Poucos gostam do dono do Hoffenheim, mas a empresa dele procura a cura para Covid-19
Chama-se Dietmar Hopp e ainda há poucas semanas foi notícia pelos protestos dos adeptos que levaram à interrupção do Hoffenheim-Bayern.
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Não foi assim há tanto tempo e por essa altura já muito se falava de coronavírus. Basta recordar que a 29 de fevereiro o Hoffenhein-Bayern foi interrompido devido a conduta incorreta dos adeptos do Bayern, que exibiram tarjas insultuosas para com Dietmar Hopp, proprietário da equipa da casa. Um dia depois, o encontro entre Union Berlim e Wolfsburgo, também da Bundesliga, foi interrompido devido ao comportamento dos adeptos da equipa local, que exibiram faixas a criticar o dono do Hoffenheim. É um facto, estamos a falar do homem mais odiado do futebol alemão.
Agora, em meados de março e com a Europa a debater-se com assustadores números ditados pela pandemia de Covid-19, Dietmar Hopp transformou-se numa espécie de herói da esperança. E ainda na estrela dos que têm um ódio de estimação pelo presidente dos Estados Unidos.
Existe, todavia, uma boa razão. Pelo menos para a parte do "herói da esperança".
A história conta-se rapidamente. O que acontece é que a empresa biofarmacêutica CureVac, cujo dono é Hopp, estará na fase final do desenvolvimento de uma vacina capaz de terminar com a pandemia provocada pelo novo coronavírus, refere a publicação alemã Der Spiegel.
Esta empresa do presidente do Hoffenheim dedica-se, desde há vários anos, ao desenvolvimento de tratamentos contra o cancro e doenças raras. Agora, com o mundo apavorado perante os terríveis efeitos da Covid-19, Dietman Hopp pode estar a um pequeno passo de tornar-se no mais amado dos alemães, mesmo para aqueles que em muitos estádios o criticaram e insultaram.
Há razões para esse ódio? Para os adeptos mais tradicionais do futebol alemão existem, pelo menos, 50+1 razões para não simpatizarem com o milionário. O Hoffenheim e Dietmar Hopp beneficiaram de uma política de exceção à regra da Bundesliga que obriga os clubes a deterem 50% das ações mais uma, evitando que o clube nunca deixe de ser o acionista maioritário , afastando a possibilidade de ser uma empresa ou milionário a tornar-se o dono.
O ódio dos adeptos reside precisamente aqui. Hopp violou a regra do futebol alemão 50+1, sendo dono de 96% do Hoffenheim. A recente chegada da Red Bull ao Leipzig ajudou a dispersar o "ódio" a Dietmar, ainda que seja ele que continua a concentrar boa parte das críticas dos mais puristas.
Hoff comprou o clube em 2005 - dois anos depois de deixar a presidência da SAP, empresa de software -, o clube onde jovem jogou futebol e que nesse ano militava, sem grande destaque, na terceira divisão alemã. Antes, em 1989, dera dez mil marcos ao clube - cerca de cinco mil euros - para que fossem compradas bolas e equipamentos. Em 2005 voltou com 350 milhões de euros de investimento, ajudando a contratar jogadores, a construir um estádio e um moderno centro de treinos.
Mas quem é, afinal, Dietmar Hopp?
Uma entre outras tantas histórias que encantam e alimentam o sonho só possível no capitalismo. Nascido a 26 de abril de 1940, estava a II Guerra Mundial a começar, teve como pai um paramilitar do Partido Nazi. Em declarações publicadas no livro Gesellschaftsspielchen - Futebol entre a Boa Vontade e a Hipocrisia, de Ronny Blaschke, e citado pelo Diário de Notícias, Hopp contou: "Éramos quatro irmãos, às vezes não tínhamos o que comer e tinha de carregar carvão para ter o meu dinheiro. Essa foi uma das razões pelas quais quis ser rico".
Enquanto jovem adorava futebol, chegou a jogar no Hoffenheim, mas foi através dos estudos que se tornou milionário. Começou por ser engenheiro na IBM e em 1972, com mais quatro empresários, criou a empresa de software SAP, da qual foi presidente entre 1988 e 1998. Maior do que a SAP só mesmo a Microsoft e a Oracle. Em 2003, deixou a SAP, mantendo 5,52% do capital social.
Muitas vezes apresentado como o homem mas rico da Alemanha - sendo por isso mesmo, muito, muito rico -, Dietmar Hoff criou também a sua própria fundação com uma doação inicial de 600 milhões de euros, uma fundação que entre outras coisas atua na investigação sobre o cancro e educação. Mais tarde, Hopp investiu 800 milhões de euros em biotecnologia com o objetivo de ajudar no combate ao ébola e na descoberta de tratamentos eficazes para a doença Alzheimer.
O caso com Donald Trump
Uma história recente e curta para ajudar a gostar de Dietmar Hopp. Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, fez saber que pretendia ter a exclusividade da comercialização da vacina contra o coronavírus, obtendo do odiado presidente do Hoffenheim e amado dono da CureVac a seguinte resposta: "Se formos bem-sucedidos no desenvolvimento de uma vacina eficaz, ela deverá ajudar e proteger pessoas em todo o mundo", disse num comunicado.