Instituiu novos paradigmas ao chegar à seleção principal e aponta ao Mundial de 2026.
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Um trabalho de largos anos no Sporting encheu-o de confiança e sentiu-se desafiado por rumar a Angola, sem que tivesse quaisquer ligações ao país. Passou por 1º Agosto, seleções jovens e encaixou na seleção maior, operando uma transformação que vai sendo altamente frutífera. Idealiza colocar os Palancas no topo do futebol africano, vendo para já a participação no CAN muito próxima.
Pedro Soares Gonçalves leva oito anos em Angola e tem sido ele, nos últimos anos, a comandar os destinos da seleção, ressuscitando a chama dos palancas, reavivando a alegria angolana com o futebol. Os últimos resultados têm sido espelhos de intenções bem sucedidas e de um projeto firme que pretende recolocar Angola num lugar privilegiado quanto a disputas futebolísticas no continente, não estando fora da órbita a presença no próximo Mundial, em 2026. O técnico, de 47 anos, leva uma segunda vida no desporto-rei, após uma primeira em Alcochete, na qual foi quase um mentor de vários craques, hoje de primeira linha. Angola conquistou-lhe o coração, numa aventura iniciada pelo 1º Agosto, seguindo-se sub-17, sub-23 e seleção maior.
"Quis um desafio diferente, a partir do 1º de Agosto também quis mudar o ciclo. Surgiu a hipótese de rumar ao sub-17, tendo como propósito o apuramento para o Mundial de 2019. Seria feita uma disputa a seis zonas e nós fomos campeões da África Austral. Depois vieram dois jogos com a Gâmbia, que conseguimos vencer e apuramo-nos para o Mundial. Foi algo inédito", resume a imagem de sucesso, que fez disparar a cotação, conduzindo a uma carta convite para o leme dos palancas. "Deu-se algo anómalo com os desempenhos da seleção no CAN"2019 e num turbilhão de acontecimentos acaba por me ser solicitada uma liderança da equipa, que resulta em aposta definitiva", recorda o homem a quem foi proposto "inovar sem revolucionar".
"Pediram-me que abrisse um novo capitulo e fizesse a renovação. O objetivo foi imediatamente agregar mais-valias da diáspora angolana pelo mundo e valorizar talentos emergentes, partindo também do conhecimento da geração sub-17 que chegou aos oitavos no Mundial. Esse resultado foi um marco muito importante no país, depois da presença no Mundial da Alemanha em 2006. A perspetiva europeia do futebol angolano mudou radicalmente, até em Portugal", conta, reforçando o trabalho profícuo encetado. "A seleção mudou a sua face, de meia dúzia de jogadores colocados no estrangeiro, passamos a ter dezenas a competirem a alto nível em vários países da Europa. Jogadores comprometidos e que querem representar Angola e que saltaram para outros patamares", valida. "Hoje estamos muito perto de selar o nosso apuramento para o CAN e acho que é legítimo colocar Angola em seis ou oito anos no topo de África, a ombrear com as dez melhores seleções do continente", projeta Pedro Gonçalves, idealista e apaixonado pelo presente, guiado por um sonho excitante.
"Neste trajeto que já é longo, de cinco anos, há associado um propósito profissional. Estou realmente muito envolvido com este trabalho, sinto que é algo que tem muito de mim e da minha equipa técnica. Sinto-me acarinhado pelos angolanos, sinto que é a minha casa. Tenho este objetivo do CAN, que já é prova de um consubstancial crescimento. Mas não posso negar que há o objetivo de estar no Mundial de 2026, seria outro marco para o país, 20 anos depois fazer Angola voltar a uma prova destas. Há convites que me deixam feliz mas estou determinado neste trabalho", nota.
"Adeptos foram reconquistados"
Pedro Soares Gonçalves sabe como partir da base para a pirâmide. No Sporting foi peça importante em várias etapas de formação. Os conhecimentos aplicados em Angola, a sensibilidade apurada para o jovem futebolista e o seu transporte para os necessários canais de exposição traduziu-se num bálsamo quanto ao que é hoje a capacidade de recrutamento.
"Há quatro anos foi o momento de charneira, foi preciso renovar, apontar o novo caminho e mudar mentalidades. Das 24 seleções que participaram no CAN"2019, Angola foi uma das quatro em que a maioria dos jogadores não jogava na Europa. Hoje estão distribuídos às dezenas por países com tradição. É um ótimo sinal de crescimento com um nível competitivo substancialmente superior", informa. "Associado isso a um trabalho para que possam compreender os valores da seleção de Angola, sintam orgulho, que sintam o país como referência, envolvidos pela cultura angolana. Tenho sentido que temos conquistado uma unidade entre o povo angolano e a equipa. Queremos abrir Angola para quem partiu para fora, e não negar o valor interno. A minha grande satisfação é olhar para todas as estreias que já potenciei por Angola, percebendo que muitos conseguiram aproveitar o empurrão para atingir novos patamares", sustenta o técnico português, de 47 anos, lendo ainda o impacto do trabalho pela mobilização para jogos de Angola.
"Temos uma conceção de jogo consolidada e ideias plasmadas. Conseguimos reconquistar o público, a afluência dos últimos jogos cresceu imenso, é uma moldura humana que não se via há muito tempo. Contra o Gana tivemos um público muito entusiasta. É um capital que temos vindo a adquirir fruto dos resultados. É um orgulho, já sou o segundo treinador com mais jogos feitos a seguir ao Oliveira Gonçalves. Tenho 33 jogos, 15 vitórias, nove empates e nove derrotas", contabiliza.
Os consagrados e as promessas
Num retrato de gerações de jogadores que coabitam hoje como palancas negras, que fervilham de sonhos, potenciados por carreiras em países como Portugal, Turquia, França, Itália, Bulgária, China, Bélgica, República Checa, Arábia Saudita, Catar, Grécia, Egito, Líbia ou Angola. Já não é só Portugal que coloca os angolanos no mapa, onde antes brilhavam heróis como Mantorras, Akwá, Mendonça ou André Macanga. "Estamos a apostar em jogadores que venham com idades que lhes permitam cumprir vários ciclos. Hoje, vendo o espaço da seleção, temos jogadores como Fredy, Dala, Buatu e Eddie Afonso que representam a continuidade. Temos outros experientes como Show, Núrio Fortuna, Bruno Paz, Hélder Costa, Mbala Nzola, na Fiorentina, e Kialonda Gaspar", conta, juntando o somatório mais recente "E depois há essa integração dos jovens que acompanhei nas seleções anteriores como Zini, Zito Luvombo, Ben Mukendi, Maestro, Capita, Domingos Andrade, Milson, Nélson da Luz, Balburdia e Loide Augusto. Tivemos problemas com o Nélson da Luz. E ainda temos muitas expectativas com jogadores como Bito, Keliano e Pedro Bondo."
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