"Visitámos as ilhas, a gritar o nome de Emi, à espera que ele nos ouvisse..."
Testemunho impressionante da mãe de Emiliano Sala, antigo futebolista que faleceu depois de o avião que o levaria a Inglaterra se despenhar no Canal da Mancha, a 21 de janeiro de 2019.
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Continua a decorrer em Bournemouth o julgamento que visa apurar responsabilidades pela morte de Emiliano Sala, antigo jogador argentino vítima de um acidente de avião, a 21 de janeiro de 2019, quando o argentino viajava de Nantes para Cardiff para assinar contrato com o clube inglês.
Esta terça-feira é divulgada parte do emotivo testemunho - que foi feito por escrito - da mãe, Mercedes Taffarel.
"O Cardiff colocou pressão sobre ele [Sala] para que a transferência fosse rapidamente fechada, mas o Nantes queria mais dinheiro e ele ficou no meio daquela situação. Ele estava na dúvida, aquelas semanas foram intensas", começou por afirmar. Depois de tomada a decisão, o antigo futebolista estava feliz, recorda a Taffarel.
"Era um jovem com toda a vida pela frente, cheio de sonhos para o futuro. Estava ansioso para jogar numa liga tão importante como a inglesa. Queria aprender inglês e viajar para alguns dos mais importantes locais do Reino Unido, ele adorava viajar", continuou.
A mãe de Emiliano Sala contou ainda como o filho se apaixonou pelo futebol: aos quatro, anos, levou a um clube para gastar energias, mas rapidamente o desporto passou a ser uma das coisas mais importantes para ele, que cedo saiu de casa para viver o sonho. "Um dia disse-me que eu tinha de o deixar ir, que se não o deixasse, estaria a matá-lo", recorda. Sala foi então para um clube a 200 km de casa, em Córdoba, seguindo-se uma equipa com ligações ao Bordéus, sendo que aos 20 anos se mudou para França.
"Adotou um cão num abrigo local que lhe fazia companhia, porque ele adorava animais. Era uma pessoa que gostava de calor humano, muito próximo dos companheiros de equipa. Era feliz lá", afirmou a mãe sobre Nantes, onde tinha uma vida estável antes de surgir a possibilidade de rumar ao Cardiff.
Chega então o testemunho dos dias mais aterradores. "Falámos no sábado [dia 19 de janeiro de 2019] e ele disse-me que ainda tinha coisas para resolver em Nantes. Depois, como não nos disse nada, pensei que tinha chegado a Cardiff cansado e que tinha adormecido", revelou. Às 6h00, o empresário do antigo futebolista ligou à família para comunicar o desaparecimento do avião que o levaria para Inglaterra. Dias mais tarde, as buscas foram dadas como terminadas, antes de encontrados os destroços, mas a família não ficou conformada e conseguiu arranjar dinheiro para que a procura pelo corpo continuasse.
"Discutimos com as autoridades, mas eles não queriam continuar... Com um tempo muito frio, nós visitámos as ilhas, a gritar o nome de Emi, à espera que ele nos ouvisse... Acabou em dor, uma dor que permanece até aos dias de hoje. Nada pode trazer o Emi de volta, mas agora pedimos justiça, para que possamos ter paz de espírito e ele possa descansar em paz", concluiu Mercedes Taffarel.