ENTREVISTA, PARTE II - Apesar do sucesso português no Brasil, Armando Evangelista, treinador do Goiás, sente ainda resistência na aceitação de estrangeiros
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Armando Evangelista reconhece que não falta talento e boas condições no Brasil, mas não tem dúvidas que há outras matérias fundamentais que os só técnicos portugueses garantem: organização e exigência.
Há dois meses no Goiás, percebe que há ainda alguma resistência em relação aos técnicos nacionais, mas dizem-lhe que já foi pior. Dois nomes mudaram o paradigma e criaram uma nova imagem.
Qual é a mais-valia dos treinadores portugueses no Brasil?
-Sobretudo, a organização e a exigência. É esse o nosso upgrade. As estruturas existem e são magníficas, temos um centro de treinos de topo, mas às vezes nota-se muita desorganização. Em Portugal, nos clubes pequenos e até médios os treinadores queixam-se da falta de condições de trabalho, mas aqui temos tudo. O nosso trabalho passa também por melhorar a organização dos clubes. Por isso trabalham aqui imensos portugueses, porque nos é reconhecida essa capacidade.
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Assunto muito falado foi a dificuldade de aceitação do técnico português no Brasileirão. Sente essa resistência?
-É verdade, ainda há alguma resistência, não tanto em relação aos portugueses em particular, mas sim ao treinador estrangeiro no geral. Cheguei há pouco tempo, mas pelo que me dizem já foi muito pior, muito por responsabilidade de Jorge Jesus e Abel Ferreira. Chegaram e ganharam, fizeram o trabalho mais difícil e abriram portas para mim e para outros portugueses que entretanto cá estão e estiveram. Só tendo resultados é que poderemos contrariar essa ideia. Mourinho abriu portas noutros mercados, Jesus e Abel são grandes referências aqui. Diria que a resistência é por vezes camuflada face aos resultados. É fácil perceber a nossa competência, porque o trabalho está à vista.
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Há vários treinadores portugueses no Brasileirão. Existe algum contacto entre todos?
-Pessoalmente, procuro falar e trocar ideias com os outros. Falo mais com o Pepa, com o Pedro Caixinha e também já conversei com o Bruno Lage. Conhecemo-nos de Portugal e temos boa relação. Há sempre uma mensagem ou um telefonema para estarmos mais próximos, apesar de sermos adversários. Os mais antigos disponibilizam-se para ajudar quem chega. Quando vim, o Pedro Caixinha teve uma atitude fantástica de apoio e disponibilidade para ajudar. É este espírito de camaradagem que aqui temos.