Habituados a correr pelas vagas europeias, Vitória de Guimarães, Rio Ave e Marítimo receiam que a LE2 venha a acentuar o fosso entre ricos e pobres, a partir de 2021/22 e questionam se valerá a pena
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O assunto reclama "explicações e, essencialmente, maturação", avisou Júlio Mendes. Tal como o presidente do Vitória de Guimarães, também António Silva Campos, do Rio Ave, e Carlos Pereira, do Marítimo, fizeram essa ressalva: ainda há muito por saber do impacto da recém-anunciada Liga Europa 2 (LE2) no futebol nacional. No entanto, coincidem na convicção de que o cenário não é animador - e obrigará a ponderar se interessa.
Aplicadas as novas regras à luz do atual sétimo lugar de Portugal no ranking, só a qualificação para a Liga dos Campeões não mudaria. Deixaria de haver vaga direta na fase de grupos da LE1, atualmente destinada ao vencedor da Taça de Portugal ou ao terceiro classificado, que teria de disputar um play-off. O quarto e quinto classificados (dependendo do vencedor da taça) seriam relegados para a LE2, onde disputariam, respetivamente, a terceira e a segunda pré-eliminatória e ainda o play-off de acesso à fase de grupos.
"As federações cada vez mais olham para si e menos para os clubes",diz Carlos Pereira, presidente do Marítimo
"Aquilo que parece estar a ser desenhado é, uma vez mais, a perda de poder e de influência do futebol português ao ser criada uma competição que contribuirá para a concentração de receitas nos clubes pertencentes às ligas europeias mais mediáticas e que já são, por norma, clubes excedentários", lamenta Júlio Mendes. "Num momento em que a preocupação deveria ser equilibrar as competições, criam-se competições secundárias, certamente com proveitos inferiores e com menor mediatismo que apenas ajudam a criar um fosso maior entre os vários países", antecipa. António Silva Campos, presidente do Rio Ave, também quer saber da "parte financeira" deste projeto, "os benefícios, as vantagens" que não se descortinam nas regras de acesso.
"Contribuirá para a concentração de receitas nos clubes das ligas mais mediáticas", afirma Júlio Mendes, presidente do V. Guimarães
As provas europeias impõem um calendário muito preenchido, lembra, e também custos significativos, designadamente, com deslocações que obrigam a voos especiais. Mas, há mais, diz quem sente na pele as dificuldades de começar a época mais cedo, a necessidade de "fechar o plantel" quando o mercado prefere esperar para ver, e de enfrentar um calendário apertado, sem os recursos económicos dos clubes ricos. "Temos de ponderar muito bem se esta Liga Europa é ou não vantajosa para nós", acautela: "Se a receita fosse de milhões e se refletisse no orçamento, aí sim. Participar por participar para perder dinheiro e haver um esforço de toda a estrutura, temos de pensar bem". Carlos Pereira, presidente do Marítimo, antecipa "prejuízo" para as ligas nacionais. Serão "cada vez mais regionais", face ao "fosso para a Liga dos Campeões e a Liga Europa". A mudança deixa-o triste com as "federações" em quem "os clubes delegam a sua representação": "Cada vez mais olham para si e menos para os clubes".