A nova fórmula de divisão das verbas geradas pelos acordos internacionais dos direitos de televisão da Premier League entra em vigor a partir da próxima época. O jornal The Telegraph fez as contas e abre-se um fosso pouco olímpico entre os seis maiores emblemas e os restantes. Os valores, parciais e totais, são astronómicos.
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Após a atual temporada, com a entrada no novo ciclo 2019-22, Arsenal, Chelsea, Liverpool, Manchester City, Manchester United e Tottenham - os "big six" ingleses - serão os maiores beneficiados pela nova fórmula de distribuição das receitas dos direitos internacionais de televisão, acabando a partilha igualitária, que existe desde que a Premier League foi fundada, em 1992.
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Os ingleses estimam em cerca de 88 milhões de euros (75 milhões de libras) a diferença (em três épocas) entre os primeiros e os últimos classificados na distribuição sob a nova fórmula, que, ainda assim, garante a cada emblema, anualmente, um mínimo de 40,7 milhões de libras (cerca de 47,7 milhões de euros), com base no valor que até aqui recebiam (a partir dos 3,3 mil milhões de libras gerados no triénio 2016/19). Tudo o resto será calculado com base na diferença gerada pelo incremento do valor dos direitos internacionais de transmissão da Premier League, que vai crescer mais de 25 por cento.
Antes de mais, é importante saber que a Premier League estima ter receitas de 4,05 mil milhões de libras (cerca de 4,7 mil milhões de euros, a preços pré-Brexit) com a venda dos direitos no triénio que se aproxima. Será a última negociação encabeçada por Richard Scudamore, presidente do organismo que organiza e gere a principal liga britânica (a mais rentável do mundo), prevendo-se que seja um pouco menos que as que conseguirá internamente: 5 mil milhões de libras (5,8 mil milhões de euros).
Ou seja, face aos 3,3 mil milhões de direitos internacionais do triénio que agora termina, sobrarão 700 milhões de libras (mais de mil e cem milhões de euros) para serem repartidos, a partir da próxima época, por meritocracia desportiva, tal como acontece com as receitas dos direitos internos. Ou seja, o campeão recebe mais do que o segundo classificado e por aí adiante. Mas, o que parece ser um critério que premeia o desempenho desportivo, torna-se, contas feitas, um racional que, segundo o diário inglês The Telegraph, "prejudicará o equilíbrio competitivo da liga".
Ora bem, o que para nós portugueses, consumidores e equipas, habituados a essas discrepâncias entre os emblemas que disputam a I Liga, para os ingleses é uma questão de rotura, com consequências imprevistas para o equilíbrio competitivo e económico da Premier League. Desde logo, na competitividade de todos os emblemas, que é um dos atrativos do campeonato mais rentável em todo o mundo.
Só para a China, o seu segundo mercado mais valioso, já valem 535 milhões de libras, ou seja, 627 milhões de euros.
Segundo o periódico inglês, esta alteração, aliada ao aumento do valor dos direitos internacionais, "aumentará o abismo económico entre os maiores emblemas e os restantes". Com a distribuição escalada pelas posições no campeonato, o seu vencedor receberá anualmente, além dos cerca de 40 milhões de libras (igual para todos), mais 23,8 milhões de libras (cerca de 28M€), seguido por 22,6 para o segundo, 21,4 para o terceiro, 20,2 para o quarto, 19 para o quinto, 17,8 para o sexto e 16,6 para o sexto. O último classificado, por exemplo, receberá pouco mais de um milhão de libras (1,17 milhões de euros), além dos 40 anteriormente garantidos. Para o caso, é uma diferença grande e nunca experimentada no campeonato inglês.
O fim da igualdade no critério solidário de distribuição dos direitos internacionais, apesar de manter aquela verba fixa, conforme o mínimo acordado até ao final desta época, torna-o mais próximo do critério de distribuição dos direitos nacionais, que é também feita por mérito desportivo. Uma mudança que, segundo o The Telegraph, ajudará equipas como o Manchester City a cumprir as regras do fair-play financeiro, imposto pela UEFA.
"A nova fórmula de distribuição de receita aumentará a polarização financeira na liga inglesa e dificultará, ainda mais, a entrada das equipas nos seis primeiros", refere o diário britânico, cujo cálculo permite perceber que o total de receitas previstas pela venda externa e interna dos direitos televisivos subirá para um total de nove mil milhões de libras (10,5 mil milhões de euros) entre 2019/20 e 2021/22. Valeram 8,6 mil milhões no atual triénio.
E como os direitos internacionais crescem face aos internos (de 5,3 para 5 mil milhões de libras), permite concluir que a Premier League depende cada vez mais da sua internacionalização, admitindo-se que sejam até mais rentáveis que os direitos caseiros a partir de 2022. Só para a China, o seu segundo mercado mais valioso, já valem 535 milhões de libras, ou seja, 627 milhões de euros.