PERFIL - Ricardo Teixeira, antigo presidente da Confederação Brasileira de Futebol.
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Ricardo Teixeira pulverizou todos os recordes de vitórias de seleções dos presidentes da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), cumpriu cinco mandatos, foi o criador da Taça do Brasil, que promove a democratização do futebol, na medida em que pequenos e grandes cruzam caminhos, mas vai ficar na história apenas como mais um dirigente corrupto da América Latina. Apesar da licenciatura em Direito e da participação em várias empresas, fez (e aproveitou) uma lucrativa escolha de vida que praticamente lhe roubou o nome a partir do momento em que se casou com Lúcia Havelange, filha do todo-poderoso João Havelange, presidente da FIFA durante duas dúzias de anos (1974-1998).
Genro foi a melhor das profissões que teve. Primeiro nos negócios, depois no apoio à chegada à CBF, a que Havelange tinha presidido (1958-1975) num tempo em que se chamava Confederação Brasileira de Desportos e abrangia outras modalidades (a CBF existe apenas desde 1979). A vida de Ricardo Teixeira é também uma história de Carnaval, porque foi no de 1966 que o mineiro deslocado no Rio de Janeiro para cursar Direito conheceu a filha de João Havelange. O samba começou nessa altura e o desfile ainda não terminou. Conquistou a filha e tratou bem o sogro. Finório, quando nasceu o primeiro filho até contrariou a lei brasileira, que manda pôr o nome do pai em último lugar do nome da criança, de modo a que se chamasse João Teixeira Havelange (deveria ser João Havelange Teixeira).
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E se o futebol brasileiro com Havelange se sagrou tricampeão mundial - Suécia"1958, Chile"1962 e México"1970 -, com o genro conseguiu 11 títulos mundiais de seleções e 27 títulos continentais. Foram dele o tetra e o penta - EUA"1994 e Coreia/Japão"2002 -, o que confere um toque familiar aos mais celebrados feitos da história do Brasil. Apesar dos triunfos, a gestão da CBF foi sempre nublosa, tanto assim que, em 1998, até uma comissão parlamentar enfrentou. Passou ao lado, não sem o processo envolver estranhas mudanças de sentido de voto, mas os 23 anos em que liderou o futebol brasileiro (1989-2012) são um compêndio de nepotismo, corrupção, lavagem de dinheiro, desvio de fundos, fraude fiscal e todos os esquemas fraudulentos que possam estar a escapar. Porque foi sempre um homem de poder. Basta atentar num pormenor: a CBF assinou com a Nike em 1996 um contrato de 160 milhões de dólares (a data é importante para se perceber o valor) e os prejuízos foram sempre a crescer daí em diante! Mas quando Aldo Rabelo e Sílvio Torres escreveram o livro "CBF-Nike", Teixeira conseguiu uma providência cautelar que impediu a publicação.
Na política externa, pela mão do sogro ou caminhando pelo próprio pé, foi um fartar vilanagem. Em 2015 foi alvo de várias acusações de corrupção nos Estados Unidos e só não está preso por o Brasil não ter acordo de extradição com aquele país. Em novembro de 2019 foi banido do futebol para sempre pela FIFA. À parte essas pequenas coisas, separou-se da filha de Havelange quando o pai dela largou a FIFA, teve um romance com uma socialite e voltou a casar-se em 2003 com uma administradora de empresas. Aos 72 anos, vive sorridente na fazenda do Piraí.