Pipa de craques rumo ao Catar: grupo "praticamente fechado", mas há "miúdos da moda" na calha
Pelo rendimento e pela importância que tem na Seleção, há um núcleo grande que tem o bilhete na mão rumo ao Catar. Diogo Costa e Vitinha foram as apostas de Fernando Santos para o play-off com a Turquia e a Macedónia do Norte. Procuram uma vaga e estão incluídos num lote extenso.
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Garantida a presença na oitava fase final de um Campeonato do Mundo, a Seleção Nacional olha para o futuro.
Fernando Santos tem um lote alargado de opções para levar ao Catar e o play-off, que, à partida, parecia uma tragédia, revelou mais alguns trunfos, como Diogo Costa, que destronou Rui Patrício, titular indiscutível na baliza desde 2010, e Vitinha, o mais recente estreante.
Os centrais Gonçalo Inácio e Tiago Djaló também foram chamados para esta dupla jornada, com a Turquia e a Macedónia, mas não foram utilizados. Mesmo assim, permitem aumentar o leque de opções para um setor que conta com Pepe (39 anos) e José Fonte (38), dois jogadores que continuam em grande forma, mas já com idade avançada.
Jorge Andrade e Maniche, dois antigos internacionais, que deixaram a sua marca na Seleção Nacional, estão de acordo: "As dúvidas em relação à lista definitiva existem porque existe qualidade".
Jorge Andrade acredita que o selecionador não vai alterar muito o grupo, mas não exclui novidades. "Quem fez a qualificação tem mais oportunidade de ir ao Mundial, mas tivemos um exemplo no Campeonato do Mundo de 2002: o Litos [Boavista], que participou nos jogos de apuramento, e depois não esteve numa fase final. Mais recentemente, no Europeu de 2020 tínhamos o João Palhinha como certo, mas agora já se questiona se deve ser chamado", recorda o antigo central, deixando ainda uma ressalva, tendo em conta que o Mundial vai decorrer já com a próxima época a decorrer. "É uma questão de momento e de mercado, porque no verão alguns jogadores podem mudar de clube e podem ou não ser valorizados."
Jorge Andrade destaca ainda que "Fernando Santos dá oportunidade de todos serem selecionáveis, mas depois, no onze inicial, já muda de figura, é mais conservador e tenta manter uma base de jogadores mais experientes".
Maniche também fala do "conservadorismo" do selecionador, mas sem lhe dar uma conotação negativa, bem pelo contrário. "O Fernando Santos já nos habituou a ser um treinador conservador e gosta de ter um grupo restrito, da sua confiança, independentemente de jogarem mais ou menos. Mas até nos clubes é importante ter essas referências tanto dentro como fora de campo. Muitas vezes, os adeptos não compreendem o motivo porque alguns jogadores são chamados, mas isso também pode ter a ver com a construção desse grupo, para que seja forte."
O antigo médio acredita que "o selecionador tem o grupo praticamente fechado", mas entende que "pode haver dúvidas nas laterais, num ou noutro central e no meio-campo, sobretudo neste setor, porque existem muitas e boas soluções". Considera até que Danilo pode ser a peça-chave na lista final que vai ao Catar. "Se Danilo for como central, abre uma vaga no meio-campo. Não gosto muito de adaptações, mas o Danilo já jogou como central nestes dois jogos decisivos e deu uma boa resposta", destaca.
Internacional em 52 jogos pela seleção A e com um currículo recheado, Maniche é a voz da experiência na hora de falar em médios que podem entrar na lista final.
"O Vitinha [FC Porto] está numa forma tremenda. Para mim, é o melhor jogador da Liga Bwin. Se continuar a jogar assim, é difícil entender caso não seja convocado para o Mundial. Já o Fábio Vieira tem uma qualidade tremenda e está num bom momento de forma. Mas há mais que podem ser chamados, sem esquecer os outros que fizeram a caminhada até à qualificação para o Mundial. O Bruno Fernandes, por exemplo, teve exibições intermitentes, mas agora foi decisivo na qualificação para o Mundial", elogia.
Com menos uma internacionalização A do que Maniche, Jorge Andrade também não descarta a chamada de alguns jovens que têm dado nas vistas no campeonato português.
"Pode chamar estes miúdos que estão na moda e que têm aproveitado as oportunidades, casos dos meninos do FC Porto, João Mário, Vitinha e Fábio Vieira, assim como o Gonçalo Ramos, que até está à frente do Seferovic", enumera, aplaudindo o comportamento do mais recente jogador a estrear-se pela seleção A.
"O Vitinha só jogou três minutos, mas viu-se a alegria dele no final do jogo. É indescritível. É esse o sentimento de jogar pela Seleção. Mesmo que seja por pouco tempo, todos têm o sonho de jogar pela Seleção. Eu também tive esse sonho e senti isso."
Certo é que ainda falta muito até às escolhas finais e até ao início do Mundial do Catar. Até lá, há que "gerir a ansiedade, o que é sempre complicado", avisa Jorge Andrade.
"Eu fiz uma qualificação inteira para o Mundial"2006 e depois lesionei-me. Os jogadores vão preocupar-se com as lesões, mas há ainda a pressão da família e mediática. Mas, hoje em dia, os jogadores têm uma noção diferente do que nós e também têm esse tipo de pressão nos clubes, assim como os treinadores e os selecionadores também estão mais qualificados."
Maniche também é da opinião que a ansiedade vai estar presente até à última hora. "Independentemente de alguns jogadores terem quase a certeza que vão estar no Mundial, enquanto não ouvirem o seu nome dito pelo selecionador há sempre uma ansiedade enorme e normal pela responsabilidade e pela ambição de querer estar nessa grande prova."
Pepe fez o pleno na história dos play-off
Pepe é o verdadeiro rei dos play-offs, pois é o único que jogou os quatro a que a Seleção foi obrigada: os duelos de 2010 e 2012, ambos com a Bósnia, assim como em 2014, com a Suécia, e agora com a Macedónia do Norte. Rui Patrício também esteve nos quatro play-off, mas ficou no banco no primeiro e no último. Cristiano Ronaldo e João Moutinho falharam o primeiro duelo com os bósnios.
Excluídos? Um quarteto que perdeu o embalo
Fernando Santos tem um lote alargado de opções para o Mundial do Catar, mas alguns jogadores perderam espaço nos últimos tempos. Rui Silva, guarda-redes do Bétis, é um desses casos. Apesar da boa época que está a realizar em Espanha, já tinha a concorrência de Rui Patrício, Anthony Lopes e até de José Sá, mas mais recentemente viu o leque alargado com a chegada de Diogo Costa. Há outros casos de jogadores em bom plano nos respetivos clubes, mas que não têm sido chamados e que parecem estar de fora das contas, como Ricardo Pereira (Leicester), André Gomes (Everton) e Pizzi (Basaksehir), futebolistas já com passado na Seleção Nacional.
Faltam sete meses. Excluindo um de férias, há seis meses muito intensos até à convocatória, um mercado de verão que pode catapultar competitividades e uma quantidade de imponderáveis, como lesões...