Walter: "Nunca neguei problemas com o peso, mas eu não gosto de beber, o meu 'negócio' é comida"
Declarações de Walter, antigo avançado do FC Porto, agora com 33 anos, em carta publicada no "Globoesporte"
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Peso: "Nunca neguei problemas com o peso. Chamam-me cachaceiro, mas eu não gosto de beber. O meu 'negócio' é comida. Coca-cola, biscoito recheado... E não tem quantidade, tipo assim, comer 20 biscoitos por dia... É abrir a boca. As pessoas apontam o dedo, julgam, mas ninguém quer entender. Cada um tem sua história e a minha, irmão, é de um menino que ia ao mercado, queria algo a mais para comer e não tinha nada no bolso. Engolia o choro e seguia. Quando eu voltei para o Athletico, em 2020, fiz um tratamento. O clube contratou um psicólogo para conversar todos os dias comigo e ele disse: "Walter, o seu problema é compensar na comida o que não teve no passado. Nós vamos tratar". Perdi 23 kg em quatro meses, cheguei a 90 kg, até hoje o meu menor peso."
Caso de doping e o apoio da mãe: "Dona Edith apoiou-me em todos os momentos. Estava comingo nos bons e, principalmente, nos maus. No pior deles: o doping. Desapareci do mapa durante dois anos, isolei-me. Não via televisão, não assistia nada de futebol. Joguei até em equipas de pelada para ganhar dinheiro. Na época, eu jogava no CSA em 2018 e acabei por tomar um remédio para emagrecer depois de receber uma mensagem de uma mulher no Instagram, a pedir para fazer uma parceria. Falei com o médico do clube, ele autorizou e eu tomei. Fui inocente em confiar nas pessoas. Inocência que custou caro: mais de 1,5 milhões de reais - gastos entre processos na Justiça e pagamentos de advogados. Pelo menos durante a suspensão por doping eu vi quem é quem. Quem são os meus amigos de verdade. Porque no futebol tens conhecidos. Amigos mesmo eu conto pelos dedos. Como Hailé Pinheiro, presidente do Goiás, que tirou 100 mil reais do bolso para eu ser julgado no Tribunal Arbitral do Desporte (TAS), na Suíça. Tínhamos esperança de barrar a ampliação da pena, que era de um ano, para dois de afastamento. Não deu certo. Também não esqueço de quem me ajudou a sair do buraco quando finalmente voltei a jogar: Petraglia, presidente do Athletico. Disputei Libertadores, Série A e Copa do Brasil. Dois anos depois de viver a pior fase da minha carreira."
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Regresso ao zero: "Pensei em largar o futebol, estava cansado. Tomei um tempo para mim mesmo. Acima de tudo, ouvi. Ouvi a minha família e, principalmente, a minha filha, Catarina. "Pai, não desistas, faz o que sabes". Por ela, continuei. Afinal, a minha caminhada sempre foi essa: cair e levantar. Ainda quero voltar a jogar uma Série A, Série B. Tenho esse sonho. Sei da minha capacidade. Mas, igualmente, sei que eu preciso mais de mim. Porque estas últimas experiências em equipas menores, com todo o respeito, mostraram a realidade. O meu momento no futebol: apanhei um susto. A gente tende a sofrer no começo da carreira, indo para equipas menores para crescer mais à frente. E comigo aconteceu o oposto. Confesso que passar pelo que eu passei nos últimos dois anos é diferente de tudo."
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