Treinadores portugueses dão cartas pelo Mundo fora: só falta vencer na Oceânia
A popularidade dos técnicos portugueses não pára de subir por esse Mundo fora. Dos campeonatos mais mediáticos aos menos conhecidos é sempre a faturar. Os números não deixam margem para dúvidas: os treinadores portugueses já foram campeões em todos os continentes menos a Oceânia e em mais de cinquenta ligas estrangeiras
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Há largos anos Portugal tornou-se um dos principais exportadores de futebolistas, abastecendo sobretudo o mercado europeu com jogadores formados no nosso país ou que tiveram no campeonato nacional uma porta de entrada e de crescimento.
No presente, somos também uma nação exportadora de treinadores, uma tendência que tem vindo a disparar em anos recentes, ao ponto de haver atualmente mais de quatro dezenas de técnicos espalhados por esse mundo fora em equipas e seleções estrangeiras.
E se no século passado os países lusófonos eram dos poucos a apostar em técnicos portugueses, hoje o difícil é encontrar países por onde estes ainda não tenham passado. Algo que se justifica, sobretudo, com o sucesso alcançado por muitos daqueles que têm feito carreira no estrangeiro. Aliás, para confirmá-lo basta dizer que os nossos treinadores já foram campeões em todos os continentes, à exceção da Oceânia, e em mais de cinquenta ligas estrangeiras: das mais poderosas como Inglaterra, Espanha, Itália e França, passando por Rússia, Ucrânia e Grécia na Europa; Brasil, México e Costa Rica no continente Americano, Egito, Tunísia, Angola e Moçambique em África, Arábia Saudita, Catar, Coreia do Sul e Malásia, só para dar exemplos.
Mas os treinadores não se limitaram a vencer troféus internos, erguendo também taças internacionais, com destaque para a Liga dos Campeões (José Mourinho), Champions de África (Manuel José) e Libertadores (Jorge Jesus e Abel Ferreira). E antes do ano terminar, Leonardo Jardim - ele que foi, em 2017, o segundo luso campeão em França depois de Artur Jorge em 1994 - pode conquistar a Champions da Ásia pelo Al-Hilal, enquanto Abel pode ser bicampeão na Libertadores com o Palmeiras.
Foram, de resto, os primeiros êxitos internacionais de Mourinho, no FC Porto, que lhe abriram as portas do Chelsea e Inglaterra. O atual treinador da Roma continuou a dar cartas lá fora e os sucessos pelos blues, Inter, Real Madrid e Manchester United ajudaram a abrir caminho a outros compatriotas, sobretudo em ligas de primeiro plano como a Premier League, onde neste momento só trabalha Bruno Lage (no Wolverhampton), dado que Nuno Espírito Santo acabou de ser despedido do Tottenham.
Mas os treinadores nacionais não teriam tanta procura se Mourinho fosse o único com sucesso. A verdade é que já antes dele Artur Jorge, em França, Manuel José, em África, e Nelo Vingada, na Ásia, haviam feito história. Nos últimos anos, Villas-Boas, Paulo Fonseca, Marco Silva, Vítor Pereira, Jorge Jesus , Abel Ferreira, José Morais, Jesualdo Ferreira, Rui Vitória, Luís Castro, Ulisses Morais e tantos outros continuaram a desbravar caminhos e a ajudar a criar a tal imagem de sucesso que se colou aos treinadores nacionais.
2021 começou e pode terminar em beleza
O ano que se aproxima do final começou, pode dizer-se, da melhor forma para os técnicos portugueses. Em janeiro, Abel Ferreira venceu a Libertadores com o Palmeiras, sucedendo de resto ao compatriota Jesus que a ganhara, em 2019, pelo Flamengo. Pelo Verdão, o penafidelense conquistaria ainda a Taça do Brasil e no dia 27 pode fechar um ano de ouro se repetir novo triunfo na prova.
Houve outros seis técnicos lusos campeões este ano, dois deles sem terem terminado as épocas: Jaime Pacheco e Jorge Duarte, no Egito e Líbia, respetivamente. Pedro Martins foi bicampeão grego e já lidera novamente o campeonato, José Morais, após o bicampeonato sul-coreano celebrado em 2020, foi terminar a época do Al-Hilal e arrebatar o título saudita. Numa aventura inesperada, Ricardo Formosinho venceu o título no Sudão, enquanto Hélder Duarte deu ao Black Bulls, recém-promovido ao Moçambola, o primeiro título em Moçambique. Mas a breve trecho Fernando Mira (Vida) e Renato Paiva (Independiente del Valle), podem acrescentar, respetivamente, as Honduras e o Equador à lista de países com campeões portugueses.
Vários outros prometem lutar pelo título nesta época de 2021/22 - os que já são líderes das respetivas ligas (ver quadro), mas também e outros bem colocados para isso, inclusive em II ligas como Marco Silva, em Inglaterra.
Arábia lusa e outros destinos exóticos
Quatro técnicos portugueses já foram campeões na Arábia Saudita - Artur Jorge, Humberto Coelho, Rui Vitória e José Morais - e outros ganharam lá troféus como Jorge Jesus ou Pedro Emanuel. E talvez isso explique o fascínio dos clubes locais pelos lusos que ocupam cinco dos 16 bancos da Superliga local: Leonardo Jardim (Al-Hilal), Pedro Emanuel (Al-Nassr), José Gomes (Al-Taawoun), Daniel Ramos (Al-Faisaly) e Hélder Cristóvão (AL-Hazem). No vizinho Catar encontra-se Luís Castro (Al-Duhail), mas na Ásia encontramos outros técnicos em destinos exóticos como Paulo Jorge da Silva (Mongólia), Eduardo Almeida (Indonésia) e Micael Sequeira (Uzbequistão).
Na Europa, há também quem exerça funções em ligas menos habituais tais como Ricardo Duarte na Finlândia, Tozé Mendes em Malta ou João Luís e Miguel Moreira na Lituânia, isto sem esquecer Rui Vitória na Rússia e Vítor Pereira na Turquia. Uma evidência da capacidade dos portugueses trabalharem em qualquer parte do mundo.
Quatro em busca de vaga no Mundial
São oito os treinadores portugueses que estão à frente de equipas nacionais estrangeiras, o que significa que, incluindo Fernando Santos, formam 4,3 por cento entre os líderes de todas as seleções do ranking FIFA (nove em 210). Quatro deles têm ainda legítimas ambições de se qualificarem para o Mundial do Catar"2022.
Paulo Sousa, que orienta a Polónia e disputa a zona europeia de apuramento, tem à mão o apuramento para o play-off, que pode confirmar-se já na próxima jornada, sexta-feira, em Andorra. A possibilidade de chegar ao primeiro lugar do Grupo I, ultrapassando a Inglaterra é já bastante remota.
Na zona asiática, Paulo Bento lidera uma Coreia do Sul que é segunda classificada do Grupo A (atrás do Irão), posição que dá direito apuramento direto. Faltam ainda seis jornadas, mas o treinador luso tem razões para estar otimista: em 2021 só consentiu uma derrota, logo no primeiro jogo do ano, e desde então realizou mais sete partidas. Na próxima semana recebe os Emirados Árabes Unidos (EAU) e joga no Iraque, desafios que podem permitir-lhe afastar-se dos mais diretos perseguidores: Líbano, EAU e Iraque, o primeiro a três pontos de distância, os outros dois a cinco.
É em África que se encontram os outros dois treinadores portugueses com possibilidades de marcarem presença no campeonato do Mundo. Carlos Queiroz chegou em setembro ao comando do Egito, depois de ter iniciado o apuramento do Mundial à frente da Colômbia, e tem tudo a seu favor para vencer o Grupo F e assim marcar presença no play-off de onde irão sair as cinco seleções africanas apuradas para o Catar"2022. Os egípcios têm neste momento mais quatro pontos que a Líbia, frente à qual têm vantagem no confronto direto, e só precisam de somar dois pontos nas duas jornadas em falta: jogam dia 12 em Angola e recebem dia 15 o Gabão.
Comandados por António Conceição, os Camarões são neste momento segundos classificados no Grupo D, com menos um ponto que a Costa do Marfim que recebem na derradeira jornada dia 16. Antes, dia 13, a seleção do técnico português joga no Malawi e deve vencer para tudo decidir na final com os marfinenses.