Fernando Santos frisou a importância de ter quatro dias de descanso e percebe-se porquê: desde o início de 2022/23, os eleitos da Seleção acumularam mais carga do que os suíços.
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Portugal dá esta terça-feira (19h00), no imponente Estádio de Lusail, aquele que se espera que seja o primeiro de quatro passos na fase a eliminar do Mundial. A Seleção Nacional vai defrontar a Suíça, nos oitavos de final, quatro dias depois de ter perdido frente à Coreia do Sul (2-1), no encerramento da fase de grupos.
Estatuto de indiscutíveis nos clubes e presença massiva em competições europeias ajudam a explicar a diferença de Portugal para a Suíça, que tem, ainda assim, o "rei da maratona": Shaqiri.
Não obstante a derrota, o principal objetivo foi cumprido: terminar a primeira fase no primeiro posto, não para evitar o poderoso Brasil, mas antes a pensar no descanso. Como Fernando Santos frisou na altura, "jogar com quatro dias de descanso é melhor do que fazê-lo com três" e percebe-se a preocupação do Engenheiro. É que, para lá da fadiga natural decorrente do ritmo da competição, a equipa das Quinas chega ao embate com os helvéticos bem mais desgastada. O JOGO fez as contas às partidas oficiais disputadas por cada um dos 26 convocados das duas formações desde o início da temporada e concluiu que os portugueses têm cerca de cinco mil minutos a mais nas pernas.
A Suíça tem sete jogadores abaixo da barreira dos 1000' de utilização em 2022/23; Portugal tem apenas um
Entre as competições de clubes e jogos de seleções, os selecionados de Fernando Santos para o campeonato do Mundo - e contando já os três desafios em solo catari - acumularam um total de 45 129 minutos desde o arranque de 2022/23. Um número superior ao dos homens de Murat Yakin (40 111') e que se explica, em boa parte, com base em dois fatores: o estatuto de indiscutíveis da maioria dos jogadores lusos nos respetivos clubes e o facto de 22 dos 26 terem jogado Liga dos Campeões ou Liga Europa (José Sá, Palhinha, Rúben Neves e Matheus Nunes são as exceções). Na lista da Suíça, por outro lado, 14 jogadores foram "poupados" a esse desgaste europeu, alguns deles peças fulcrais: Sommer, Elvedi, Ricardo Rodríguez, Freuler e Ruben Vargas, por exemplo.
Nesta altura, o jogador menos desgastado de Portugal é João Félix, com "apenas" 988' nas pernas
Esta panóplia de dados ajuda, também, a explicar o porquê de Fernando Santos ter concedido sempre meio dia de folga aos jogadores no dia imediatamente ao seguir aos jogos. Além de poupá-los a carga física exagerada, o selecionador nacional espera que os momentos de pausa tenham um efeito revigorante a nível psicológico. Hoje, a capacidade de superação será posta à prova.
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O peso da Premier League e o caso especial de Shaqiri
Avançando para uma análise individual, é possível verificar que o jogador português com mais minutos somados em 2022/23 é Diogo Costa. O dono e senhor das balizas de FC Porto e Portugal só teve a as taças internas para descansar e, nesta altura, já conta 2340' em campo. Contudo, se para o guarda-redes este acumular de jogos não se traduz de forma linear em cansaço, o mesmo não se pode dizer dos outros constituintes do "top-5" luso (ver infografia): Bruno Fernandes, João Cancelo, Rúben Neves e Bernardo Silva, curiosamente todos em clubes ingleses, que, como se sabe, têm o maior ritmo competitivo do futebol europeu. Nota, ainda, para outro dado relevante: o Wolverhampton não está inserido em nenhuma prova europeia, pelo que os números de Neves dão conta do quão importante é para os lobos.
No "top-5" de jogadores da Seleção com mais minutos em 2022/23 há quatro que atuam em clubes da Premier League. Diogo Costa, o líder, é a exceção
Na Suíça, é impossível não mencionar Shaqiri. A contagem do extremo quase toca nos 4000', uma vez que trocou o Lyon pelo Chicago Fire em fevereiro e não gozou férias de verão. Porém, uma vez que a campanha da sua equipa na MLS terminou no início de outubro, teve quase um mês para recarregar baterias antes do Mundial. E se o top-5 da Suíça até tem mais tempo de jogo o que o português, esse somatório é contrabalançado por jogadores com muito menos rodagem. Zakaria é o caso mais gritante (apenas 314'), perante a tamanha diferença para o menos utilizado de Portugal: João Félix, com 988'.
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