Rafael Leão recorda: "Era para ir treinar ao Benfica, mas a carrinha não chegou"
Rafael Leão, extremo do Milan e da Seleção portuguesa, foi convidado do podcast "Say Less"
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Com oito anos, esteve para jogar na formação do Benfica: "O Benfica queria que eu assinasse. O meu pai disse que sim, ele também é do Benfica. Assinei pelo Benfica, mas como o meu pai naquela altura não tinha carro, eu não tinha como ir para o treino. O Benfica disse 'não se preocupe, assine o contrato que nós temos uma carrinha para levar o seu filho da escola para o treino'. Fiquei à espera da tal carrinha. A carrinha não veio. No segundo e terceiro dias, igual. Passou uma semana e eu comecei a chorar. Nem cheguei a fazer um treino. Foi aí que decidimos assinar pelo Sporting. Há uns meses, o meu pai esteve com o Rui Costa, que agora é presidente do Benfica, e começaram a rir-se. 'Peço desculpa pelo que aconteceu ao seu filho, por não termos ido buscá-lo'', disse o Rui Costa."
Inter, grande rival do Milan, quis contratar o avançado, em 2019: "Estive prestes a ir para o Inter, que loucura. O diretor desportivo (do Lille) disse-me: 'Rafa, estamos prestes a vender-te ao Inter'. Eu disse: 'Não, fiz uma grande época, quero ficar mais um ano para melhorar ainda mais e ganhar confiança para o próximo desafio'. Mas ele dizia: 'Não, não, tenho de te vender, é uma grande oportunidade para ti e para nós, é muito dinheiro'. Mas eu disse: 'Inter, não'. Passa uma, duas, três semanas e o diretor desportivo volta a falar comigo e diz: 'O Milan está interessado em ti'. Eu disse: 'Sim, Milan sim'. Dois dias depois apareceu ao telefone e passou-mo - não era uma chamada normal, era uma videochamada - e era o Paolo Maldini. Disse-me: 'Tens de vir, estamos prontos para te contratar'. Eu respondi: 'Aceito, não podia dizer que não'. Quando Maldini me ligou, estava num hotel, porque estávamos em estágio de pré-época, em Portugal. Fui para Milão com a minha família, estive um mês num hotel. Só me apercebi da grandeza deste clube quando joguei o primeiro jogo em casa. Foi incrível, o estádio cheio... pensei: 'isto é mesmo de loucos'. Também quando ganhámos o Scudetto. É algo que um jogador tem de viver para perceber o quão importante é jogar pelo Milan."
Ídolos que jogaram no Milan: "Desde pequeno: Ronaldinho, Ronaldo, Kaká, Seedorf - aqueles jogadores que vias ou de quem ouvias falar, eram história. Depois, sabes... Sete Ligas dos Campeões, só o Real Madrid tem mais. Entre Milan e Inter? Milan cem vezes."
Quer deixar uma marca no Milan: "Entro sempre com a mesma alegria, com a responsabilidade de fazer bem, divertir-me - e vim para aqui por isso. Porque não faz sentido vir para este clube só por vir e depois ir embora. Quando fores embora, as pessoas têm de se lembrar do que fizeste. Acho que estou a fazer um bom trabalho, estou muito orgulhoso e mal posso esperar para continuar assim - e ainda melhor."
Viver em Milão: "Milão é uma cidade agradável. É um pouco semelhante a Lisboa. Sinto-me em casa. O clima é agradável, a comida é boa e há bons lugares para visitar. Em Lisboa, há diferentes culturas. A forma como as pessoas vivem lá é mais aberta. Na Itália, as pessoas respeitam muito a história e a cultura. Quando se vem para cá, é preciso respeitar a forma como elas vivem, tudo. Foi bom para mim aprender isso. Cheguei aqui quando tinha 19 anos. Antes, eu estava em França, mas Itália ajudou-me a amadurecer muito."
Como foi o primeiro clássico frente ao Inter? "Emocionante. As ruas estavam todas bloqueadas, tudo era vermelho e azul, os adeptos aplaudiam até no autocarro, é sempre uma loucura, é como se fosse nós ou eles. Mesmo que tenhamos alguns jogos ruins durante a temporada, mesmo antes do clássico, quando a semana do clássico começa, tens que estar superconcentrado, porque é nós ou eles, porque durante o resto da temporada eles vão falar sobre esse jogo."