"Se fosse outra equipa, o River poderia ter vantagem. Com este Flamengo não"
Entrar na história mundial passa por vencer um troféu deste calibre, que o Fla só conquistou em 1981. Já o River soma quatro e é o campeão. André Cruz e Lucho González equilibram o campo para O JOGO.
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O Flamengo volta a disputar a final da Libertadores 38 anos depois. Os dois golos de Zico, em 1981, diante do Cobreloa, são ainda o maior momento do emblema do Rio de Janeiro, a que Jorge Jesus quer hoje acrescentar glória. Também o treinador procura o seu segundo título internacional, depois da Taça Intertoto ganha pelo Braga em 2008.
Jesus ganhou dez de 14 finais internas, mas as Ligas Europa perdidas travaram-lhe a expansão internacional. Gallardo quer a oitava continental
Por ser uma prova menor europeia e não ser disputada numa final, essa não tem a dimensão de uma Libertadores, a verdadeira "Champions" da América do Sul. Jesus ganhou 10 das 16 finais que disputou e três campeonatos, porém, naturalmente que as Ligas Europa perdidas pelo Benfica em 2012/13 (Chelsea, 1-2) e 2013/14 (Sevilha, 0-0 4-2 g.p.) deram uma ideia incorreta sob o aproveitamento de Jesus em finalíssimas. "Pode aí existir uma diferença entre ambos", diz a O JOGO Lucho González, seis vezes campeão pelo FC Porto.
"Para o Jorge Jesus, será a primeira vez, mas não creio que isso seja um contra. Já esteve na Champions. É muito forte e agressivo. Se fosse outra equipa o River poderia ter vantagem, mas com este Flamengo não", confia ao nosso jornal André Cruz, campeão no Sporting em 2000 e 2002 e jogador do Fla em 1990.
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O adversário de Jesus é Marcelo Gallardo, ex-jogador de qualidade e que por isso mais rápido subiu no futebol. Tem 43 anos e é idolatrado pelos Millonarios: logo depois de ser campeão no Uruguai, conquistou o River Plate desde que chegou em 2014: ganhou sete títulos internacionais e já tem dez troféus pelo River Plate, algo que nunca alguém alcançou. A Europa chama por "Muñeco", até se falando deste para o cargo de Ernesto Valverde no Barcelona, mas o homem do mata-mata prometeu continuar no Monumental, isto porque ainda falta o tal caneco do campeonato. "É a terceira final em cinco anos. Têm muita experiência e são uma equipa montada há muitos anos. E Gallardo é um estratega, sabe gerir na perfeição decisões destas", atira o argentino Lucho.
Se hoje levar a terceira Libertadores da carreira, Gallardo entra na galeria de notáveis que venceu a prova por três vezes: Osvaldo Zubeldía e Carlos Bianchi, o único com quatro cetros. O River Plate pode ser até o segundo clube a revalidar o troféu nesta década e ganhando fica a apenas um título do rival de berço o Boca Juniors (tem seis), que parecia inalcançável quando este venceu a sexta em 2007.
"Nenhum está por cima. Tem de haver um plano para 90" e isso muda tudo. Gallardo é um estratega", diz Lucho González
Este ano, a prova tem um figurino diferente: a final é a uma mão e, manchada a edição passada pela violência que levou a mudar o encontro decisivo para Madrid, pode ser ainda mais imprevisível. "Tem de haver um plano só para 90 minutos e isso muda tudo. E nenhum candidato está por cima do outro", finaliza o ex-capitão do FC Porto, atualmente no Athletico Paranaense.
"As duas equipas têm qualidade, mas pelo momento atual acredito mais no Flamengo. Recorda-me o Sporting dos últimos títulos. A defesa é sólida, o meio-campo faz uma cobertura boa, constrói jogadas e o ataque está a marcar. Ser um jogo pode ajudar", antecipa o ex-defesa leonino quanto ao embate de hoje no Peru. André Cruz destaca o crescimento dos dianteiros, mas por obra de Jesus: "A equipa cresceu muito com a chegada dele. Estão sólidos na defesa e o meio-campo tem a técnica de Gerson e Everton Ribeiro e Bruno Henrique e Gabriel estão a marcar golos."
Depois da adversidade europeia, será à terceira de vez? Jesus pode ser o segundo europeu a lograr o troféu, isto depois do croata (jugoslavo em 1991 quando ganhou pelo Colo-Colo) Mirko Jozic, que até passaria pelo Sporting em 1998. Aos 65 anos, vai a tempo de ser imortal.
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Encontro com Enzo Pérez
Os treinadores de Flamengo e River Plate revelaram o onze titular. Ambas começam em 4x4x2, embora ajustando para 4x2x3x1 a defender. O Fla terá Gabigol e Bruno Henrique na frente e De Arrascaeta e Everton Ribeiro nas alas. O River Plate terá Suárez e Borré, mas ainda com Quintero e Lucas Pratto no banco. Enzo Pérez, ex-atleta de Jesus no Benfica, é o organizador de meio-campo do River.
Sempre regular
Jesus ficou maioritariamente conhecido pelos três títulos de campeão que alcançou no Benfica. A regularidade foi o ponto forte na Luz, mas também com as Taças teve um balanço muito positivo: ganhou 10 das 16 finais que disputou, com 62,5% de aproveitamento: seis Taças da Liga, duas Supertaças portuguesas, uma Supertaça saudita e uma Taça de Portugal. Chelsea e Sevilha mataram o maior sonho.
Rei do mata-mata
Marcelo Gallardo chegou ao River Plate em 2014. Desde aí ganhou sete títulos internacionais: duas Libertadores, três Supertaças Sul-Americanas, uma Taça Sul-Americana e outra Taça Suruga. Só lhe faltou ganhar o Mundial de Clubes, ante o Barcelona, para ser ainda mais ídolo. Ganhou ao Boca Juniors em 2018 e vencendo hoje deixa o River a apenas um troféu do rival, impensável há dez anos.