Português dá cartas nos sub-19 do Al Hilal: "Promovo jovens num clube vencedor"
Bruno Marinho é o bem-sucedido treinador dos sub-19 do Al Hilal, contando com títulos na formação no Catar e Arábia Saudita. Vai aproveitando singular expressão futebolística do país, orgulhoso da relação estreita com Jorge Jesus na oferta de valores à primeira equipa
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Campeão no Catar e campeão na Arábia Saudita, o português, Bruno Marinho, de 44 anos, responde com proezas no Golfo, liderando equipas sub-20. O sucesso no Al Faisaly em 2018/19 foi replicado no Al Sadd na época passada, voltando ao país onde começara esta aventura, após trabalhar no Aves e Salgueiros, para orientar, nada mais nada menos, que o Al Hilal, o poderoso emblema saudita, fazendo pontes com Jorge Jesus sobre o mais jovem potencial da prata da casa.
Se é apanágio dizer-se que o português anda pelo mundo a vender competência, há diferentes esferas onde se constata essa influência. "Conheço a realidade do Al Hilal e dos clubes onde trabalhei, sei que estou agora no maior da Arábia, o maior do Golfo, um dos maiores da Ásia, algo bem documentado nos títulos conquistados. A equipa de futebol tem a força que se conhece, mas é expressivo o seu domínio em todas as modalidades. Também beneficiou desta era de entrada de novos investimentos, o seu CEO trabalhou no City, isso demonstra a sua grandiosidade", relata.
"Trouxeram gente importante para desenvolver o clube, vemos tudo muito organizado. Fico feliz por fazer parte de um clube tão habituado a ganhar e a querer mais", acrescenta Bruno Marinho, partilhando os proveitos da experiência pessoal já adquirida ao lado de Jesus. "É uma relação de alguma proximidade, tenho jogadores que o mister Jesus observa para a primeira equipa, já tivemos dois treinos-conjunto entre nós. Proporcionam-se conversas de trabalho, de organização para que ele possa ter maior conhecimento dos elementos sub-19, que podem progredir e chegar à primeira equipa. Gostei muito da sua recetividade, há uma vontade do clube potenciar atletas, inclusive os sauditas, oferecendo-lhe maior cultura tática e capacidade física. Para que possam somar uma qualidade próxima dos estrangeiros", evidencia o técnico português. "Estamos num clube vencedor com muita história e várias conquistas da Champions Asiática. Há essa perspetiva de encontrarmos jogadores com esse perfil, que possam ajudar o mister Jesus", adianta.
"Este é, basicamente, um trabalho de promover jovens, sendo que já tenho uma imagem sustentada no Médio Oriente. Tive a oportunidade de mostrar trabalho nestes mercados e tenho desenvolvido a carreira por cá. Penso que tenho feito um bom trabalho, ajudado a aprimorar o talento do jogador saudita. São velozes e têm qualidade técnica, precisam mais de entendimento de cultura tática", afere Bruno Marinho, envolto em boas sensações, rodeado de figuras nacionais que elevam o mediatismo e o reconhecimento de quem trabalha no futebol saudita.
"Se temos muitos portugueses a chegar é um bom sinal, são treinadores que se espalham pela formação, futebol feminino e futsal, são administradores, CEO. Há muitos portugueses que chegam para tomar posições importantes e temos os exemplos de grandes treinadores como Jesus, Luís Castro, Vítor Pereira. É sempre bom, somam-se jogadores como Ronaldo, Cancelo, Rúben Neves, Fábio Martins. Vemos técnicos de grande renome e qualidade fortes no mercado mundial, isso valoriza a nossa competência, seriedade e capacidade de adaptação a outras culturas e mentalidades", confessa. "Sou apenas mais um a transportar com paixão a bandeira portuguesa, satisfeito e orgulhoso por ter trilhado o caminho por estes lados, ao lado de tanta gente ilustre", admite Bruno Marinho, radiografando um país com ânsia de se atualizar e requalificar para viver o futebol com aura dominante. "Sente-se, claramente, uma Arábia Saudita a abrir as suas fronteiras, a chamar mais turismo. Está a desenvolver-se para uma imagem mais global. Eu já estava cá antes da mudança mas sempre vi pessoas simpáticas e atenciosas, apaixonadas por futebol. Agora gostam mais! E o mundo está a ter essa perceção. O campeonato ganhou visibilidade com muitos embaixadores, os nossos e outras figuras do futebol mundial. A sociedade vai atrás, tem mudado um pouco. Sente-se um caminho de estabilidade, todos estes craques têm catapultado o país e dado maior mediatismo. É gratificante estar cá neste período, a assistir a esta transição, a trabalhar neste contexto. Quero evoluir e crescer profissionalmente e como pessoa", atesta, definindo o seu percurso pelo golfo. "Estive nos Emirados, o trabalho trouxe-me para a Arábia Saudita e tenho tido oportunidade de crescer neste mercado. Tem sido interessante, tenho apreciado os contextos, a cultura dos países. Sinto que tenho progredido, conhecido muita gente, passei por clubes medianos e cheguei a um dos grandes emblemas do mundo. Tem sido aposta ganha", valida, sem hesitar, até por conta de títulos que se entrelaçam a esta descoberta.
"Ser campeão dos sub-19 no Catar e Arábia foi algo muito bom. Era muito difícil, por serem ligas competitivas. Ninguém joga sozinho. No Catar havia ali Al Sadd, Al Rayyan, Al Gharafa, Al Arabi, aqui também existem concorrentes fortes para o Al Hilal, pelo que é complicado ser campeão, é sinal de trabalho e competência. Ganhou-se, desenvolvendo jogadores para outros patamares. Os sub-19 do Al Hilal é como se fossem uma equipa B, logo abaixo da equipa principal, de modo que vou vendo jogadores chegarem lá, também à seleção", vinca o portuense, amplificando a leitura, não descurando impactos e atrações.
"Sinto que estou num contexto de equipa grande, só posso ajudar a ganhar com a mesma exigência como se tivesse no FC Porto ou Real Madrid. O objetivo é formar jogadores para chegarem à equipa A, isso é desafiante. Depois há essa visibilidade do campeonato com Ronaldo, Benzema, Aubameyang. Tudo veio dar mais atenção aos jogos, oferecendo outra ambição aos jovens, que se preocupam mais com o seu bem-estar físico. Há muita qualidade e futebol competitivo", descreve. "Há muita paixão pelo jogo, que tem já uma velocidade muito interessante. Vemos boas condições, bons relvados naturais, ginásios de topo, uma boa cobertura da Federação, já sabemos que vem um Campeonato do Mundo e isso ainda vai fazer com que se melhorem muito mais estas condições, ao nível de estádios e facilidades", retrata Bruno Marinho, já algo distante do seu passado em Portugal. "Antes de voltar para este mercado, já tinha estado nos Emirados. Em Portugal passei pela Casa do Benfica, pela primeira equipa do Salgueiros, onde ganhei o prémio de treinador do ano. Foi uma honra ter estado neste histórico e torço, sinceramente, para que regresse a grandes palcos. Trabalhei nos sub-19 do Aves, quando a equipa jogava na Liga. Até que surgiu esta oportunidade da Arábia Saudita. Ainda cheguei reticente pelas histórias que se ouviam, mas aceitei e gostei do país e das pessoas. Tratam-te muito bem. Tinha a perspetiva de fazer bons trabalhos, abrir portas e desenvolver-me. Estou bem aqui com olhos no presente e futuro, reconhecendo que gostava de treinar em Portugal na 1.ª ou 2.ª Liga. Ainda posso aumentar as minhas valências, estou entusiasmado por estar num clube de invejáveis condições e convivendo com uma equipa técnica de primeiríssimo plano. Sou grande admirador do mister Jesus, pelo seu trabalho e staff", encerra.