No dia em que era suposto ter seguido para as Filipinas, Miguel Matos ficou a saber que não podia abandonar a cidade, em quarentena, e desconhece até quando vigorará a restrição.
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Wuhan, cidade chinesa onde foi detetado o primeiro foco do coronavírus, uma estirpe de gripe agressiva que tem deixado o planeta sobressaltado, é por esta altura um local isolado, sob medidas de quarentena.
Um dos portugueses afetados é Miguel Matos, natural das Taipas e treinador de guarda-redes no Hubei Chufeng Heli. "É preciso muito azar. Vim na quarta-feira do estágio de pré-época em Kunming [sudoeste da China], só para pegar nas malas, e hoje [ontem] de manhã fui notificado que não podia sair da cidade", contou à agência Lusa, explicando que teve de cancelar uma viagem para as Filipinas.
"Autoestradas, ligações ferroviárias e aéreas, está tudo fechado; não podemos sair daqui", contou ainda no mesmo relato. Segundo o portal "Reflexo Digital", Luiz Felipe e Luís Estanislau, dois vimaranenses, fazem igualmente parte da estrutura técnica do Hubei Chufeng Heli, das divisões secundárias.
Esta é uma altura particularmente sensível na região, por coincidir com a principal época festiva. Aliás, receando contágios, as autoridades chinesas já cancelaram várias iniciativas previstas por conta das celebrações de Ano Novo, que, na China, obedecem a uma calendarização diferente. São comuns as viagens, não apenas em território chinês, e essa migração maciça deixou os aeroportos em estado de alerta máximo.
Isolar o coronavírus e evitar que a doença se alastre descontroladamente é neste momento o principal objetivo, numa altura em que outros casos foram já registados longe da província do foco inicial e também fora da China.
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Miguel Matos conta que em Wuhan, a sétima maior cidade chinesa, com 11 milhões de habitantes, o silêncio é "total", com os "estabelecimentos encerrados e as ruas vazias". Há agora uma corrida aos mantimentos. "Fomos às compras, porque não tínhamos nada aqui em casa, mas já só conseguimos comprar alguma carne", relatou o treinador à Lusa.As máscaras de proteção, aconselhadas pelas autoridades, também esgotaram rapidamente, isto além dos preços inflacionados que se praticam sobre os principais bens.
A duração ao certo destas regras de quarentena não é ainda conhecida, mas as restrições podem estender-se por semanas. "O que me disseram é que não está a haver excesso de zelo, mas que a situação é mesmo grave." António Rosa, professor de Design e Arte numa escola de Wuhan, igualmente ouvido pela Lusa, viu-se impedido de viajar para o Vietname, onde iria passar as férias, e complementou a ideia de cenário caótico assinalado por Miguel Matos. "Se isto se prolongar, será incomportável", garante.
Os últimos registos apontam para centenas de infetados e, só em províncias chinesas, pelo menos 17 mortes relacionadas com o coronavírus.