Bom de bebida e com 18 anos, Deeney matava o vício pelo futebol nos amadores do Chelmsley Town.
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A vida de Troy Deeney não tem sido um passeio no parque, mas merece ser contada. Face à pandemia, o capitão do Watford tornou-se o "jogador-poster" da ala de céticos quanto ao regresso do futebol em Inglaterra. Ontem, após tomar parte da reunião por videoconferência entre jogadores e as entidades reguladores do futebol e governo britânicos quanto ao reinício das provas (ler informação na página 4), o avançado levantou a voz bem alto, exclamando: "De momento, nem quero falar de futebol. Só falo da saúde da minha família, que não quero ver colocada em risco. Se for esse o caso, eu não jogo. Vão-me fazer o quê? Tirar-me o dinheiro? Já fui um "teso" antes, por isso não me importo."
Filho de Chelmlsey Wood, na zona de Birmingham, Troy cresceu nas ruas. A mãe ainda conseguiu ter influência positiva sobre ele, mas o pai era dos mais infames traficantes de droga da região. As perspetivas não eram animadoras para Troy, cujos primeiros adversários foram a lei e a ordem. Já habilidoso de pés, o futuro médio não tinha só a bola para chutar e foi por se envolver em pontapés (e murros) a mais que aos 14 anos obteve o seu primeiro "título": foi expulso da escola. Resistindo como pôde à perdição num meio poluído, Troy dedicou-se a trabalhar nas obras. Era pedreiro, mas a sua ambição era ser bombeiro. "Era o meu sonho: trabalhava quatro dias e folgava outros quatro", recordaria mais tarde. Isto depois de ter chumbado nas captações do Aston Villa.
Bom de bebida e com 18 anos, Deeney matava o vício pelo futebol nos amadores do Chelmsley Town. O problema era conciliar vícios. Uma vez fez quatro golos quando foi visto pelo chief-scout do Walsall, Mick Halsall. O que Halsall não sabia era que Troy Deeney tinha atuado bêbedo. Sem saber onde era Walsall, Troy integrou o clube que então atuava no terceiro escalão. Em 2010, Deeney chegou ao Watford, fixou-se, ganhou a braçadeira e é sinónimo de golos. Mas, claro, a estrada até à redenção foi pedregosa. Em 2012, o dianteiro dos londrinos foi condenado a dez meses de prisão por agredir estudantes à porta de uma discoteca. Após cumprir três meses da pena, o jogador dos hornets foi libertado e regenerou-se. Pai de dois filhos, Troy Deeney é hoje uma voz cada vez mais respeitada na comunidade e no meio futebolístico. Comprou uma casa à mãe, a quem adora visitar, oferece aconselhamento a jovens problemáticos, não dá ao futebol demasiada importância e quando lhe perguntam qual é a sua profissão, responde pleno de convicção: "Sou pedreiro."