Primeira experiência no estrangeiro a correr de feição: "O Brasileirão prepara-nos para tudo"
ENTREVISTA, PARTE I - Armando Evangelista assumiu o Goiás em dificuldades e somou 11 pontos nos últimos cinco jogos. Fala da difícil logística dos clubes, da pressão da Imprensa e dos adeptos, mas diz estar encantado com a nova realidade
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É a primeira experiência de Armando Evangelista no estrangeiro e as coisas dificilmente poderiam estar a correr melhor. Num clube que ambiciona a permanência, Evangelista tirou a equipa da zona de descida e deixa bons sinais.
Em conversa com O JOGO, o treinador de 49 anos confessa que chegar ao Brasil era um desejo firme para a sua carreira. Os primeiros tempos têm mostrado que este foi um passo acertado.
Como tem sido esta experiência no Brasil?
-O início nunca é fácil. Nos primeiros tempos procurámos acelerar processos e conhecer internamente o clube, porque os resultados revelavam que algo não estava a funcionar antes da nossa chegada. O nosso trabalho foi muito focado nisso e tivemos a vantagem de encontrar todas as condições para desenvolvermos um bom trabalho. Em termos de condições físicas e também humanas, estamos numa realidade bem diferente da que estávamos habituados. O nosso centro de treinos está ao nível dos melhores de Portugal. Foi importante fazer alguns reajustes, dentro de um contexto desequilibrado em relação aos outros concorrentes do Brasileirão. Como diz o meu presidente, em termos orçamentais o Goiás é zero e os outros são tudo. Não há comparação possível.
Feitos esses acertos, a equipa entrou no rumo certo. Nos últimos cinco jogos, somou 11 pontos. Qual é a força da equipa?
-Tivemos de fazer um jogo de cintura muito grande para formarmos um plantel que desse garantias. O plantel era muito extenso, tivemos de o reduzir e, ao mesmo tempo, de o equilibrar. Fizemos chegar alguns elementos que conhecíamos, como Matheus Babi e Allano [Santa Clara], Guzzo [Vizela], Anderson [Portimonense] e João Magno [passou pelo Canelas], estabilizamos o grupo e estamos mais competitivos e mais condizentes com as exigências deste campeonato.
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Como sobrevive uma equipa que luta pela permanência entre tantos gigantes brasileiros?
- Este é um dos anos mais competitivos do Brasileirão. Estão 14 clubes que já foram campeões, com orçamentos astronómicos. Pessoalmente, tinha muita vontade de vir para o Brasil, não só pela experiência como também pelo crescimento que me permite enquanto treinador. A competitividade é enorme, há a pressão dos adeptos e da comunicação social, potenciada ao máximo nas redes sociais. Este desconforto que o Brasil cria aos treinadores faz-nos crescer. O Brasileirão prepara-nos para tudo, para qualquer desafio em qualquer país.
Como se traduz essa pressão no Goiás?
Estamos no estado de Goiás, que é maior e tem tantos habitantes como Portugal inteiro. Este é o maior clube do centro oeste, uma região em que o foco do futebol é o Goiás. Todos os olhos estão na equipa, a repercussão de tudo o que fazemos é enorme. Só tinha trabalhado em Portugal e estou a descobrir uma pressão boa e outra dimensão do futebol a nível global. Os estádios estão sempre cheios, o ambiente é infernal e o público apoia de forma incondicional, sem se calar um segundo. Viver tudo isto é a expressão máxima desta profissão fantástica.
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Sente que está a causar boa impressão no clube?
-Com o orçamento mais baixo do campeonato, estamos há cinco jogos sem perder, o que é ótimo. E apanhamos clubes como Atlético Mineiro, Grémio e Cruzeiro, que têm futebolistas de excelente qualidade. Os jogadores abraçaram a nossa ideia e só em comunhão de ideias conseguimos esta série boa, que queremos prolongar.
Quais são as perspetivas até ao final da época?
-Terminou agora a primeira volta e estamos otimistas para a segunda. Vamos ter agora um ciclo de jogos que é uma loucura, com Athletico Paranaense, Palmeiras e Botafogo. Há nove candidatos ao título e nós queremos a permanência. Dentro do nosso registo, acredito que vamos ter sucesso. Faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para isso acontecer.