Pedro Martins: os 10 milhões de Amorim, a saída de Lage e o sonho da Premier League
ENTREVISTA, PARTE II - Pedro Martins condena com veemência a forma como o treinador do Benfica foi criticado antes de ser afastado. "Estes meses foram ferozes para ele", atira
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Colega de Nélson Veríssimo no Alverca, Pedro Martins acredita no potencial do amigo para dirigir o Benfica nesta fase.
"As pessoas mexeram com o carácter de Lage"
Ficou surpreendido com a saída de Bruno Lage?
-O Lage no ano passado fez uma recuperação absolutamente fantástica. Até à primeira volta deste ano teve jogos imaculados, com um rendimento extraordinário e está na história do clube. Depois, as coisas mudaram. O Lage já demonstrou competência, fez um grande trabalho no Benfica. O Benfica na época passada foi campeão fruto do seu trabalho e lamento que tenha acontecido o que aconteceu porque acho que também houve muito ruído, muita crítica, muitas vezes a roçar a privacidade e dignidade do Lage. Quando a crítica entra no lado da privacidade, mexe com o caráter do homem... Houve gente que não respeitou, passou a barreira. Estes três, quatro meses foram ferozes para o Bruno.
Foi colega do Nélson Veríssimo no Alverca. Embora temporária, acredita tratar-se de uma boa solução?
-Não há ninguém que conheça melhor do que ele o Benfica. Esteve muitos anos na formação do clube, preparou-se, foi um profissional extraordinário. Acredito que dê um cunho pessoal à equipa. Eu vejo muita capacidade pela forma como pensa o jogo e vê o futebol. Espero que seja feliz e consiga bons resultados.
Rúben Amorim é uma aposta de risco para o Sporting? Faz sentido pagar 10 milhões por um treinador?
-Não faço a menor ideia. Já tenho tanta coisa para resolver no Olympiacos... Não sei o que se passa na casa dos outros.
É verdade que foi contactado para treinar o Sporting?
-Pelo respeito que tenho a toda a gente, prefiro não responder.
Sente falta do futebol português?
-Acompanho o futebol português, gosto muito do futebol português, mas o futebol grego preenche-me. Estou bem nessa fase, não penso em voltar. Não me vejo a voltar a Portugal tão cedo porque há mais caminhos para desbravar.
Na próxima época haverá desinvestimento. Como vai ser viver com menos dinheiro para reforçar a equipa?
-Não faço ideia, o que sei é que a maioria dos jogadores vão permanecer. Temos pouca gente a terminar contrato. A espinha dorsal mantém-se. Se vierem buscar alguém é porque houve clubes que investiram fortemente e quiseram contratar jogadores do Olympiacos.
Também sofreu um corte no ordenado por causa da pandemia?
-É uma questão transversal. Fomos todos afetados.
Uma das novidades do pós-pandemia são as cinco substituições. Isso beneficia o jogo?
-Há uma maior intervenção dos treinadores e uma maior capacidade para alterar, até estruturalmente as equipas. Temos oportunidade para dar maior riqueza e dimensão tática ao jogo. Não estamos condicionados pelos cartões amarelos, pelas lesões, ou com um jogador que não esteja mesmo bem. Já tirei benefícios nesta fase e os resultados são muito positivos.
Que tipo de treinador é o Pedro Martins?
-Gosto de ser líder, gosto de equipas com posse ofensivamente, não gosto de equipas expectantes. Não digo aos meus jogadores que se calhar o empate era bom, não consigo fazer isso.
"Nunca escondi que quero a Premier League"
Feliz com a reação dos jogadores no regresso, após o confinamento, Pedro Martins assume o sonho da Liga Europa, mas com cautela, porque o Wolverhampton de Nuno assim o exige
Resolvido o campeonato, a Liga Europa passou a ser o grande objetivo?
-Calma... O Olympiacos nunca foi campeão sem derrotas e era importante conseguirmos esse objetivo. Este grupo poderia ficar na história também por aí. Resumidamente, temos o objetivo de terminar a época sem derrotas no campeonato, ganhar os dérbis, a final da Taça da Grécia e a Liga Europa.
Eliminatória com os Wolves, de Nuno Espírito Santo, será um quebra-cabeças, depois do empate (1-1) na Grécia. Concorda?
-Será um quebra-cabeças para mim, mas também para o Nuno. Vai ser um jogo renhido. Gostaria que nos defrontássemos na final.
O Olympiacos quer ganhar a Liga Europa?
-É um sonho que temos. Mas há equipas muito fortes e bem apetrechadas, com enorme potencial em comparação com o Olympiacos. Mas chegando a esta fase, tudo é possível.
Sem adeptos nas bancadas ainda é mais complicado?
-Futebol sem adeptos não é a mesma coisa, inclusivamente adultera o próprio jogo. Com a pressão do público os jogadores transcendem-se ou ficam mais ansiosos ou mais nervosos ou mais empolgados. É isso que os adeptos dão ao espetáculo.
Aceitou o desafio lançado por Marinakis e renovou contrato até 2022. Porquê?
-Porque senti que este projeto ainda tem muita coisa para ser escrita. Eu tinha propostas aliciantes, mas não poderia dizer não ao projeto deste grande clube.
Que propostas foram essas?
-Tive várias mas prefiro não falar em nomes. Tive propostas de vários clubes de vários países.
Mas não esconde que gostaria de ir para a Premier League?
-Nunca escondi. Com a dimensão que tem o futebol em Inglaterra, que treinador não gostaria de trabalhar lá? Mas não me vejo nos próximos dois anos em Inglaterra.
Mesmo com os muitos problemas que tem o futebol grego, como aconteceu recentemente com a perda de pontos do PAOK?
-É evidente que o futebol grego precisa de dar um salto qualitativo em termos de organização.
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