raciocínio que está a ser feito nos países acima referidos, mas também entre comentadores dos países melhor classificados no ranking, por isso mais beneficiados, na medida em que praticamente não perdem vagas. Pode parecer estranho, mas há um raciocínio comum entre beneficiados e prejudicados: a prazo podem perder todos. E dizemos a prazo porque é sintomático que se leia hoje no Berliner Kurier, diário da capital germânica, algo como "a UEFA não tem nenhum interesse em incentivar os clubes menores".
O cronista alemão Sebastian Schmitt escreve: "Apenas as grandes ligas e os seus clubes mais emblemáticos serão beneficiados (...), adoçados com uma grande e crescente quantidade de dinheiro, enquanto os mais pequenos terão que se atormentar com quatro ou cinco rondas de qualificação até à fase de grupos".
"É a cota de televisão que determina o raciocínio dos seus [da UEFA] executivos"
"A UEFA não tem nenhum interesse em puxar por clubes da Hungria ou da Grécia" e "é a cota de televisão que determina o raciocínio dos seus executivos", escreve ainda, nomeadamente a propósito do calendário e horário previsto para os jogos da LE2: quintas-feiras, a meio da tarde.
Por sua vez, o também alemão Kölner Stadt-Anzeiger, de Colónia, refere, pelas palavras do cronista Von Paul Gross: "A Liga Europa 2 é o culminar de uma alienação absurda. É a quantidade em vez de qualidade, o comércio em vez da relevância".
O Copenhagen Post, sedeado na capital dinamarquesa, anota que o propósito de aumentar o número de equipas a disputar competições europeias com o aparecimento da LE2 "não beneficia necessariamente a liga" daquele país. "Os críticos argumentam que este formato servirá apenas para enriquecer as equipas maiores, enquanto as menores ficarão mais pobres, expandindo-se a disparidade que cresceu massivamente nas últimas duas décadas", refere o periódico dinamarquês, um dos países que perde duas vagas na LE1.
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A Escócia, atual 20.ª classificada, tem atualmente três vagas na LE1. Mas, pelas mesmas contas, as três passarão por inteiro para a LE2, noticia hoje a cadeia britânica BBC, recordando que o campeão escocês, se não se conseguir apurar nas qualificações para a fase de grupos da Champions, cairá diretamente para a terceira prova da UEFA, em vez de ficar na segunda (a atual Liga Europa), conforme aconteceu na presente temporada.
A decisão está tomada, mas adivinha-se um período de contestação, que mais depressa levará a alguns ajustes no capítulo financeiro (os critérios de distribuição de receitas mais os seus mecanismos de solidariedade ainda não foram aprovados) do que ao retroceder da UEFA.
Tanto a ECA (associação europeia de clubes, encabeçada pelos emblemas mais poderosos) como a European Leagues (associação das ligas profissionais, preocupada com o balanço competitivo nas provas nacionais e no continente) deverão posicionar-se publicamente nos próximos dias, nomeadamente sobre os critérios económico-financeiros na relação das futuras três competições.