O futebol tem assistido à ascensão e ocaso de muitas estrelas, mas poucas com a capacidade de continuar a espantar o mundo, aos 34 anos, como faz o CR7.
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Até quando será Cristiano Ronaldo capaz de nos espantar com o obstinado espírito de alta competição que o empurra e faz sorrir como um miúdo, aos 34 anos?
Na ressaca dos três golos à Suíça (3-1) que colocaram Portugal na final da Liga das Nações, a euforia dispara: até quando quiser! Essa talvez seja parte da resposta para o presente, o extraordinário momento de forma que atravessa numa fase da carreira em que até os melhores tendem a perder protagonismo.
Quando nasceu, em 1985, o melhor do mundo era Platini - que se retirou aos 32 anos. Zidane, outro fora de série, chegou aos 34 e desistiu, incapaz de conduzir o Real Madrid ao sucesso. Ronaldo resiste
Mesmo os melhores do mundo chegam a um momento em que sentem dificuldade em manter a combinação avassaladora de talento, trabalho e conquistas que os eleva ao patamar das estrelas, leia-se aqueles que brilham com luz própria. Era assim Zidane, o internacional francês que todos recordamos como um extraordinário médio de uma seleção de sonho da França, da Juventus e do Real Madrid, melhor do mundo em 1998 e uma grata recordação para todos os que tiveram o prazer de o ver jogar - e que o viram anunciar o fim da carreira a poucos meses de completar 34 anos.
Hat-trick à Suíça conduziu Portugal à terceira final da história. O madeirense esteve em todas
Era o quinto ano dele no Real Madrid, o terceiro de metas frustradas. Farto, desistiu. "Não posso fazer melhor do que tenho feito. Estou numa idade em que começa a ser cada vez mais difícil", explicou, e após o Mundial da Alemanha retirou-se. Nem terminou o contrato com os espanhóis.
A história de Zidane não é muito diferente da de outros que, como Cristiano Ronaldo - embora não tanto como ele -, foram sendo distinguidos anualmente pela FIFA como os melhores, num ranking de excelência alimentado também pela revista "France Football", com a Bola de Ouro (em meia dúzia de anos em organização conjunta).
Ronaldo marcou em dez fases finais de seleções. Nos Europeus de 2004, 2008, 2012 e 2016, Mundiais de 2006, 2010, 2014 e 2018, Taça das Confederações e Liga das Nações, fez 21 golos
Difícil é encontrar uma que se compare à do camisola sete de Portugal e da Juventus. Quando nasceu, em 1985, brilhava Michel Platini, internacional francês da Juventus; parou aos 32 anos. É preciso avançar até 1990 para encontrar na elite um exemplo semelhante ao de Ronaldo: Lothar Matthaus, intratável médio alemão, jogou até aos 39 anos (acabou como central). Aos 34, ainda saboreava conquistas na UEFA, com o Bayern Munique, embora não chegasse aos 30 jogos no clube - Ronaldo fez 43 e desde 2010 que não jogava tão pouco (35 jogos, no primeiro ano em Madrid).
Num salto de 16 anos na lista dos melhores do mundo, encontramos Fabio Cannavaro: o central italiano retirou-se aos 36 anos e, quando andava pela idade do português, fazia perto de 40 partidas por época, no Real Madrid.
Ou seja, na história que começou a contar-se quando Cristiano chegou ao planeta, o mais habitual é que esta fase da vida profissional seja o aproximar do ocaso. Foi assim com o primeiro Ronaldo a fazer história no futebol. É brasileiro, brilhou de menino, foi Bola de Ouro com 22 anos, despediu-se aos 34, muito distante do que fora; ficou conhecido como Fenómeno. Uma precipitação histórica.
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As lágrimas também contam
Nem todos os atletas de alta competição puderam decidir quando se retirar dos palcos, e a história do futebol contada desde o ano em que Cristiano Ronaldo nasceu tem alguns desses casos em que não foi possível sequer escolher o final.
Aconteceu com Marco van Basten, o holandês que assinou alguns dos mais belos golos da história do futebol na Laranja Mecânica: três vezes Bola de Ouro, entre 1988 e 1992, parou de jogar aos 28 anos, vencido pelas lesões; retirou-se aos 30. Além dos momentos mágicos que nunca nos fartamos de rever, o futebol deve-lhe um outro génio: Zlatan Ibrahimovic. Formado no Ajax, o internacional sueco era um caso sério de talento e indisciplina.
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Foi um dos treinadores do clube quem revelou que, um dia, o ex-goleador disse a Ibrahimovic: "É fantástico ser um tecnicista, mas, no final da época, as pessoas contam é os golos que marcaste, o quão útil foste para a equipa. Concentra-te nisso." Duas frases de Van Basten bastaram para ele perceber que tinha de mudar."
Obstinado no trabalho, CR7 tem fintado as lesões. Uma das poucas vezes em que ficou por terra, em lágrimas, na final do Europeu, Portugal fez história com um golpe de Éder.
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