"Passar a primeira fase? Querem muito atingir esse objetivo e podem fazê-lo"
Luís Castro conviveu com "cultura de seleção" no Catar.
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A visão futebolística do Catar apoia-se numa "cultura de seleção", que acelerou a gradual evolução competitiva do país anfitrião do Mundial'2022, encimada pela inédita conquista da Taça Asiática de 2019, nota o treinador português Luís Castro.
"Muito mais importante que todo e qualquer clube é a seleção. Vivemos isso de maneira permanente e muitas vezes chegámos a ficar sem atletas por largos períodos. A seleção do Catar está junta há seis meses para se preparar para o campeonato do Mundo. Já tinha feito o mesmo durante um mês e meio para a Taça das Nações Árabes de 2021", contextualizou à agência Lusa o atual técnico dos brasileiros do Botafogo, de 61 anos.
Desde há três anos a trabalhar no estrangeiro, Luís Castro foi campeão ucraniano com o Shakhtar Donetsk (2019/20) e venceu a Taça do Emir do Catar pelo Al-Duhail (2021/22), antes de rumar ao Botafogo, do principal escalão da única nação pentacampeã mundial.
"Quando se lesionam nos clubes, os jogadores da seleção são tratados e monitorizados pela Associação de Futebol do Catar (CFA). Os clubes perdem o domínio de um atleta sempre que há qualquer problema médico. Depois, os nossos jogos deveriam ter sempre um relatório enviado para a CFA sobre cada jogador da seleção. Tanto o país, como os próprios clubes, estão virados para a seleção, que vai estando acima de tudo", detalhou.
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Os cataris partem para a estreia no maior torneio mundial de seleções na 50.ª posição do "ranking" da FIFA, três anos após terem conquistado a Taça Asiática, que albergarão em 2023, tal como lograram em casa a terceira posição na última Taça das Nações Árabes.
"O que fez a diferença foi um trabalho continuado de há muitos anos, acompanhado pelo investimento na formação. Lembro-me que em 2006, quando visitei pela primeira vez o Catar e a academia Aspire, já estavam a ser trabalhados futebolistas para que um dia pertencessem à seleção e pudessem dar o melhor, de forma a obterem êxito", partilhou.
Sob orientação do espanhol Félix Sánchez, que assumiu as funções de selecionador em 2017, o Catar também foi 10.º colocado na Copa América de 2019 e chegou às meias-finais da Gold Cup da CONCACAF de 2021, eventos nos quais entrou como convidado.
Nesse papel, a equipa do defesa luso-cabo-verdiano naturalizado catari Pedro Correia, conhecido por Ró-Ró, evoluiu ainda na qualificação europeia para o Mundial'2022, tendo vencido dois e empatado três dos 10 jogos particulares realizados no grupo de Portugal.
"É uma equipa bem treinada e servida de bons jogadores. No meu clube [Al-Duhail] tinha oito atletas da seleção, todos a um nível bom. Já o Al-Sadd [emblema mais titulado do país e atual bicampeão nacional] tem 10 ou 11. Essas são as equipas que mais nomes dão à seleção do Catar, que, por sua vez, vive muito desta base. Os atletas convivem dentro e fora desse espaço e estão muito identificados uns com os outros", salientou Luís Castro.
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Admitindo que possa haver "algum desgaste psicológico" no plantel face a essa contínua afinidade, o técnico natural de Vila Real aborda esse espírito como "vantajoso" para os anfitriões do campeonato do Mundo, que "foram muito trabalhados para este momento".
"O Catar sabe a responsabilidade que tem por jogar no seu país. Não poderemos olhá-lo como aquele candidato a um título e a ir muito longe na prova, mas como uma formação competitiva, que dá tudo no jogo, tem diversos atletas de qualidade, apresenta um bloco baixo no momento defensivo, sai forte para ataque rápido e espera os momentos certos para lograr os resultados que pretende", analisou Luís Castro, que já comandou Penafiel, FC Porto, Rio Ave, Desportivo de Chaves ou Vitória de Guimarães, na I Liga portuguesa.
A 22.ª edição do Mundial realiza-se entre 20 de novembro e 18 de dezembro, a meio da temporada 2022/23, abrindo com o jogo entre Catar e Equador, do Grupo A, no qual os asiáticos ainda defrontam Senegal e Países Baixos, nos dias 25 e 29 deste mês, respetivamente.
"Passar a primeira fase? Querem muito atingir esse objetivo e podem fazê-lo numa série que, quando se olha, se antevê difícil. O Senegal e os Países Baixos têm boas equipas e o Equador também se vai apresentar bem. É um desafio grande para o Catar, mas estou convicto de que terá a hipótese de lutar até ao último jogo e atingirá o objetivo", concluiu, aludindo a uma fase em que Portugal ladeia Gana, Uruguai e Coreia do Sul no Grupo H.