Ligas europeias mantêm braço de ferro com a ECA e chamaram os clubes à margem da sua associação. Hoje houve reunião na UEFA e os responsáveis pela indústria do futebol manifestaram-se contra a proposta de superliga na Champions.
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A European Leagues, associação das ligas europeias, jogou hoje todos os seus argumentos, na reunião que manteve com o Comité Executivo da UEFA, para travar a possibilidade de transformar a Liga dos Campeões numa prova com privilégios de acesso aos emblemas de maior dimensão, conforme propôs a recentemente a ECA, associação europeia de clubes. Além das preocupações reveladas, terão manifestado a intenção de assumir mais poder na hora das decisões. À saída, os representantes das ligas mostraram satisfação pela abertura de "um diálogo aberto e transparante" no processo.
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European Leagues (EL) e ECA têm assento no Comité Executivo da UEFA e tem-se intensificado a batalha entre ambas no que diz respeito às mudanças nos quadros competitivos europeus (entre clubes), que estão a ser preparadas para o ciclo 2024/27. A elitização da Champions, conforme preconiza a ECA, é algo que as ligas profissionais não querem que aconteça.
Hoje, junto da UEFA, tentaram dissuadir o organismo que tutela o futebol europeu da tentação de criar uma prova de rendimentos financeiros extraordinários, mas catastróficos para as competições de cada país e para a maior parte dos emblemas, conforme o têm dito as ligas, mesmo as maiores: Inglaterra, Espanha, Alemanha e França. A Liga portuguesa está do lado das intenções das restantes congéneres.
Entre as grandes, apenas a Itália se tem refugiado em algum silêncio sobre a matéria, um contraste que advém das posições assumidas por dois dos seus mais fortes emblemas: a Juventus e o Nápoles. No primeiro caso, o presidente do clube de Turim, Andrea Agnelli, patrão de Cristiano Ronaldo, tem sido o porta-voz do projeto de superliga europeia, sendo também o presidente da ECA. Proposta que envolve promoções e despromoções dentro da mesma competição, reduzindo vagas para os campeões domésticos.
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Também de terras transalpinas surgiu, há dias, outra proposta revolucionária, esta da autoria do presidente do Nápoles, Aurelio Di Laurentiis, não tanto pelo fator elitização, mas toda ela passível de grande impacto na calendarização semanal: uma competição com 80 equipas de todas as ligas, com seis representantes das cinco maiores, quatro de Portugal, Holanda, Bélgica e Suécia, e duas ou uma das restantes ligas. Tudo em quatro grupos de 20, durante 19 jornadas. Onde encaixar tudo isto, mesmo acabando com as atuais Champions e Liga Europa, conforme referiu?
Foi debaixo deste cenário montado por emblemas de dimensão gigantesca, com os italianos na frente de um pelotão de luxo, mas mais discreto, que a European Leagues se reuniu hoje com a UEFA. Após o seu termo, em declarações a O JOGO, Alberto Colombo, secretário-geral adjunto da organização ,afirmou: "Estamos satisfeitos pelo facto de o diálogo com a UEFA ser agora aberto e transparente. Vamos ver como decorrem as conversações e discussões no futuro".
Segundo O JOGO apurou, os representantes da European Leagues revelaram à UEFA a sua pretensão num maior envolvimento nos debates e nos procedimentos em curso no que diz respeito a quaisquer propostas de alteração do calendário futebolístico internacional. Algo que já vinha referido num comunicado difundido terça-feira, após o encontro, em Madrid, entre o organismo e mais de duas centenas de emblemas de 38 ligas europeias.
"É fundamental que as ligas e os clubes, pequenos e grandes, se unam e não permitam que ninguém decida por si".
Por outro lado, escudados em argumentos sobre a representatividade da indústria, terão manifestado a intenção de assumir maior preponderância nas decisões do organismo, ao que não será alheio o facto de a ECA ter, atualmente, dois representantes no Comité Executivo da UEFA e a EL ter apenas um.
Relativamente à questão da representatividade, a mesma esteve latente no encontro de que foram anfitriões, na terça-feira, Lars-Christer Olsson, presidente da European Leagues, e Javier Tebas, seu congénere na Liga espanhola. Foi o primeiro encontro entre o organismo e os emblemas de todos os países, em modo de Plataforma de Assessoria de Clubes, fórum que funcionará de forma mais sistematizada (próximo previsto para outubro) sob a égide das ligas europeias, com a missão de esclarecer junto dos clubes as posições comuns à indústria.
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Foi, também, algo que aconteceu poucos dias após uma brava troca de "galhardetes" entre European Leagues e ECA, mantida em finais de abril, levando a que os responsáveis pelas competições domésticas tenham optado por falar diretamente com os clubes associados da ECA. Iniciativa que gerou, por exemplo, a presença de Agnelli nesse encontro, mas na qualidade de presidente da Juventus.
No fundo, chegaram à UEFA um conjunto de preocupações com as eventuais alterações às competições europeias com impacto negativo nos campeonatos nacionais, assim como a manifestação da convicção de que é através do mérito e desempenho desportivo e das qualificações por via das provas domésticas que a Champions e a Liga Europa têm sucesso. Argumentos secundados por associações de adeptos, que também estiveram presentes na reunião da plataforma acima referida.
Javier Tebas, que tem sido o mais dinâmico porta-voz dos interesses das ligas face ao poderio económico-financeiro representado pela ECA, afirmou, no final: "É fundamental que as ligas e os clubes, pequenos e grandes, se unam e não permitam que ninguém decida por si".
(ATUALIZADA ÀS 17H22)