"Precisava de sentir confiança e exigência quanto ao que esperavam de mim"
ENTREVISTA - Adrien completa na segunda-feira 32 anos e, em longa entrevista a O JOGO, abordou o presente, o passado e futuro, nomeadamente o desejo de voltar à Seleção. Isto, sem esquecer o "seu" Sporting.
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No verão de 2017, Adrien deixou o Sporting e o clube que representava desde os 12 anos, pelo qual foi campeão em todos os escalões menos no sénior. Mas o sonho de jogar na Premier League não foi uma história feliz.
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Começou por ter de aguardar até janeiro de 2018 para representar o Leicester e depois do Mundial"2018 deixou de ser opção para o técnico Claude Puel. Emprestado ao Mónaco, recuperou a alegria de jogar e tem agora, na Sampdória, um novo desafio que para já muito lhe tem agradado.
Como está a ser esta primeira temporada no futebol italiano e na Sampdória? É como que um renascimento?
-No sentido de jogar com regularidade, é como renascer, mas a minha passagem pelo Mónaco também tinha sido positiva, apesar de termos tido o problema da Ligue 1 ter sido um dos campeonatos que parou e não foi retomado. Isso abrandou esta nova etapa da minha carreira. Este ano optei pelo mais interessante para mim como atleta: experimentar outra realidade num grande campeonato como o italiano. Acontecerem estas coisas tão positivas deixa-me contente pela escolha. Que continue assim.
Pela primeira vez fez três jogos seguidos a jogar os 90 minutos. Sinal que não tinha antes a capacidade física ideal?
-No princípio, talvez. Cheguei tarde, pois o Leicester libertou-me na última semana do mercado. E isso tem sempre efeito. Acompanhar a pré-época até ao início do campeonato é algo diferente e apanhei o comboio em andamento. A equipa já tinha quatro jogos realizados. Assim é mais difícil, mas adaptei-me rapidamente. A possibilidade de haver mais substituições também permite fazer melhor gestão coletiva e individual. São dois fatores que podem ter pesado para só recentemente ter essa regularidade de jogar os 90 minutos.
"Gosto de desafios, este é mais um: afirmar-me na Serie A e entre os melhores médios aqui de Itália"
Como foi a sua adaptação à Sampdória e ao treinador Claudio Ranieri?
-Foram muito importantes essas primeiras semanas. Precisava de sentir confiança e exigência quanto ao que esperavam de mim. Foi muito positivo para mim, psicologicamente, manter esta mentalidade de querer sempre mais e melhor. E foi bem positivo. Encontrei um grupo bastante acessível nessa adaptação e as coisas aconteceram com naturalidade.
Teve algum contacto com Ranieri antes de assinar ou foi só depois de o encontrar no clube?
-Já tínhamos falado algumas vezes. Não foi a primeira vez que me tentou contratar. Aconteceu quando ele estava no Leicester. Isso pesou na minha decisão, o facto de me conhecer bem, de conhecer as minhas qualidades e do que eu podia acrescentar ao grupo.
A Sampdória pode não ser um gigante de Itália, mas é um clube histórico, de grande tradição. Além das suas ambições a nível individual, o que o aliciou nas aspirações do clube?
-É um clube com grande história, por onde passaram grandes jogadores. Já confirmei isso desde que aqui estou. A equipa, apesar de ter muitos altos e baixos a nível de resultados, bate-se bem com todas as equipas. Já ganhámos ao Inter, à Atalanta, à Lázio e batemo-nos bem contra a Juventus. Temos um grupo com qualidade, que quer melhorar a cada ano e aproximar-se dos lugares de topo. Isso é importante para um jogador como eu que gosta de desafios. Este é mais um: afirmar-me na Serie A e afirmar-me entre os melhores médios aqui de Itália. É um desafio. É disso que eu gosto.
A Sampdória está tranquila, no 10.º lugar. Colocaram algum cenário de posição na tabela para este ano?
-Não. O primeiro e único objetivo estipulado foi a manutenção na Serie A, uma vez que ainda não estamos salvos no plano matemático. Mantemos o objetivo. Apesar de, independentemente do adversário, a nossa vontade, o nosso objetivo é ganhar. Não é não perder. A nossa mentalidade não é essa. Nós, os mais experientes tentamos passar isso, até porque o grupo é bastante jovem.
O que encontrou de novo no futebol italiano que tenha gostado mais?
-É um tipo de jogo mais prático, mais pragmático, no sentido de não guardar tanto a bola e ser mais objetivo na procura da baliza. Não é um jogo tão pausado como se poderia pensar e como eu próprio pensava. Não tenho sentido um jogo menos intenso, mas sim muita verticalidade no jogo e na procura das equipas em fazer o golo. Tecnicamente não é tão bem jogado como outros campeonatos, mas a maturidade das equipas sente-se dentro de campo. Isso surpreendeu-me.
"A liga francesa surpreendeu-me bastante. Tinha ideia de um nível mais baixo"
Passou pelas ligas francesa, inglesa e italiana, entre as que são de topo. Que diferenças encontrou?
-Já joguei em cinco campeonatos [inclui os portugueses e israelita] e os três últimos são os mais fortes no global. Nessas três ligas, senti que não havia uma grande distância a nível de qualidade entre os primeiros e os últimos lugares. Não havia jogos acessíveis. Não entrávamos a pensar que podíamos controlar ou vencer com maior facilidade. Foi isso que encontrei de similar nos últimos três campeonatos em que joguei. Mas entre Inglaterra e Itália, o campeonato inglês é mais físico, intenso, jogam muito na base da força e na corrida, sem falar em duas ou três equipas de topo que tem. Em Itália, não há essa intensidade, mas há maior rigor posicional e tático. Já a liga francesa surpreendeu-me bastante. Tinha uma ideia de um nível mais baixo, mas fui surpreendido.
A nível de métodos, sentiu grandes diferenças na forma de trabalhar entre os vários treinadores que já teve nessas ligas?
-Houve, houve. Isso é o que torna a vida de um profissional ainda mais rica. Aprende-se ainda mais. Muitas ideias novas, muitas formas de ver e interpretar o futebol e isso, para quem gosta de ir além do jogo em si é muito interessante. Falo dos níveis tático e físico do treino, do pós-treino... É interessante aprender e apanhar aquilo que mais se adapta a nós. Inclusive as partes negativas, para depois filtrar.