Benni McCarthy, antigo jogador do FC Porto, viu nas críticas a Portugal uma provocação que os jogadores usaram para se motivarem ainda mais, acabando por constituir uma ajuda extra para chegar à final de Paris.
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As imagens de um Benni McCarthy a dançar em pleno estúdio televisivo - onde se encontrava a comentar o jogo das meias-finais com o País de Gales - nos festejos do apuramento de Portugal para a final do Europeu, encheram as redes sociais e entraram em casa dos portugueses. Sorriso rasgado, gestos efusivos e uns desabafos que não podem ser escritos aqui levaram o jornalista que estava ao lado dele a perguntar como é que se controlava aquilo tudo, mas já não havia nada a fazer. McCarthy estava eufórico e as imagens não tardaram a ter milhares de partilhas.
O que é que aconteceu naquele momento?
-Foi uma alegria muito grande, depois de uma vitória muito importante para os portugueses e para todos aqueles que gostam de Portugal e não são portugueses, como eu. As pessoas adotaram-me durante a minha passagem pelo FC Porto, trataram-me sempre muito bem, sou africano, mas também me sinto português, porque foi uma fase da minha vida que me marcou imenso e que nunca vou esquecer. Tenho sempre um carinho especial pelos portugueses, adorei ter passado por Portugal, por isso digo que também me sinto português e não podia ficar indiferente à seleção pela qual também sofro.
Como tem visto Portugal no Europeu?
-Portugal pode fazer algo especial nesta final. Na fase de grupos estiveram muito mal, não jogavam bem, notava-se que faltava alguma coisa. Jogadores como Cristiano Ronaldo também não estavam com ritmo de jogo, talvez por causa de uma época longa e cheia de desgaste como poucos tiveram. Entrou fora de forma, cansado e sem condições físicas para uma competição como o Europeu. Mas ainda assim sinto que vai ser o ano de Portugal.
As críticas à seleção portuguesa foram muitas...
-As críticas foram a melhor coisa que podia ter acontecido a Portugal. Fizeram crescer o grupo, os jogadores sentiram que tinham de melhorar, que precisavam de trabalhar mais no duro e serem mais fortes para conseguirem aquilo que queriam. E usaram a crítica para se motivarem, para responder e cresceram com o decorrer da competição. Se os tivessem elogiado, talvez se tivessem acomodado. Sentiram o seu profissionalismo posto em causa e sentiram-se provocados. Foi uma forma de os obrigar a ir buscar mais dentro deles para o coletivo. Para mim, essa provocação e essas críticas foram importantes na cabeça dos jogadores. Se não tivessem sido feitas, se calhar já estavam em casa. Foi perfeito e um grande contributo da Imprensa.
O que mudou depois da fase de grupos?
-Apuraram-se e a motivação cresceu, o espírito de grupo e a unidade reforçaram-se. Este grupo é mais forte psicologicamente, pensa mais como um coletivo, do que outras seleções portuguesas.
A geração de Deco, Maniche, Costinha, com os quais partilhou os relvados, pode comparar-se a esta seleção?
-São mentalidades diferentes. A mentalidade dos anteriores podia ser forte, pela experiência que tinham. Estamos a falar de jogadores que ganharam tudo, a Champions, títulos nacionais, e os outros internacionais também eram grandes nos seus clubes. A maioria dos que estão em França ainda não ganhou nada. Guerreiro, Fonte, Vieirinha, Danilo, William, João Mário, Adrien, por exemplo, são muito bons, mas não ganharam nada. O que me parece é que a união deste grupo é maior. Têm uma mentalidade de luta, entrega e trabalho que os outros não tinham.