Presidente do Brescia nem quer ouvir falar no regresso da Serie A.
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Itália está a viver um autêntico drama com o coronavírus e há quem defenda que, no que toca ao futebol, o melhor é esquecer. Massimo Cellino, presidente do Brescia, é um desses casos e, em entrevista ao Corriere dello Sport, deixou palavras duras, sobretudo para os clubes que pensam voltar aos treinos, como Nápoles e Lázio.
"O campeonato acabou. O Lotito [presidente da Lazio] quer o campeonato? Que fique com ele. Isto é a peste, a temporada acaba aqui. Vamos pensar na próxima", atirou.
"Estou em casa com febre há três dias e em quarentena há onze. Fechado em casa, estou sozinho. A minha mulher, Francesca, está presa em Cagliari, tenho um filho em Milão, os outros lá fora. Eu já vi e ouvi coisas que você nem imagina. Recebo continuamente notícias de Brescia e todas são de loucos, a cidade está a enfrentar uma tragédia com uma dignidade embaraçosa. Estas pessoas comovem-me. Têm pais, parentes, amigos, conhecidos que morrem todos os dias e sofrem terrivelmente, mas em silêncio", vincou, num discurso que impressiona.
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"Uma coisa são os números oficiais, outra é a real dimensão do problema. Se isto tivesse acontecido noutro lugar, teria eclodido uma revolução. As pessoas têm apenas um desejo, que é voltar ao trabalho, começar a viver novamente. E você quer falar sobre o campeonato, o campeonato? Tenho medo de sair de casa, estou com uma depressão", continuou Massimo Cellino, que fala numa questão de sobrevivência, sem margem para se pensar em futebol.
"Há muito, muito mais. Não se pensa em quando começar de novo, mas sim em sobreviver. E se falamos de futebol, tudo precisa ser mudado para a próxima temporada. Realismo, senhores. Isto é a peste. A vida primeiro. A vida, f...! Há ultras que levam oxigénio aos hospitais, outros que choram seus mortos, outros que estão entubados... Não se pode jogar mais esta época. Pense-se na próxima. A temporada acabou, se alguém quiser este maldito scudetto, que fique com ele. Fechado. Terminou. E não digo isto porque o Brescia é o último na classificação. Somos os últimos porque merecemos. Penso naqueles que perderão o emprego, naqueles que estão a morrer", terminou.
Em Itália foram verificados 53.578 casos de pessoas infetadas, registando 4.825 mortos, dados da manhã deste domingo.