Treinador do Milan participou no 2º Congresso de Futebol de Coimbra e teve a companhia na mesa, a seu pedido, dos colegas João Pereira, técnico do Casa Pia, e Armando Evangelista
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Cerca de 250 pessoas, maioritariamente estudantes e treinadores, ouviram atentamente Sérgio Conceição, no auditório Rui de Alarcão, em Coimbra, falar sobre a construção de identidade de jogo.
Bem disposto e comunicativo, o treinador do Milan convidou os colegas João Pereira, do Casa Pia, e Armando Evangelista, atualmente sem clube, para fazerem parte do painel moderado por Pedro Henriques, da Neyod Sports, que, juntamente com a AB Forms e AAC-SF, organizou o 2º Congresso de Futebol de Coimbra.
Treinador de malas à porta
“O treinador é o centro de tudo, para o bem e para o mal. Os dirigentes vão ficando dois ou três anos, os presidentes também vários anos, e o treinador está sempre com as malas à porta. A verdade é essa. Na nossa vida pessoal e profissional, vivemos resultados. Estou num contexto, a nível profissional, onde em 30 dias fiz nove jogos e em 60 dias 18 jogos, onde não tive tempo para trabalhar com a equipa, o que é extremamente difícil. Nós, treinadores, somos treinadores de campo. As sessões de vídeo que fazemos, tudo aquilo que existe para dar a máxima informação aos atletas, para mim, não vale tanto como o campo. E eu não tive esta oportunidade, neste contexto atual, foi, é e está a ser muito difícil. Porque essa mesma identidade não estou a conseguir transmitir no meu clube atual. O treinador está sempre na corda bamba para três ou quatro resultados, podemos dizer tudo e podemos andar aqui com alguma hipocrisia, não há projeto nenhum. Os dirigentes querem salvar a pele deles, os presidentes a mesma coisa e nós treinadores temos de ter resultados. E a bola tem de entrar mesmo lá dentro.”
Estratégias do treinador
“Nós temos uma estratégia e no decorrer da batalha, o adversário também joga, também tem qualidade individual e cooperativa, e pode surpreender-nos. E o treinador tem de ir buscar aquilo que é fundamental que é ouvir a sua voz interior, o seu instinto. E, de certa forma, ter estratégias, ou naquele momento ter estratégias para poder mudar o rumo das coisas, que não se vão correr bem, da forma que nós planeámos e trabalhámos durante a semana. Acho que é absolutamente normal. Depois, depende dos grupos, depende dos jogadores que se têm à frente, depende de quem está no banco e entra no decorrer do jogo, que tipo de jogador é que é. E isso é tudo um acumulado de conhecimento que se tem semanal ou diariamente com eles.”
Um sucessor desde o primeiro jogo para o campeonato em Itália
“Não abdicando daquilo que é a nossa exigência e o nosso rigor, o que queremos para a equipa, com os princípios básicos, temos de nos ir moldando, porque estamos inseridos num contexto onde o resultado é extremamente importante, Depois de uma semana fizemos uma meia final contra a Juventus, a final contra o Inter ganhamos a Supertaça, cheguei a Itália, primeiro jogo contra o Cagliari, empatámos em casa com um erro individual que acontece, eu também comento muitos, do nosso guarda-redes, e na semana seguinte, até hoje, aparecem no Milan sucessores, novos treinadores. Por isso, temos de nos adaptar à realidade que temos, encontrei uma realidade completamente diferente mesmo quando era jogador há dez anos em Itália, e a própria a dinâmica e estrutura do clube. Temos de nos adaptar a jogadores com culturas diferentes, a pessoas que fazem parte da estrutura e que trabalham diariamente também de uma cultura e com hábitos completamente diferentes daqueles que nós crescemos, não abdicando daquilo que nós somos e que nos fez chegar a um patamar elevado enquanto profissionais, mas ajustando à realidade, ao contexto em que estamos inseridos.”