O Estádio da Luz é o recinto que mais jogos recebe da Seleção desde 2004, incluindo nas contas o Europeu desse ano, tanto assim que o Dragão e Alvalade juntos não têm tantas partidas como o reduto encarnado. Mas o estádio onde Portugal tem maior percentagem de vitórias é o do Algarve.
Corpo do artigo
Com 58 373 espectadores nas bancadas, o Estádio da Luz presenciou, há duas semanas, a derrota de Portugal com a Sérvia, que atirou a equipa comandada por Fernando Santos para a disputa do play-off de acesso ao Mundial"2022, e esse foi mais um passo da caminhada daquele recinto rumo ao primeiro lugar da lista de estádios escolhidos pela Federação Portuguesa de Futebol para receber a Seleção Nacional.
Pinto da Costa disse que Portugal teria ganho à Sérvia se o jogo tivesse sido no Dragão e reclamou para o recinto portista o rótulo de estádio-talismã. Mas não. O Dragão é o quarto estádio em percentagem de vitórias
Pelo que se tem visto desde o Euro"2004, torneio que apadrinhou a construção e remodelação de uma série de recintos, é apenas uma questão de tempo até o Estádio da Luz alcançar e ultrapassar o Estádio Nacional como "casa" favorita de Portugal. Incluindo nas contas o Campeonato da Europa realizado em Portugal, basta ver que o Estádio da Luz recebeu mais jogos (24) do que o Estádio do Dragão (11) e o Estádio José Alvalade (12) juntos. O tema fomenta uma variedade de perguntas, desde saber a razão de Portugal jogar mais vezes na Luz do que em outros locais, se o recinto benfiquista é talismã ou se Portugal ganha ou perde mais vezes em determinado local.
Há cerca de uma semana, Pinto da Costa, presidente do FC Porto, referiu que não tinha dúvidas de que Portugal teria ganho à Sérvia se o jogo tivesse sido disputado no Dragão, que apelidou de estádio-talismã. Será mesmo assim? Não é. O JOGO fez a recolha de todos os duelos da Seleção Nacional disputados em casa - o primeiro jogo foi no dia 17 de dezembro de 1922, no Estádio do Lumiar, e Portugal perdeu 1-2 com Espanha - e não foi difícil chegar a uma conclusão. Partindo de uma amostra mínima de dez jogos de Portugal por recinto, o Estádio do Algarve, esse sim, é talismã, pois em 13 partidas a equipa portuguesa nunca lá perdeu, obtendo a mais elevada percentagem de vitórias: 76,9 por cento. O Estádio da Luz surge em segundo lugar em termos de percentagem de triunfos, com 66,7 por cento, e o Dragão aparece em quarto lugar, com 63,6 por cento de vitórias. Curiosamente, foi nestes dois estádios que Portugal perdeu, em dose dupla, com a Grécia em 2004, a abrir e a fechar o torneio.
Algarve: é também o segundo recinto mais utilizado no pós-Euro"2004
Atendendo a que a Federação vai ter de escolher em breve um estádio para o jogo de Portugal com a Turquia (e caso a equipa portuguesa vença, jogará novamente em casa com a Itália ou Macedónia), relativo ao play-off de acesso ao Mundial"2022 a disputar em março, talvez não fosse má ideia levar em conta o número de triunfos obtidos por Portugal no Estádio do Algarve: dez em 13 possíveis, sobrando depois três empates. Aliás, o recinto algarvio é o segundo mais utilizado depois do Euro"2004 e há explicações para tal, desde estar situado numa região menos afetada pelos rigores do inverno e de no verão registar uma mobilização elevada de pessoas em tempo de férias, o que funciona como alavanca para as assistências dos jogos de Portugal.
Não sendo o principal motivo, a escolha preferencial da Luz para receber jogos da Seleção Nacional tem a ver com a capacidade do recinto, que é o que apresenta uma lotação maior, uma questão essencial para puxar pela equipa e, ao mesmo tempo, tentar amedrontar os adversários, sabendo-se que a equipa portuguesa normalmente origina estádios cheios. Mesmo assim, a Luz está longe de ser a casa única da Seleção Nacional, dado que depois do Euro"2004 há registo de 90 jogos disputados por Portugal como anfitrião e o recinto benfiquista surge com uma utilização de 23 por cento. Os restantes jogos foram distribuídos por outros 18 estádios.
Luz: antigo e atual estádio do Benfica já receberam 53 jogos da Seleção
A questão da intensidade do apoio dos adeptos é, naturalmente, subjetiva, porque depende muito do tipo de jogo que está a ser disputado, do adversário e do que está em causa, ainda que, como diz Fernando Meira aqui ao lado, se sinta uma adesão mais efervescente dos adeptos quando a Seleção Nacional atua no Norte. Só que isso não é garantia de sucesso e há uma prova concludente. Em sete jogos de Portugal disputados no Estádio D. Afonso Henriques, em Guimarães, há registo de duas vitórias, dois empates e três derrotas, ou seja, a percentagem de sucesso é muito baixa: 28,5 por cento. No sentido inverso, o Estádio do Bonfim apresenta igualmente uma taxa de sucesso elevadíssima, com 83 por cento de vitórias e ausência de derrotas, embora o número de jogos não seja muito representativo (seis). O Estádio do Restelo está num quadro parecido: sete jogos, cinco vitórias e dois empates, o que dá uma percentagem de êxito de 71,4 por cento.
Agora é esperar por março (dia 24 ou 25) para se perceber em que estádio vai a Seleção Nacional jogar o play-off de acesso ao Mundial do Catar e se daí poderão ser retiradas mais algumas conclusões sobre se, de facto, existe um recinto-talismã.