"Se todos os jogadores de cor fossem como Vinícius Júnior, o racismo acabaria"
Palavras de Cheikh Sarr, guarda-redes senegalês que alinha na terceira divisão espanhola e que foi expulso após confrontar em pleno jogo um adepto que tinha insultado racialmente
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Cheikh Sarr, guarda-redes senegalês do Rayo Majadahonda, foi expulso no sábado contra o Sestao após confrontar agressivamente um adepto que o insultou racialmente durante a partida da terceira divisão espanhola.
Na sequência desse momento, a sua equipa mostrou-se solidária com o guardião, abandonando o relvado e decretando a suspensão do encontro aos 87 minutos, numa altura em que perdia por 1-2.
Esta terça-feira, o guardião concedeu uma entrevista ao jornal El Mundo, na qual começou por explicar o que originou a situação, que motivou inclusive uma reação solidária de Vinícius Júnior, extremo do Real Madrid e principal figura da luta contra o racismo na LaLiga.
“Na segunda parte, quando mudámos de campo, comecei a notar nalguns gritos. Ao minuto 50, começaram a fazer sons de macaco. Aos 82’, depois de sofrer o segundo golo, fui buscar água e foi aí que ouvi: ‘Negro de merda, negro do c...”. Antes disso, muita gente já tinha insultado, não só a mim, também insultaram os espanhóis, mas nessa altura ouvi esse senhor”, começou por contextualizar, garantindo que nunca teve a intenção de agredir o adepto que o insultou, como pareceu num primeiro momento.
“Estava muito nervoso. Ouvi os gritos e estou em Ramadão... Queria perguntar-lhe por que me estava a tratar assim, se tinha família e se me podia compreender. Não tinha intenção nenhuma de agredi-lo, por isso agarrei-lhe o cachecol. Nunca agredi ninguém e se me sancionarem, será a primeira sanção que recebo na minha vida”, salientou.
Elogiando o apoio que recebeu por parte da sua equipa naquele momento e nos dias seguintes, em sentido contrário, Sarr criticou a falta de proteção do árbitro da partida, admitindo ainda que espera não receber qualquer castigo pela sua reação aos insultos raciais do adepto.
“Aquele que é insultado e que sofre não pode ser sancionado em cima disso. Não sei o que vai acontecer com a decisão do Comité da Competição, mas gostaria que pensassem assim. Insisto, alguém que é insultado não pode ser sancionado por reagir. Não foi violência, foi querer dialogar. Além disso, o árbitro nem sequer se aproximou de mim para perguntar o que tinha acontecido. Como pode isso acontecer? Na verdade, pensava que ele seria o primeiro a proteger-me, mas não, o que fez foi expulsar-me", lamentou.
Num âmbito mais geral, o guarda-redes de 23 anos descartou qualificar Espanha como um país racista e deixou grandes elogios para a luta que Vinícius Júnior tem aplicado contra este tipo de comportamentos nos estádios de futebol, dizendo que todos os jogadores negros deveriam vê-lo como um exemplo.
“Creio que existe racismo em todos os países, mas isso não significa que os países sejam [racistas] como um todo. São essas as pessoas que têm de ser retiradas dos campos e castigadas na sociedade e devemos proteger aqueles que possam ter sofrido disso. Vinícius? Vou até à morte por ele, porque ele viveu isto. Existir racismo não faz sentido e estou muito orgulhoso dele. Dou-lhe graças por apoiar-me no Instagram e se todos os jogadores de cor fossem como Vinícius, o racismo acabaria”, defendeu.
“Todas as coisas na vida podem ser perdoadas, há que ter tomates para pedir perdão. A verdade é que perdoaria [o adepto que o insultou], do fundo do coração”, rematou Sarr.